O Homicídio de Johnny Altinger
Um aspirante a realizador. Um jovem com objectivos e ambições. Uma mente de atalhos que decidiu não enveredar pelos caminhos normais do sucesso.
Esta é a bizarra história do homicídio de Johnny Altinger e do seu assassino, Mark Twitchell.

Foi no dia 4 de Janeiro de 2001 que Megan Casterella e Mark Twitchell se casaram. Ela, com 21 anos e residente no Colorado, EUA, e ele, de 20 anos, residente em Edmonton, no Canadá.
Conheceram-se através de um site de encontros e, após meses de comunicação entre ambos, Megan decidiu deixar a sua vida para trás e ir ao encontro do amor da sua vida.
Mark revelou-se um marido atencioso. Era um homem divertido, inteligente e dedicado mas não tardou para que Megan começasse a aperceber-se da verdadeira natureza do seu marido. Mark era um mentiroso compulsivo. Primeiro, era-lhe infiel. Depois, criava perfis falsos online, simplesmente, pelo gozo de enganar outros. Mentia em assuntos com alguma relevância mas também o fazia em pequenas situações completamente irrelevantes e sem qualquer objectivo.
Tratavam-se de situações tão caricatas que Megan chegou à conclusão de só poder tratar-se de uma doença.
Para além destas pequenas e grandes mentiras, Mark começou a querer partilhar os seus pensamentos mais negros com a esposa. Por vezes falava em matar alguém. Dava o exemplo de um sem-abrigo. Alguém que não tivesse ligações próximas, de quem ninguém sentisse falta.
Megan, inicialmente, tentou desvalorizar. Tentou ligar este tipo de pensamentos a raivas momentâneas, a pensamentos efémeros. No entanto, teve que se render às evidências. O seu marido começou a levar este tipo de conversas longe demais.
Apesar de estar longe de casa, dos amigos e familiares, Megan ganhou coragem e, em 2004, separou-se de Mark. Megan Casterella após 3 anos de casamento, retornou ao Colorado, à segurança da sua terra natal.
Mark Twitchell, formado em Rádio e Televisão, através do Instituto de Tecnologia do Norte de Alberta, era um aspirante a realizador. Em 2008, despedindo-se do seu trabalho que apenas lhe pagava as contas, dedicava-se única e exclusivamente ao seu projecto. Tentava conseguir patrocínios para os seus filmes e, nessa altura, já tinha conseguido um núcleo de seguidores, apreciadores de csi-fy que seguiam os seus pequenos trabalhos.
Em Setembro do mesmo ano, filmou o House Of Cards,
escrito e realizado pelo próprio. Tratava-se de um homem, iludido por
um falso perfil online, que se tinha dirigido a uma garagem para
conhecer a rapariga com quem falava há semanas. Ou assim pensou.
Chegando ao local do encontro, o homem foi atacado e morto por
um assassino com uma máscara de hóquei. Coincidentemente, o assassino era
um aspirante a realizador.
Mas a ficção não era suficiente para Mark Twitchell e, pouco depois de filmar o House of Cards, colocou o seu plano em marcha.
Gilles Tetreault, de 33 anos, estava divorciado há pouco tempo. No Outono de 2008, decidiu aventurar-se no site Plenty of Fish à procura de companhia feminina. Depressa começou a falar com Shenna, uma jovem loira de olhos azuis que aparentava ser simpática e bastante interessante. Decidiram então marcar um encontro. Sheena não deu uma morada concreta mas explicou suficientemente bem como é que Gilles havia de lá chegar. Ia deixar o portão da garagem aberto e, quando Gilles chegasse, bastava entrar na residência por aquele portão. Sheena ia estar dentro de casa a aguardá-lo.
Passavam poucos minutos
das 19h00 quando Gilles estacionou o carro. O homem saiu da sua viatura, entrou pelo portão da garagem tal como combinado e procurou a porta para o interior da residência. No meio da escuridão, foi surpreendido pelo vulto de um homem com uma máscara de hóquei mas, antes que conseguisse reagir, foi atordoado com uma arma de choque. Caiu imediatamente mas, não perdendo os sentidos, conseguiu ainda ver um revólver apontado a si.
O homem ficou aterrorizado. Não tinha avisado ninguém acerca dos seus planos. Amigos e familiares não faziam ideia de onde tinha ido. Ia morrer ali, numa garagem desconhecida, às mãos de um desconhecido. Jamais iam saber o que lhe tinha acontecido e Gilles, principalmente, não estava a perceber o que estava a acontecer. Nem sequer as razões para aquele ataque.
Naquele momento já tinha os olhos vendados com fita adesiva mas não desistiu. Conseguiu arrancar a fita e levantar-se, surpreendendo o seu atacante. Agarrou na arma que lhe apontavam e, naquele momento, a sua adrenalina caiu. Apercebeu-se que se tratava de uma arma de plástico. Voltou a cair, estando a ser brutalmente pontapeado pelo agressor mas, à medida que recebia os pontapés, o seu corpo aproximava-se cada vez mais da porta da garagem.
Conseguiu rebolar para fora da garagem, por debaixo do portão, mas as
suas pernas fraquejavam devido aos choques que tinha levado minutos
antes. Se o homem lhe voltasse a pôr a mão em cima, era o seu fim.
Gilles avistou um casal e gritou-lhes que o ajudassem. Gritou que estava a ser assaltado, atacado e que precisava de ajuda. Mas os transeuntes também se assustaram. Consideraram poder tratar-se de uma armadilha para eles próprios serem assaltados. Por precaução, afastaram-se do local e dirigiram-se imediatamente para casa. Dali ligaram para a linha de emergência e relataram o sucedido. Voltaram ao local com as Autoridades mas não havia sinais do homem. O casal não conseguiu dizer de onde tinha vindo nem sequer descrevê-lo.
Foi uma situação bizarra mas sem nada para que as Autoridades pudessem fazer, o caso ficou por ali.

No serão de 10 de Outubro de 2008, poucos minutos após as 19h00, Johnny Altinger, de 38 anos, contactou via sms um dos seus amigos. Informou que estava à porta de casa de Jen, uma rapariga que tinha conhecido online. Tinha ido buscá-la para jantar e queria apenas avisá-lo acerca do seu paradeiro.
Johnny mantinha sempre o contacto com os seus amigos e, habitualmente, mantinha-se online nas redes sociais. No entanto, após aquela mensagem, o telemóvel de Johnny encontrava-se desligado e o homem não respondia a mensagens enviadas por outras vias. Talvez o encontro com Jen tivesse corrido bem e Johnny estava apenas a tentar não ser incomodado.
Contudo, não apareceu a um passeio de bicicleta há muito combinado, o que levantou muitas suspeitas entre amigos e familiares. Para mais, na segunda feira seguinte, não compareceu ao trabalho e não avisou acerca dos motivos da sua ausência. Estas atitudes não eram típicas de Johnny que era um homem confiável e de cumprir com os seus compromissos.
A Polícia de Edmonton foi informada acerca deste misterioso desaparecimento mas desconsiderou.
No dia 15, quarta feira, o seu irmão recebeu um email surpreendente. Tratava-se de Johnny a informar que tinha conhecido uma mulher chamada Jen, que ia com ela para a Costa Rica e que voltava a dar notícias pela altura do Natal.
As Autoridades voltaram a ser contactadas mas, uma vez mais, desconsideraram a ausência de Johnny Altinger.
No dia 18 de Outubro, sem grandes saídas, amigos e familiares do desaparecido invadiram o seu apartamento. Constataram que as suas roupas estavam todas no lugar, bem como o seu passaporte. A Polícia voltou a ser contactada e, desta vez, decidiu agir.
Através da mensagem enviada no serão de 10 de Outubro, conseguiram localizar a casa de Jen. No entanto, em vez de uma rapariga, deram de caras com Mark Twitchell.
O homem mostrou-se cooperante com a Polícia. Não conhecia nenhuma Jen nem nenhum Johnny mas, ainda assim, mostrou-lhes todos os espaços da sua garagem. Após uma breve vistoria e, sendo que nada parecia fora do
lugar, sem mais pistas, a Polícia virou-se para o
público.
Foi quando surgiu o casal do episódio de Gilles. Ficaram de consciência pesada ao considerarem que o homem que não ajudaram encontrava-se desaparecido. No entanto, depressa concluíram que se tratavam de 2 homens diferentes. A situação de Gilles tinha ocorrido no serão de 3 de Outubro e Altinger estava desaparecido desde dia 10, uma semana depois.
Era provável que existisse outra vítima e as Autoridades aguardaram com expectativa o contacto desse primeiro homem.
Gilles Tetreault demorou quase 1 mês para contactar a Polícia. Primeiro, sentia-se envergonhado por se ter deixado iludir por um engodo online. Depois, tinha receio. Não sabia a identidade do seu agressor. Podia ser que, se desse a cara, o homem pudesse descobrir onde morava e onde trabalhava. Podia vir atrás de si para terminar o trabalho que tinha tentado executar naquele serão.
Ainda assim, existia um homem desaparecido e talvez Gilles pudesse ajudar a encontrá-lo. Quando finalmente ganhou coragem, dirigiu-se à Polícia e contou tudo o que se recordava daquela noite ao mais ínfimo pormenor.
Os
Detectives tiveram desde logo o pressentimento de que Johnny Altinger
tivesse caído no mesmo embuste. Mas, ao contrário de Gilles que tinha
conseguido escapar, talvez Johnny não tivesse tido a mesma sorte.
Os Agentes decidiram voltar a entrevistar Mark Twitchell. Porém, o homem continuava a afirmar que nunca tinha visto Johnny ou o seu carro. Mais tarde, ainda no decorrer desta entrevista, Mark deixou escapar ter uma viatura nova. Tratava-se de um Mazda 3 vermelho. Coincidentemente, tratava-se da mesma marca, modelo e cor do carro de Johnny. Interrogado acerca da compra, Mark informou que o tinha comprado nas ruas da cidade a um desconhecido.
Quando os Agentes aprofundaram a vida de Mark tiveram conhecimento do House Of Cards e, com esta descoberta, depararam-se com as coincidências entre o argumento do projecto e os acontecimentos reais, essencialmente, com Gilles.
No computador de Twitchell as Autoridades fizeram algumas descobertas comprometedoras. Encontraram um ficheiro
intitulado SK Confessions. O autor descrevia os seus
sentimentos mais negros, a ânsia de matar alguém, o desejo em se tornar
um serial killer.
No meio de tantos desabafos negros, existiam 2 capítulos especiais. Um deles descrevia, ao pormenor, o ataque a Gilles. Ainda que não indicasse o nome da vítima, a descrição não podia ser
mais precisa. E um segundo em que falava de uma segunda vítima. Mark descreveu como a
tinha assassinado, desmembrado o corpo e despojado os seus bocados.
Tratavam-se, realmente, de confissões.
No dia 31 de Outubro de 2008, Mark Twitchell foi detido sob as acusações de homicídio e tentativa de homicídio.
Apesar
dos esforços da Polícia, só meses após a detenção, é que Mark indicou onde tinha
despojado os restos mortais de Johnny Altinger. O pobre homem tinha sido
colocado num esgoto.
Em
Março de 2011, enfrentou o seu julgamento. No dia 12 de Abril, após 4 horas a deliberar, o júri chegou, finalmente, a uma conclusão. Mark Twitchell foi considerado culpado e sentenciado a
prisão perpétua sem possibilidade de liberdade condicional antes de 25
anos de cumprimento da pena.
Mark Twitchell alegou sempre estar inocente. Argumentou que chamou os homens àquele local com o intuito de fazer publicidade ao seu trabalho. Atacou Gilles e Johnny em legítima defesa. Aqueles homens tinham-no agredido primeiro.
Entrevista a Mark Twitchell em 20 de Outubro de 2008:
https://www.youtube.com/watch?v=4S9QbK4pZKI
Entrevista a Gilles Tetreault em 2 de Novembro de 2008:
https://www.youtube.com/watch?v=WpL8nR-C0qc
STAR WARS - SECRETS OF THE REBELLION:
https://www.youtube.com/watch?v=Il5y2T1o_eA
OUTROS VÍDEOS:
https://www.youtube.com/playlist?list=PLQKQ2ESGcg1QIr2_VSjP-a6KnJq9HaFFS