Myra Hindley & Ian Brady

21/03/2024

Será que alguém é capaz de cometer crimes horrendos apenas por estar sob a influência de outra pessoa? Não será justo afirmar que, se alguém o fizer, é porque a maldade também vive dentro de si? O que um não quer, dois não fazem.

Esta é a história de duas pessoas que, para infortúnio de muitos, cruzaram os seus caminhos. Onde a malvadez de cada um explodiu junta, causando dor, sofrimento, tristeza, amargura. Esta é a história de várias crianças que perderam a vida às mãos de dois malfeitores.


Edward Evans, Keith Bennett, Pauline Reade, John Kildride, Lesley Downey
Edward Evans, Keith Bennett, Pauline Reade, John Kildride, Lesley Downey


PARTE 1 - MYRA HINDLEY

Myra Hindley nasceu no dia 23 de Julho de 1942 de Nellie e Bob Hindley, em Crumpsall, um subúrbio de Manchester marcado pelas favelas existentes.

Nellie tinha apenas 22 anos quando Myra nasceu e, sendo que Bob se encontrava a combater na Segunda Guerra Mundial, não pôde estar presente nos primeiros 3 anos de vida da criança.

Myra viveu com a sua Mãe e com a sua Avó materna, Ellen, durante os primeiros três anos e, quando Bob regressou da guerra, Ellen saiu de casa, mudando-se para umas casas abaixo da do casal.

Bob, que tinha servido como paraquedista no Norte de África, era agora um simples servente. Traumatizado pelos episódios da II GM, começou a beber pesadamente e a descarregar os seus traumas na esposa. Mas Nellie raramente se ficava, respondendo com as mesmas agressões físicas com que era atacada. Foi Ellen que, muitas vezes, separou o casal dos seus combates físicos.

No dia 21 de Agosto de 1946, nasceu a irmã mais nova de Myra, Maureen. Foi nesta data que Myra foi viver para casa da sua Avó. Esta decisão deixou a menina, de apenas 4 anos, feliz. Desta forma, não tinha que assistir às constantes guerras entre os seus Pais e Ellen tratava bem dela, fazendo-lhe muitas das suas vontades.

Bob Hindley, Pai de Myra
Bob Hindley, Pai de Myra
Maureen e Myra Hindley
Maureen e Myra Hindley

Aos 5 anos, começou a frequentar a Escola Primária de Peacock Street, a apenas 3 minutos da sua casa. Foi por esta altura que Bob ensinou a sua Filha a defender-se dos meninos maus da sua idade.

Tal como Nellie, Myra aprendeu a responder a qualquer ataque. Quando foi maltratada por um menino na escola, Myra defendeu-se ganhando a batalha contra o seu provocador. Foi então que, pela primeira vez, viu o orgulho nos olhos do seu Pai que tanto almejava.

Estava a crescer num meio pobre, de trabalhadores fabris que casavam, tinham filhos e se esforçavam para conseguir sobreviver. Basicamente, eram estas as aspirações das meninas que cresciam naquele ambiente.

Myra parecia integrar-se na totalidade. Apesar dos problemas em casa, estava a tornar-se numa jovem respeitada, fazendo várias vezes de ama para os seus vizinhos e popular, tanto entre os adultos, como entre as crianças.

Devido às suas capacidade de defesa ensinadas por Bob, Myra tornou-se numa defensora dos mais fracos. Ganhava a quem se metesse com ela, com os seus amigos, com Maureen e com qualquer outra criança que estivesse a ser acossada por mais velhos ou mais fortes.

A vida de Myra corria-lhe bem. Tinha o seu pequeno grupo de amigos, tinha boas notas, conseguia ganhar algum dinheiro através das horas que fazia a tomar conta de crianças e era respeitada entre os seus pares. Talvez mais receada do que propriamente respeitada.

Aos 15 anos, perdeu um dos seus poucos amigos, Michael Higgins, que tinha ido nadar para um lago onde acabou por se afogar.

Pouco depois deste episódio e apesar de ser uma aluna promissora, Myra acabou por desistir da escola. Depressa arranjou um trabalho e, com a mesma rapidez, arranjou problemas.

Após receber o seu primeiro pagamento, foi ter com os colegas a chorar alegando ter perdido o cheque. Todos gostavam da nova rapariga e, portanto, juntaram-se, cada um com um valor, e perfizeram o ordenado da pobre Myra.

Porém, quando aconteceu pela segunda vez, todos consideraram que Myra não passava de uma mentirosa a tentar aproveitar-se da boa-vontade dos seus colegas.

Myra não conseguia fazer muitos amigos mas nunca teve dificuldade em arranjar namorados. Aos 18 anos, o seu namorado da altura, propô-la em casamento e Myra depressa aceitou. Contudo, foi convencida pela sua Mãe que era demasiado cedo, que primeiro tinha que viver a sua vida sem os compromissos de um casamento e posteriormente de filhos. Myra assentiu e depressa começou a ressentir o formato da vida daquelas pessoas com quem tinha crescido. Escola, casamento, trabalho, filhos, uma vida de escravidão. Não era isso que queria para si.

Em Dezembro de 1960, Myra arranjou emprego na empresa Millwards Merchandising, onde conheceu um tesoureiro que rapidamente lhe chamou a atenção.

Este encontro iria mudar não só as suas vidas como a de tantas outras pessoas.


PARTE 2 - IAN BRADY

Ian Brady nasceu de uma Mãe solteira no dia 2 de Janeiro de 1938, em Glasgow, Escócia.

Inicialmente foi registado como Ian Duncan Stewart. Nunca soube ao certo a identidade do seu Pai mas a Mãe, Margaret Stewart, sempre afirmou tratar-se de um jornalista que tinha falecido 3 meses antes do bebé nascer.

Margaret, de 28 anos, arrendava um simples quarto para ela e o seu bebé mas, devido a não conseguir arranjar trabalho a tempo inteiro por não ter com quem deixar o seu Filho, viu-se obrigada a dar Ian para adopção quando este tinha apenas 4 meses.

Colocou um anúncio na janela de uma loja onde anunciava dar 1 libra por semana a quem quisesse criar o seu menino. Eventualmente, Ian foi levado por Mary e John Sloan, um casal que já tinha 4 Filhos e que não se encontrava numa situação financeira muito melhor que a de Margaret. No entanto eram um casal amoroso que, com árduo trabalho e dedicação, conseguiu criar os seus 5 filhos de forma digna.

A sua Mãe biológica, nunca perdeu o contacto com o menino, visitando-o semanalmente, no entanto, na altura, Ian não sabia tratar-se da sua Mãe biológica.

Apesar de existirem vários autores a indicar o contrário, a maior parte das fontes, sublinha o facto de Ian ter crescido como um bom aluno, bom Filho e bom menino. Nada no seu comportamento antevia o monstro no qual iria tornar-se.

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, o País atravessava uma crise a vários níveis, mas deram prioridade à segurança dos seus cidadãos, tomando medidas para acabar com as favelas e facultando residências sociais aos moradores desses locais. ​Tinham o objectivo de criar 50 mil habitações por ano.

Em 1947, a Família Sloan foi deslocada para Pollock, para um apartamento com 3 quartos, jardim exterior e um rio bastante perto das instalações.

Os cinco filhos do casal ficaram extasiados, principalmente Ian que pouco conhecia da natureza.​

Foi apenas aos 12 anos que Ian soube que Margaret era a sua Mãe biológica. Por esta altura, Margaret casou com um Irlandês, Patrick Brady e mudou-se para Manchester deixando de poder visitar Ian, contudo, mantiveram sempre o contacto por correspondência.​

Não se sabe ao certo como Ian reagiu a esta notícia, porém, até ao resto dos seus dias, Ian sempre defendeu Margaret e, principalmente, os Pais que o criaram, Mary e John Sloan. Alegou sempre o facto de ter tido uma infância muito feliz no seio daquela Família.

A Shoreline Academy, essencialmente para Filhos de Família abastadas, mudou o rumo das suas prioridades, sendo que Ian conseguiu ingressar nesta prestigiada Escola. Apesar de ser o novo aluno, ainda por cima pobre, o rapaz rapidamente se inteirou com os colegas. Aliás, Ian não só se inteirou como se fez um líder entre os pares. Era obcecado pelo nazismo, pelas suas doutrinas e tinha um respeito imenso por Adolf Hitler, apesar de todas as suas atrocidades.

Aos 13 anos, Ian e o seu grupo de amigos começaram a fazer pequenos assaltos a lojas locais mas, quando escalaram para residências, foram apanhados. Em 1951, foram presentes a tribunal. Não tinham antecedentes, eram bons alunos e vinham de Famílias estáveis, por isso, foram mandados para casa em condicional. Ian voltou a tribunal apenas um ano depois pelos mesmos motivos mas, mais uma vez, foi mandado para casa com um segundo aviso.​

Após um incidente na Escola, Ian soube através dos colegas quem o tinha denunciado à administração. Foi quando cometeu a sua primeira agressão. Confinou o colega nos balneários, espancou-o e abusou dele sexualmente.

Não existem registos de queixas acerca deste episódio e o sentimento de Ian de superioridade, de almejar o controlo sobre os outros, cresceu exponencialmente.

Pouco depois desta situação, aos 15 anos, Ian acabou por abandonar os estudos. Teve vários trabalhos mas nenhum deles o desafiava verdadeiramente. Considerava-se demasiado importante e inteligente para empregos mundanos. Precisava de mais.

Aos 16 anos voltou a ser apanhado a assaltar mas, desta vez, o Tribunal deportou-o para Manchester para viver com a sua Mãe e Padrasto.

Apesar de não ver Margaret há anos, sempre tinham mantido o contacto e o amor entre eles não tinha arrefecido. Patrick, que não conhecia Ian, recebeu-o de braços abertos e o jovem depressa se afeiçoou ao seu padrasto. Os três adaptaram-se rapidamente à nova dinâmica familiar e Ian apreciava tanto a sua nova vida que acabou por adoptar o apelido do Padrasto, mudando o seu nome de Ian Stewart para Ian Brady.

Visitava frequentemente os seus Pais, Mary e John que nunca deixou de amar e respeitar mas, apesar de aparentemente estar a endireitar o seus passos, Ian voltou a cometer um erro. Voltou a ser apanhado a roubar e, em Dezembro de 1955, foi sentenciado a 2 anos na Instituição Latchmere House, um centro correccional para criminosos com menos de 23 anos.

Em Dezembro do ano seguinte foi transferido para uma prisão em Yorkshire, onde teve formação em contabilidade.

Após cumprir a pena, Ian regressou a casa da Mãe e Padrasto, sossegando os seus ímpetos criminosos. Passou bastante tempo na biblioteca local onde devorou livros que o inspiraram a criar a sua própria doutrina. Durante anos, fez uma vida normal, sempre respeitando Margaret e Patrick e não se envolvendo em sarilhos.

Eventualmente, arranjou trabalho na Millwards Merchandising, no departamento de contabilidade. Mantinha o mínimo contacto com os colegas, preferindo sempre passar as suas pausas ou hora de almoço na cafetaria sozinho enquanto se embrenhava nos seus livros.

Foi quando uma loira vistosa o viu sentado a ler, durante a hora de almoço, que o seu Mundo mudou para sempre.

PARTE 3 - OS CRIMES

Para Myra foi amor à primeira vista mas Ian, sempre concentrado nos seus livros, nem deu conta da presença da rapariga. Talvez por isso, Myra tivesse ficado com o interesse tão aguçado. Tinha agora o seu cabelo pintado de loiro, usava maquilhagem ostensiva e roupas para nunca passar despercebida. Mas, ainda assim, ali estava um rapaz que nem sequer dava conta da sua presença.

Durante um ano a jovem concentrou-se em chamar a atenção de Ian e em conquistar o seu coração. Sabiamente, conseguiu chamar a atenção do rapaz quando se pôs a ler livros, na cafetaria, que sabia serem da sua preferência. Foi então que Ian e Myra começaram realmente a conversar para além das palavras ocas trocadas entre colegas.

Foi em 1961 que Myra apresentou o jovem aos seus Pais. Bob gostou imediatamente de Ian mas Nellie tinha as suas reservas, vendo no jovem uma personalidade dominadora tal como a do seu marido.

Durante muito tempo, o casal teve uma relação normal. Claro que Myra fazia questão de concordar com as ideias do seu namorado, ainda que, no fundo, não fossem as suas. Tinha tido tanto trabalho para o conquistar e agora que namoravam, queria ficar com ele para o resto dos seus dias.

Ian era 4 anos mais velho que Myra, um jovem maduro, bem vestido e com as mãos sempre limpas ao contrário dos homens com quem tinha crescido. Myra começou a mudar o seu estilo para agradar ao seu homem. Começou a vestir roupas mais maduras, a ter mais cuidado com o seu físico e com a sua aparência.

O casal ia ao cinema, depois de Ian comprar uma mota passeavam pela cidade, jantavam foram, liam livros em simultâneo, passavam horas na biblioteca. O jovem começou a partilhar as suas crenças baseadas na doutrina nazista e nas suas aspirações de cometer o crime perfeito. Myra continuava a fazer de tudo para o agradar, consentindo com todas as suas ideias e até, ao contrário do que queria até então, perdendo a virgindade antes do casamento com Ian Brady.

Em Junho de 1963, Ian mudou-se para casa de Ellen, a Avó de Myra, passando a viver com as duas.

O casal estava cada vez mais unido, cada vez mais coeso e foi então que Ian desafiou a sua companheira a cometer o primeiro crime. Já tinha esse desejo há longos anos mas tinha que o partilhar com alguém.

Qual era o intuito de matar uma pessoa e nunca ser apanhado se não podia partilhar esse sentimento de vitória com ninguém?

Inspirados no livro acerca do assassinato cometido por Leopold e Loeb, em 1924, o casal ensaiou os seus actos durante meses.

Finalmente, no dia 12 de Julho de 1963, decidiram avançar com o planeado.

Myra seguia numa carrinha emprestada por um vizinho, apesar de não ter carta de condução e Ian seguia atrás dela na sua mota. Seria Myra a raptar a criança. Era mais confiável uma rapariga de 21 anos do que um homem de 25, para atrair a vítima. Assim que Ian avistasse a presa, faria sinais de luzes a Myra e esta entrava em acção.

Ian avistou uma menina mas Myra não reagiu aos seus sinais de luzes. Tratava-se de uma vizinha dos seus Pais de apenas 8 anos e Myra hesitou ser responsável pelo assassinato daquela menina. Minutos mais tarde, avistaram uma jovem de 16 anos e selaram rapidamente o seu destino.

PAULINE READE - VÍTIMA 1

Pauline Reade tinha-se preparado para ir a um baile com as suas amigas. No entanto, quando os Pais das suas companheiras souberem que a festa ia ter bebidas alcoólicas, proibiram as jovens de comparecer ao baile. Mas Pauline insistiu tanto com os seus Pais que, apesar dos seus receios, acabaram por deixar a jovem ir.

Pauline conhecia Myra da escola, tendo sido da mesma turma que Maureen. Myra encontrou-a sozinha, a caminho do baile e, prontamente, se ofereceu para lhe dar boleia. Tratando-se de uma pessoa conhecida e, supostamente confiável, a jovem consentiu entrando para a viatura.

Mas Myra inventou uma história de ter perdido uma luva algures e que, antes de a deixar no baile, tinha que passar pelo local onde a tinha perdido. Quando Ian chegou ao local, Pauline mostrou-se surpresa, mas este logo informou que também ele estava ali para procurar uma simples luva.

De acordo com Myra, esta não estava presente enquanto Pauline era severamente violentada, espancada, torturada e, por fim, assassinada com 2 golpes na garganta. Manteve-se dentro da carrinha enquanto viu Ian e Pauline a afastarem-se. Porém, Ian mais tarde veio a declarar que Myra estava presente, tendo também ela participado nas acções contra Pauline.

A jovem foi colocada numa cova feita pelo casal que, depois, foi disfarçada com ervas e folhas da área, em Saddleworth Moor.

Nas horas seguintes, Myra e Ian queimaram as roupas que estavam a usar naquela noite e limparam a carrinha para eliminar quaisquer provas forenses. No dia seguinte, dirigiram-se a um lago onde largaram a faca que tinham usado no assassinato de Pauline.

Pouco depois da meia-noite, quando a Mãe de Pauline, Joan, verificou que a jovem ainda não tinha regressado, foi com o seu Filho, Paul, ao local do Baile. Depois de horas de procura pela jovem, finalmente, contactaram a Polícia a reportar o seu desaparecimento.

Não havia pistas, testemunhas, nem nada que pudesse indicar um caminho para a Polícia seguir. O caso ficou sem solução e o seu corpo foi descoberto 24 anos depois, em 1987.

Paul Reade sempre teve o sentimento que a sua irmã tinha sido assassinada mas Joan prosseguiu com a sua fé até entrar numa espiral de depressão e, eventualmente, ter que ser institucionalizada no Hospital Psiquiátrico de Springfield.

No dia seguinte ao homicídio de Pauline, o casal foi ao cinema assistir ao filme Commando, combinando que, aquela banda sonora, seria o marco do seu primeiro assassinato. Assim, cada vez que ouvissem a música podiam partilhar lembranças que só eles sabiam o significado.

The Legion's Last Patrol: https://www.youtube.com/watch?v=439FTpfIl8Y

No dia 23 de Julho de 1963, Myra celebrou o seu 21º aniversário. O seu vizinho que, habitualmente, lhe emprestava a carrinha, ofereceu-a a Myra como prenda de anos.

O casal pintou o interior da viatura de branco para poder reconhecer melhor as pistas forenses a olho nu.

Pouco depois desta data, o casal visitou a Escócia que Ian tanto apreciava.
Para que a viatura de Myra ficasse segura durante a sua ausência, a jovem decidiu estacioná-la junto a uma esquadra da Polícia. Depois, pediu a um dos Agentes, Norman, que vigiasse a carrinha por alguns dias.

Quando regressarem a casa, poucos dias depois, um Agente da Polícia bateu-lhes à porta. Por segundos, o coração de Myra quase saltou do seu peito. Porém, a visita daquele homem nada tinha que ver com o desaparecimento de Pauline. Era o mesmo agente, Norman, que tinha ficado a vigiar a carrinha da jovem durante a sua viagem à Escócia e que tinha interesse em comprar-lhe a viatura.

Myra sentiu-se imediatamente atraída pelo Polícia e ambos iniciaram uma relação amorosa nas costas de Ian. Myra estava tão enfeitiçada pelo homem que chegou mesmo a preencher a sua inscrição para ingressar nas Forças Policiais.

Ian, porém, regozijava-se com a situação. Um Polícia que queria comprar a carrinha usada no rapto da pobre Pauline e uma assassina a querer associar-se às autoridades. Era uma boa ideia. Sempre podia manipular as investigações.

Contudo, Ian acabou por descobrir as traições da sua namorada. Manteve-se ao lado de Myra na mesma mas acabou-lhe com as aspirações de entrar na Academia da Polícia.

Em Novembro de 1963, quatro meses passados do desaparecimento de Pauline, Ian sentia-se novamente confortável para a sua próxima presa. Myra não estava tão confortável com a ideia mas amava aquele homem e, depois da sua traição, era altura de lhe provar o seu amor.

Depois de chumbar 3 vezes para conseguir a carta de condução, finalmente, Myra tinha conseguido obter a licença. Tendo vendido a carrinha a Norman e, estando na altura sem carro, decidiu alugar um Ford. Assim que entraram no carro, Ian colocou uma cassete que havia de ficar marcada como a banda sonora das memórias do segundo homicídio do casal.

Gene Pitney, 24 Hours From Tulsa: https://www.youtube.com/watch?v=zugy2rkSM7g

JOHN KILBRIDE - VÍTIMA 2

No dia 23 de Novembro 1963, o casal avistou John Kilbride, de 12 anos, em Ashton-under-Lyne.

John era o mais velho de 7 irmãos, Filho de Patrick e Sheila Kilbride. Era conhecido por toda a vizinhança pelo seu sorriso rasgado e por passear nas ruas sempre a assobiar ou a cantar. Deixava sempre um sorriso a quem se cruzava com ele.

Naquele sábado, tal como tantas outras vezes, John foi às compras e entregou-as na casa da sua avó velhinha e doente. Depois encontrou-se com mais 3 amigos para irem ao cinema. Quando o filme acabou, pelas 17h00, todos se dirigiram ao mercado local para fazerem algum dinheiro a ajudar os vendedores.

Assim que chegaram, os quatro rapazes separaram-se, sendo que John foi visto pela última vez por volta das 17h30.

Ian e Myra entraram no mesmo mercado com a esperança de encontrarem uma criança e conseguirem persuadi-la até ao carro sem serem notados no meio da multidão.

Myra colocou uma peruca preta e um lenço na cabeça e dirigiu-se a John que se encontrava sozinho, sentado num muro a comer bolachas. Myra meteu conversa com o rapazinho, dizendo-lhe que também ela tinha filhos da sua idade e que ficaria preocupada se, àquela hora, os seus Filhos ainda andassem na rua.

Apresentou Ian como sendo seu marido e o casal ofereceu boleia a John até casa. John aceitou e, sem desconfiar, selou o seu destino.

A história foi a mesma usada com Pauline. Uma luva que tinha perdido num sítio remoto, que tinha que a ir procurar pois tinha valor sentimental. John ficou visivelmente nervoso mas obedeceu. Foi levado para Moors onde foi violado e assassinado.

Uma vez mais as histórias do casal diferiram. Ian insistiu que Myra participou no ataque e Myra alegou ter ficado dentro do carro.

O rapaz foi posteriormente enterrado junto a um pequeno riacho e ali permaneceu por cerca de 2 anos.

O casal foi para casa e, mais uma vez, queimou as roupas que usavam nesse dia. Queimaram também um sapato que tinha caído de um pé do pequeno John.

Enquanto isto, a Família Kilbride estava a entrar em pânico por John ainda não ter regressado. Foram ao cinema mas não o encontraram. Bateram às portas da vizinhança na esperança que estivesse por ali mas ninguém tinha visto o pequeno John nas últimas horas.

A cidade não tinha precedentes de uma investigação e de buscas tão alargadas como as efectuadas pelo paradeiro de John Kilbride. Eventualmente, foi o seu Pai que se tornou o principal suspeito pelo desaparecimento do seu primogénito mas, sem quaisquer pistas concretas ou provas, a investigação arrefeceu.

KEITH BENNET - VÍTIMA 3

Em Junho de 1964, Myra aceitou mais uma banda sonora de Ian, sabendo exactamente o que isso queria dizer. Prontos para voltar a matar.

Roy Orbinson, It's Over: https://www.youtube.com/watch?v=h9JArvEJ64M

No dia 16 de Junho de 1964, foi a vez de Keith Bennett, de 12 anos, ser apanhado nas teias destes assassinos.

O menino morava com a sua Mãe Winnie Johnson, com o Padrasto e com os seus 5 irmãos mais novos. Tinha sempre Margaret, a sua irmã mais nova de apenas 3 anos, como sombra. A bebé seguia o mano para todo o lado e Keith, ainda que por vezes quisesse ficar sozinho, nunca perdia a paciência com a menina.

Naquele dia, as crianças iam passar a noite em casa da Avó na Rua Morton, a poucos quarteirões da casa da Família. Todas as crianças já se encontravam na casa com excepção de Keith.

Foi Winnie, a sua Mãe, que o levou pela estrada para deixar a criança em segurança na casa da Avó. Quando Keith avistou amigos da escola, correu para eles e ficou a conversar com os seus colegas. Estava tão perto do seu destino. Winnie estava no último mês da sua sexta gravidez e não conseguiu acompanhar mais o rapazinho. Gritou-lhe do fundo do caminho para que se despachasse, para que tivesse cuidado e para que fosse ter com os seus irmãos. Foi a última vez que esta Mãe viu o seu primeiro Filho.

Keith falou com os amigos durante algum tempo e seguiu o seu percurso. Foi então interrompido por uma mulher a pedir-lhe ajuda para colocar umas caixas no porta-bagagens do seu carro. Keith pareceu confuso. Estava um adulto sentado no banco traseiro. Não era mais óbvio ser ele a fazer o trabalho pesado? Ainda assim, o menino consentiu. Foi iludido com a história da luva e, como bom menino, Keith aceitou ajudar a pobre senhora. O seu fim foi semelhante ao de Pauline e John na zona Moor.

A Avó de Keith, com a sua ausência, assumiu que a criança tivesse decidido ficar por casa e Winnie assumiu que Keith tinha chegado em segurança ao destino.

Só na manhã seguinte, quando a Mãe das crianças os foi buscar, é que deram conta que Keith se encontrava desaparecido.

Eventualmente, também o Padrasto de Keith, Jimmy Johnson, foi considerado o principal suspeito pelo desaparecimento do menino. A casa da família foi virada do avesso, as tábuas do chão foram arrancadas, o quintal todo revistado mas, obviamente, nunca encontraram nada de suspeito. O caso arrefeceu.

Winnie Johnson e Shelley Kilbride, apesar de não saberem que os casos dos desaparecimentos dos seus Filhos estavam directamente ligados, apoiaram-se mutuamente. Eram duas Mães em sofrimento por não saberem do paradeiro dos seus meninos.

Em relação aos homicídios até então perpetrados, o casal voltou aos locais onde tinham sepultado as suas vítimas para que Ian pudesse reviver os crimes. No entanto, em relação a Keith, Ian tirou fotos do menino já morto, antes de ser sepultado.

O casal, inclusivamente tirou várias fotos suas nos locais das campas rasas. Só eles sabiam o significado daquelas fotos. Só eles sabiam os actos que tinham praticado. Só eles sabiam o paradeiro daquelas crianças.

Enquanto o casal se unia através das suas maldades e se escondia à vista de todos, o Mundo continuava a acontecer ao seu redor.

DAVITH SMITH

No dia 15 de Agosto de 1964, Maureen, a irmã mais nova de Myra, casou com David Smith. Este homem veio a tornar-se numa peça fundamental para o desenlace da história de Ian e Myra. Ainda assim, existe quem acredite que Smith não estava tão inocente como se fez parecer.

David Smith nasceu no dia 9 de Janeiro de 1948, filho de uma adolescente chamada Joyce Hull que desapareceu da vida do seu Filho assim que o bebé nasceu.

David ficou com os seus Avós Paternos, Annie e John Smith considerando tratarem-se dos seus Pais. Só mais tarde, soube que Annie e John eram os seus Avós e foi-lhe dito que a sua Mãe tinha morrido. Já o seu Pai, um facto, viajava constantemente nunca podendo estar presente na sua vida.

O seu Avô ganhava a vida a jogar, portanto, a Família tanto tinha dinheiro em excesso como passava por algumas dificuldades, consoante a sorte de John. Ainda assim, conseguiam viver confortavelmente.

O Pai de David, também ele chamado John Smith, eventualmente, voltou à vida do rapaz mas, tão depressa veio para o acarinhar e presentear com brinquedos, como depressa voltou a desaparecer. Uma desilusão para o menino mas, apesar de tudo, tinha sempre Annie e o Avô John.

O pequeno David era extremamente chegado a Annie ao ponto de dormirem juntos, num quarto separado de John. No entanto, esta intimidade tinha os dias contados. Quando tinha 7 anos, David apercebeu-se ter as refeições escolares gratuitas ao contrário da maior parte dos seus colegas. Quando indagou a sua Avó da razão daquilo, pois sabia que a Família não tinha grandes dificuldades financeiras, Annie disse-lhe a verdade. Apesar de terem adoptado David formalmente, ele continuava a ser Filho de Joyce, uma jovem solteira e sem grandes rendimentos. O Estado apoiava então esta Mãe, facultando as refeições gratuitas ao menino.
Afinal, a sua Mãe não tinha morrido!
O choque desta notícia para o menino de 7 anos, fê-lo transformar toda a sua perspectiva em relação às pessoas em quem confiava. De "Mãe" passou a tratar Annie por "Sra. Smith".

Não tardou para que John, o Pai de David, viesse buscá-lo. David estava no quarto a dormir quando John o arrancou do seu conforto. Consigo levou apenas o que tinha na altura. O pijama vestido e uma girafa de peluche com a qual costumava dormir.

Apesar de tudo, apesar do seu ressentimento em relação aos seus Avós, com certeza que se tratava de algo momentâneo. Aquela era a sua casa, o seu lar e Annie e John eram os seus Pais, apesar de serem Avós. Tinham sido eles a acolhê-lo, a criá-lo e a amá-lo até então.

Obviamente que o comportamento de David, a partir daquele momento, mudou drasticamente. Tinha sido arrancado do conforto do seu lar para viver com um homem que mal conhecia, num sítio estranho, sujo, escuro e frio.

Num dia em que discutiu com o seu Pai acerca da pocilga onde viviam, John bateu-lhe com uma corrente mas David respondeu. Eventualmente, após este episódio, David foi colocado na Escola Stanley Grove, muito mais rígida que a sua escola anterior. Acabou por adoptar o estilo de James Dean, de badboy, e quebrava constantemente as regras da escola. Quando chamado à administração acerca das suas indumentárias, esmurrou o Director, o que lhe facultou uma fama ainda maior de mauzão.

David Smith era conhecido de Pauline Reade, a primeira vítima de Ian e Myra. Aliás, viviam perto um do outro e até se tinham beijado algumas vezes. Apesar da relação não ter avançado, mantiveram-se amigos.

Na altura do desaparecimento da jovem, David foi questionado pelas Autoridades mas alegou não ter conhecimento de nada. Na verdade, em Julho de 1963, altura em que Pauline desvaneceu, David já estava envolvido com Maureen.

Em Março de 1964, quando Maureen o informou estar grávida, David Smith fez o expectável da altura, pedindo-a em casamento. A rapariga mudou-se de imediato para a casa de John e David mas, na altura do seu casamento, ninguém da sua Família atendeu ao certame, nem sequer Myra, a sua irmã e melhor amiga.

David tinha apenas 16 anos e Maureen 18, grávida de 7 meses. Ao chegarem a casa nesse dia, tinham Ian e Myra à sua espera. Levaram os recém-casados para a casa de Ellen onde ambos moravam e ali ficaram durante horas à conversa.

No dia seguinte, os 2 casais tinham novamente planos. Passearam durante o dia e, à noite, voltaram para a casa da Avó das raparigas. Tinham sempre vinho à descrição e as conversas eram constantemente desafiadoras, principalmente para David, 10 anos mais novo que Ian.

Depois de Maureen decidir ficar ali a dormir e Myra acompanhar a irmã, David e Ian continuaram as suas longas e profundas conversas. Obviamente que David tinha dificuldades em acompanhar a literacia do seu Cunhado, mas David fazia um esforço para o compreender e para lhe fazer companhia, da forma mais digna que conseguia.

No Outono desse mesmo ano, Ellen, Myra e Ian mudaram-se para Hattersley.

Aqui fizeram várias amizades com as crianças do bairro que adoravam passear com Myra e Ian, principalmente, devido o seu amor por animais. O casal levava as crianças para passear na zona de Moor, levavam os seus cães e pareciam ter sempre tempo e paciência para cuidar daqueles meninos.

Em Outubro desse ano, Maureen deu à luz a primeira filha do casal, Angela e David iniciou outro trabalho para conseguir sustentar a sua jovem Família.

No Natal de 1964, Myra recebeu do seu namorado uma nova banda sonora e Ian recebeu um gravador.

Sandie Shaw, Girl Don't Come: https://www.youtube.com/watch?v=E5KlbWJOf-o

Desta vez, os seus planos eram diferentes. Não iam matar a criança na zona Moor. Iam trazê-la para casa onde iam abusar da vítima enquanto gravavam os seus suplícios, a sua dor, o seu terror.

No dia 26 de Dezembro de 1964, enquanto Ian preparava o quarto como cenário para os seus próximos actos, Myra levou Ellen para casa de um Tio. Tinham até às 21h00, hora em que Ellen regressaria a casa, portanto, tinham que se despachar.


LESLEY ANN DOWNEY - Vítima 4

​​Lesley Ann Downey, de 10 anos, vivia com sua Mãe, Anna Downey, com o namorado da Mãe, Alan West e com os seus 3 Irmãos.

Terry, o mais velho, na altura com 12 anos, tinha prometido levar os irmãos à feira naquele dia mas tinha acordado tão doente que não conseguiu cumprir o prometido. Lesley e Tommy, o seu irmão de 8 anos, estavam tão ansiosos para andar de carrossel que Ann pediu-lhes que chamassem a sua vizinha e que, com certeza, ela faria o favor de os acompanhar à feira. As crianças assim fizeram mas também a vizinha estava gripada e Lesley e Tommy, sem o conhecimento da Mãe, decidiram ir sozinhos.

O par fez-se ao caminho e passaram um bom bocado na feira mas, quando se viram sem dinheiro para continuar, decidiram voltar para casa. Já estavam a meio caminho do regresso a casa, quando Lesley tomou a decisão que acabaria com a sua vida naquele mesmo dia. Voltou para a feira deixando Tommy seguir sozinho.

Lesley foi abordada por Myra e Ian que lhe pediram ajuda para carregar os sacos de compras para o carro. A menina assentiu e, assim que conseguiram pôr tudo na viatura, o casal fez-lhe mais um pedido. talvez pudesse ajudá-los a colocar as compras em casa? Assim que o fizesse, Myra dava-lhe boleia até à sua residência. A menina confiou, entrando para o banco de trás do carro do casal.

Assim que entraram na casa em Hattersley, Ian foi imediatamente para o andar de cima, colocando o gravador no record. Lesley subiu as escadas atrás de Ian carregada de compras de supermercado e, assim que entrou no quarto, foi agarrada com violência.

Na gravação, de cerca de 16 minutos, podia ouvir-se a pequena Lesley a pedir que a deixassem ir embora, queria ir ter com a Mãe, não conseguia respirar. A menina suplicava por misericórdia mas os seus pedidos não foram atendidos.

Desta vez, não existiam a versão de Ian e a versão de Myra em relação ao sucedido. Estava gravado e ambos tinham participado na tortura e morte de Lesley.

Colocaram o corpo da menina inanimada no porta-bagagens do carro para o enterrarem em Saddleworth Moor, nesse mesmo dia, mas estava a nevar bastante. Na altura, as estradas estavam cheias de gelo e decidiram voltar para trás. No regresso, avisaram Ellen que não podiam ir buscá-la, as estradas estavam demasiado perigosas e não queriam arriscar.

Foi apenas na manhã seguinte que Lesley foi enterrada numa cova rasa, perto das outras vítimas daquele vil casal. No retorno, Ian e Myra foram buscar Ellen e a vida de todos continuou como se nada se tivesse passado.​

A Família Downey, no entanto, estava em pânico. ​​Só q​​uando Tommy chegou a casa é que Anna se deu conta que as crianças tinham ido sozinhas para a feira. Tommy contou o sucedido e, de imediato, Ann teve um aperto no coração. ​Procuraram a menina por todo o lado mas não havia sinais de Lesley. A Polícia foi informada e, mais uma vez, fizeram-se buscas, interrogatórios, tudo o que podiam ter feito mas não havia testemunhas, nenhuma informação que pudesse ajudar a encontrar a menina.

Em Abril de 1965, Myra e Ian trocaram novamente de carro para se verem livres de quaisquer pistas forenses que eventualmente pudessem ter ficado para trás.

Foi também durante este mês que a Família foi atingida pela tragédia. Angela, com apenas 6 meses, Filha de Maureen e David, sucumbiu a uma bronquite no dia 25 de Abril de 1965. A Família ficou naturalmente devastada, com excepção de Ian e Myra. Myra, nesse mesmo dia, até aconselhou a irmã a deixar de chorar e a adoptar um cão.

David e Maureen, eventualmente, mudaram de casa para perto de Ian e Myra e os casais começaram a passar mais tempo juntos. Ian e David estavam cada vez mais unidos. Depois de perder uma Filha, depois de ter sentido aquela dor, a perspectiva de David acerca do Mundo também tinha mudado e agora compreendia a maior parte dos discursos do Cunhado e o conteúdo dos livros que Ian lhe emprestava.

Ian sentiu a ligação entre os dois e, tal como tinha feito com Myra, tinha que testar a lealdade de David. Contudo, não podia começar logo a falar de assassinatos. As conversas tinham que ser graduais, tinha que ir escalando devagar para não assustar o seu possível próximo aliado.

Começou por lhe perguntar se estava disposto a assaltar um banco e, como David precisava do dinheiro, assentiu de imediato. Os homens planearam durante meses mas nunca chegaram a concretizar o assalto. Aliás, nunca tinha sido intenção de Ian assaltar o que quer que fosse. Esses dias faziam parte do seu passado. As suas jogadas agora eram maiores, de maior adrenalina, mais graves, mais arriscadas.

EDWARD EVANS - VÍTIMA 5

No dia 6 de Outubro de 1965, Ian presenteou Myra com uma nova música.

O ritual continuava entre os dois.

Joan Baez, It's Over Now Baby Blue: https://www.youtube.com/watch?v=6RrdtrT6ukM

Nesse mesmo dia dirigiram-se à Estação de Manchester onde Ian encontrou Edward Evans, um jovem de 17 anos. Edward tinha estado a aguardar por um amigo mas sendo que este não chegou ao bar à hora marcada, Edward seguiu caminho sozinho.

Quando Ian o reconheceu de alguns bares gay locais, meteu conversa, convidando-o para um copo em sua casa. O jovem aceitou, entrando no carro do casal onde se encontrava Myra à espera da próxima presa. Foi-lhe apresentada como sendo irmã de Ian e os 3 seguiram caminho para a residência no nr. 16 da Av. Wardle Brook em Hattersley.

O que se passou a seguir varia consoante o testemunho, existindo 3 versões diferentes: a de Myra, a de Ian e a de David Smith, sendo esta última a mais provável.

Quando Edward, Ian e Myra chegaram a casa, sentaram-se na sala de estar a beber um copo de vinho, enquanto Ellen dormia no piso de cima. Myra decidiu ir a casa de Maureen e David para dar um recado à sua Irmã. Maureen já estava deitada quando lhe abriu a porta e ficou confusa com o recado tão pouco importante que Myra lhe estava a dar àquela hora.

Com o pretexto de ter receio de caminhar sozinha no regresso a casa, pediu a David que a acompanhasse. Assim que chegaram à porta do nr. 16, Myra incentivou David a entrar. Disse-lhe que tinha algumas garrafas de vinho para lhe oferecer.

O jovem assim fez, dirigindo-se directamente para a cozinha. Enquanto esperava que Myra viesse dar-lhe as garrafas, ouviu um grito tremendo, algo a cair no chão, Ian a gritar obscenidades e Myra a pedir a David que ajudasse.

Quando entrou de rompante na sala viu um jovem ensanguentado no chão. Ian estava a atacá-lo com um machado e Myra encontrava-se em pé, passiva, a assistir àquele cenário horrendo. Quando Ian finalmente parou de usar o machado, estrangulou o rapaz até à morte.

David estava petrificado com o que acabava de assistir. Quando começou a avaliar os presentes na sala, reparou na calma, na serenidade, no regozijo na cara de ambos e foi aí que soube. David tinha que alinhar em tudo, caso contrário, jamais sairia dali vivo.

Ellen acordou, gritou-lhes do piso de cima se estava tudo bem. Myra respondeu que sim, que voltasse a dormir e Ellen, sem fazer uma pequena ideia do que se estava a passar na sua própria casa, voltou para a sua cama e para o seu sono profundo.

Ian passou o machado para as mãos do cunhado para que David sentisse o peso da sua arma e David alinhou. Sentiu o peso da arma que tinha acabado de ser usada num assassinato, deixando a suas impressões digitais no objecto.

Myra entreteve-se a limpar a sala, apanhando cabelos e massa cinzenta do chão e colocando-os num saco de plástico. Parecia tratar-se da tarefa mais mundana, mais normal de sempre.

David continuou com a sua máscara de normalidade, sentando-se com o casal e planeando, em conjunto, a forma de se desfazerem do cadáver de Edward.

Ian, no furor do ataque, tinha magoado um tornozelo, sendo-lhe impossível livrar-se de Edward naquela noite. Então, todos concordaram em embrulhar o cadáver e colocá-lo no quarto de Ian e Myra até à manhã seguinte. No dia a seguir, depois do trabalho, David ia até à residência com o carrinho de bebé que ainda tinha de Angela, colocariam o jovem dentro do carro, dirigiriam até Saddleworth e aí enterrariam o rapaz junto das outras vítimas.

Quando finalmente o plano ficou assente, David conseguiu sair daquele cenário grotesco e regressar a casa. As suas roupas estavam cobertas de sangue e David, após vomitar de nervos e nojo e de um misto de emoções horríficas, meteu-se debaixo do chuveiro enquanto tentava assimilar todos os acontecimentos das últimas horas.

Acordou Maureen freneticamente, contou-lhe o sucedido, mostrou-lhe as roupas ensanguentadas e juntos foram a uma esquadra da Polícia.

David contou tudo o que sabia, todos os pormenores que se lembrava, tudo a que tinha assistido acerca do assassinato de Edward. Confidenciou também que Ian, numa noite em que já tinha bebido demasiado, tinha-lhe dito que já tinha cometido assassinatos muito antes do de Edward. Não sabia ao certo do que o cunhado falava e, na altura, desvalorizou, considerando tratar-se de conversa de bêbado. No entanto, naquele dia, acreditava que não era a primeira vez que o casal cometia um acto tão grotesco como aquele. Só pelo facto da naturalidade com que o casal tinha encarado os acontecimentos daquela noite.

A Polícia não tardou a bloquear a rua de Hattersley e a bater à porta de Ian e Myra. Foi a jovem que a abriu, já pronta para ir trabalhar. Começou por dizer que estava tudo bem, não tinha acontecido nada, não tinha ouvido nada sequer. Mas a Polícia forçou a sua entrada.

Ian estava sentado na sala a escrever uma carta ao seu patrão, explicando que tinha magoado o tornozelo e que, por isso, não podia ir trabalhar naquele dia. Não levantou a cabeça do papel e os seus olhos não se mexeram. Limitou-se a ignorar a presença dos Agentes, continuando a escrever o bilhete.

Ellen estava no andar de cima, sentada na cama a beber um chá. O quarto ao lado encontrava-se de porta trancada, porém, a Polícia conseguiu invadi-lo. Ali encontraram o cadáver de Edward Evans, uma parafernália de armas e blocos de notas, aparentemente, pertencentes a Ian.

Ian Brady foi preso sob a acusação do homicídio de Edward mas ainda não existiam provas suficientes contra Myra.
No entretanto, Myra Hindley tentou desfazer-se de todas as provas que ligavam o casal a todos os homicídios. Mas, apesar dos seus esforços, foi detida 4 dias após Ian, no dia 11 de Outubro, por cumplicidade no assassinato de Edward Evans.

Numa das anotações de Ian, a Polícia leu o nome John Kilbride, factor que desencadeou a solução de todos os desaparecimentos das crianças nos últimos 2 anos.

Munidos com as informações de David, com o plano de enterrarem Edward em Saddleworth Moor, o nome de Kilbride anotado e com a possibilidade de terem matado antes, a Polícia tinha que arranjar maneira de cobrir toda a área da charneca.

No entanto, tratavam-se de mais de 1.000 km² e, apesar dos esforços feitos, as procuras iniciadas em 10 de Outubro de 1965, não deram em nada.

Algumas das crianças do bairro que conviviam com Ian e Myra, foram também levadas à zona Moor para identificarem os sítios onde o casal os costumava levar mas as indicações também não foram frutíferas.

A Polícia queria acabar com a investigação.

Ian e Myra tinham cometido um homicídio. Tinham o corpo de Edward, as provas contra o casal e os suspeitos sob custódia.

Estavam a desperdiçar tempo e dinheiro numa busca remota. Não faziam ideia se os desaparecimentos das 4 crianças estavam ligados ao casal ou sequer se a zona da charneca tinha sido o local para colocar os cadáveres. Aliás, a Polícia nem tinha a certeza de existirem cadáveres.

Mas, no meio da Polícia, existiam 2 Investigadores que tinham a sensação de terem apanhado os responsáveis pelos assassinatos de Pauline Reade, John Kilbride, Keith Bennet e Lesley Ann Downey. Devido à insistência, os seus superiores deram-lhes apenas mais 24 horas para encerrarem as buscas.

Buscas em Saddleworth Moor
Buscas em Saddleworth Moor
Myra e Ian em Saddleworth Moor
Myra e Ian em Saddleworth Moor


PARTE 4 - CONDENAÇÕES E CONCLUSÕES

Até então a Polícia tinha provas contra Ian e Myra nos assassinatos de Lesley e Edward mas precisava de saber o paradeiro das outras crianças.

Em relação a Lesley, ambos diziam não estarem envolvidos no seu assassinato, apesar das provas. Realmente, as cassetes não provavam a presença de Myra aquando do homicídio mas Ian não tinha qualquer hipótese.

No que respeitava a Edwards, Ian jurava que Myra não estava presente tendo sido um acto de defesa por parte dele e David, já que Edward se tinha virado contra eles. Contudo, as provas forenses apontavam para o contrário. Os sapatos de Myra tinham vestígios do sangue de Edward mas Myra alegava que tinha deixado os sapatos na sala e que era ali que estavam quando se deu o ataque. Mas, se assim fosse, o calçado tinha que apresentar sangue também no interior e não era o caso. Isto era sinal de que Myra tinha os sapatos calçados e, pelos vestígios de sangue encontrados, a jovem estava muito perto da vítima quando esta foi atacada.

Em relação a David Smith, apesar do casal tentar sempre culpá-lo e envolvê-lo em todos os actos, nada apontava para David. Após dias de interrogatórios a David, aos seus Familiares, vizinhos e após apertadas rusgas à sua casa, não existiam sinais nenhuns de que David pudesse estar envolvido nos crimes do casal.

Foi-lhe dada imunidade em troca do seu depoimento.

Um dos Detectives, ao olhar para os álbuns de fotos de Ian e Myra, lembrou-se de tentar localizar as áreas em Saddleworth Moor onde as fotos tinham sido tiradas. Avaliando uma das fotos em que Myra está com o seu cão ao colo, o Detective reparou que o olhar da mulher estava fixado no chão. Foi aí que começaram a escavar e que fizeram uma terrível descoberta.

A pouco mais de 20 cm da superfície, encontraram um sapato preto pertencente a uma criança. Uns centímetros abaixo estava um par de meias e, por baixo, encontrava-se o cadáver de uma criança, nu da cintura para baixo.

Tratava-se de John Kilbride. A sua Família conseguiu identificá-lo apenas através das roupas, sendo que o corpo estava severamente decomposto.

Após ter sido concluído que existiam provas suficientes para apresentar em Tribunal, o julgamento de Ian e Myra iniciou-se. O calendário marcava 19 de Abril de 1966 e teve lugar na cidade de Chester. Os arguidos foram julgados juntos.

Ian Brady foi considerado culpado pelas mortes de John Kilbride, Lesley Ann Downey e Edward Evans e sentenciado a prisão perpétua.

Myra Hindley foi considerada culpada pelos homicídios de Lesley Ann Downey e de Edward Evans, igualmente condenada a prisão perpétua.

A pena de morte na Grã-Bretanha tinha sido abolida um mês antes do par ser detido.

Myra, tendo sido várias vezes atacada por outras reclusas, a Prisão concedeu-lhe um Polícia para garantir a sua segurança sempre que não se encontrava na cela.

Brady também sofreu ataques na Prisão de Durham e foi colocado na solitária de forma permanente para sua própria segurança.

A vida de David e Maureen Smith não lhes correu sobre rodas.

A casa era constantemente vandalizada e não podiam sair à rua sem que fossem atacados, xingados e desrespeitados. Chegaram a cuspir na cara de Maureen quando se encontrava às compras num supermercado.

David Smith, eventualmente, conseguiu trabalho mas não chegou a entrar nas instalações. Tinha uma multidão de pessoas enfurecidas e indignadas à sua espera, sendo que David deu meia volta e regressou a casa.

O Governo, eventualmente, facultou-lhes um subsídio mas os 3 Filhos do casal foram retirados da residência ficando à guarda do Estado.

Em 1969, David Smith foi atacado por um homem na rua, em retaliação das mortes das crianças. David acabou por esfaquear o seu atacante e, nesse seguimento, foi condenado a 3 anos de prisão.

Maureen, durante esta época saiu da residência do casal e pediu o divórcio ao marido. Quando Smith, finalmente saiu em liberdade, mudou-se para a casa de uma jovem de 15 anos que veio a tornar-se a sua segunda Esposa. Conseguiu recuperar a custódia dos 3 Filhos.

Morreu aos 64 anos vítima de cancro de pulmão.

Maureen, entretanto, casou com um camionista, Bill Scott, com quem teve uma Filha.

No dia 3 de Outubro de 1980, com 34 anos, Maureen morreu de uma hemorragia cerebral.

Myra Hindley envolveu-se de forma romântica com várias mulheres durante o seu encarceramento. A relação mais séria que manteve foi com uma ex-freira, na altura, segurança na prisão, Patricia Cairns.

Fazia parte dos planos do casal, Patricia ajudar Myra a fugir da prisão. Depois iam directas para S. Paulo no Brasil onde seriam felizes para sempre.

O plano foi descoberto por uma segurança que denunciou as duas. Patricia foi condenada a 6 anos de prisão.

Após uma investigação de 5 semanas acerca do plano das duas mulheres, as Autoridades descobriram mais informações. Juntamente com Myra, iam libertar Dolours e Marian Price, bombistas do IRA. As irmãs estavam presas devido a um ataque terrorista em 1973 causando uma morte e mais de 200 feridos.

Em 1970, sob o argumento que tinha encontrado Deus, Myra Hindley terminou o relacionamento com Ian Brady que mantinham por correspondência.

Em 1985, Ian Brady foi visitado pelo Jornalista Fred Harrison. Após 8 visitas no decorrer de vários meses e, ao saber que Myra Hindley estava a contrapor a sua sentença para conseguir sair em liberdade condicional, Ian confessou estarem envolvidos nas mortes de Pauline Reade e de Keith Bennett.

Afirmou que, se as pessoas soubessem o verdadeiro envolvimento de Myra nos assassinatos, não a deixariam sair da prisão nem após 100 anos. Alegou também que, David e Maureen Smith, estavam bem mais envolvidos nos casos do que alguma vez admitiram. Ian informou ainda que Pauline tinha sido assassinada na casa do Pai de David Smith.

Em 1987, tanto Myra como Ian confessaram oficialmente os assassinatos de Pauline e Keith e foi Myra quem apontou a localização do corpo de Pauline.

No entanto, em relação a Keith Bennett o seu cadáver nunca foi descoberto, sendo que Ian e Myra sempre se recusaram a apontar a localização do menino.

Myra Hindley faleceu de pneumonia no Hospital West Suffolk, no dia 2 de Novembro de 2002, com 60 anos.

No dia 15 de Maio de 2017, Ian Brady faleceu no Hospital Ashworth onde estava a receber cuidados de final de vida para uma doença pulmonar. Tinha 79 anos.

Apesar dos seus actos, tanto Ian como Myra foram tratados com respeito e consideração, sentimentos que nunca mostraram pelas suas vítimas.

Para além dos 5 assassinatos confessos, a Polícia acreditava existirem mais vítimas às mãos destes dois.

David Smith
David Smith
Patricia Cairns, Amante de Myra
Patricia Cairns, Amante de Myra

PARTE 5 - AS FAMÍLIAS

PAULINE READE

Em 2017, com os Pais de Pauline já ausentes deste Mundo, foi a sua sobrinha Jackie que recebeu o telefonema da Polícia. Alguns dos restos mortais de Pauline, recuperados em 1987, tinham sido mantidos na Universidade de Leeds, pela GMP (Great Manchester Police).

Pauline foi exumada do cemitério de Gorton e novamente enterrada, desta vez, com todas as suas ossadas.

Foi sepultada junto à sua Mãe Joan, Pai Amos e o Irmão Paul.

Joan tinha sido institucionalizada num hospital psiquiátrico pouco depois da sua Filha ter desaparecido.

Quando Jackie nasceu, já Pauline tinha desaparecido mas recordava-se bem de, quando tinha 13 anos, o cadáver da sua Tia ser encontrado em Saddleworth Moor.

O seu corpo foi encontrado 24 anos após o seu desaparecimento.

JOHN KILBRIDE

O menino que era conhecido pelo seu sorriso rasgado e por assobiar e cantarolar enquanto passeava. Era esta a banda sonora que assobiava constantemente e que os vizinhos não precisavam de o ver para saber que lá vinha. Bastava ouvirem.

A banda sonora da série Z-Cars: https://www.youtube.com/watch?v=rWflrCrwUSw

Terry Kilbride que, na altura do desaparecimento de John tinha apenas 9 anos, nunca se esqueceu do pânico da Família, principalmente dos seus Pais, Patrick e Sheila. Sempre criticou a Polícia pela falta de interesse e por terem encerrado o caso do desaparecimento do seu irmão cedo demais.

John Kilbride foi sepultado na presença de Família e Amigos após 2 anos do seu desaparecimento. Encontra-se no cemitério de Hurst em Ashton.

KEITH BENNETT

Tal como todas as outras Famílias, desde 16 de Junho de 1964, que Winnie viveu no Mundo dos Ses.

Se não o tivesse deixado ir sozinho por não conseguir acompanhá-lo; Se Keith não tivesse avistado os seus colegas e não tivesse corrido na sua direcção; Se Winnie tivesse tido forças... enfim, uma panóplia de Ses e de culpas até ao resto dos seus dias.

Um dos irmãos de Keith, Alan Bennett, chegou a visitar Myra na prisão para obter informações da localização de Keith. Myra nunca cedeu.

Um dos últimos desejos de Ian Brady, antes da sua morte, foi que as suas malas, anteriormente guardadas na Estação de Manchester, estivessem com ele no seu quarto do Hospital e que, após a sua morte, fossem arquivadas sem nunca serem abertas.

Estranhamente, este desejo foi-lhe concedido!

Como se um Ser atroz deste calibre, para além de ser primorosamente cuidado nos seus últimos dias de vida, tivesse direito a um desejo deste tamanho!? Mas teve.

Tanto que Alan continuou a recorrer à justiça para ter acesso às malas, tendo a certeza que a localização do cadáver de Keith está ali apontado algures.

Winnie, a Mãe de Keith, vítima de cancro, suplicou-lhes que lhe dissessem a localização do corpo do seu Filho. O seu intuito já não era julgar os culpados, apenas querendo trazer o seu menino para uma sepultura digna, junto à restante Família.

Winnie faleceu em Agosto de 2012, sem saber o paradeiro do seu Filho. Aliás, até aos dias de hoje ninguém sabe onde o pequeno Keith Bennett jaz.

LESLEY ANN DOWNEY

Terry, o irmão mais velho de Lesley, afirmou sempre que, a culpa por não estar com os seus irmãos naquela tarde, sempre o assombrou.

Annie faleceu em 1999, com 69 anos, após uma longa luta contra o cancro. Alan, o Padrasto de Lesley, faleceu uns anos depois de Parkinson.

Infelizmente, esta Família já devastada pelo assassinato de Lesley, sofreu mais tormentas. Em 2001, Caz Telfer, uma fã incondicional de Myra e Ian, pegou fogo a uma residência em Fallowfield, com Tommy de 45 anos e a sua Filha Kimberley, de 8, no interior.

Tommy era o irmão de Lesley que a acompanhou à feira no dia do seu desaparecimento.

Notícia Tommy e Kimberley:

https://www.manchestereveningnews.co.uk/news/greater-manchester-news/familys-fury-arsonist-who-killed-1718542

EDWARD EVANS

A Família Evans nunca veio a público falar da morte do jovem. Encontra-se sepuldado no Cemitério de Southern em Chorlton-Cum-Hard.

Foi com a morte de Edwards e com a confissão de David Smith que os assassinatos das outras crianças conseguiram ser deslindados.


Blobituário
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