O Homicídio do Casal Haysom

19/03/2024

As opiniões dividem-se.

Pode ter sido um crime cometido por paixão cega ou por manipulação. Pode ter sido cometido por uma vítima de abusos sexuais ou, simplesmente, por uma jovem gananciosa. Pode ter sido a Filha sozinha que matou os seus Pais. Pode ter tido a ajuda do seu namorado ou de outra pessoa qualquer. Ou então, nem sequer tinha conhecimento do que ia acontecer naquele serão, estando inocente da suspeita que ainda paira sobre si.

A história do brutal assassinato do casal Haysom ainda levanta muitas dúvidas. Ficaram muitas perguntas por responder e os factos continuam por ser esclarecidos. Só as 2 pessoas sobreviventes daquele cenário podem explicar o que aconteceu. Porém, cada um tem a sua própria versão dos factos.

Derek William Reginald Haysom nasceu no dia 23 de Março de 1913, em Durban, na África do Sul. O seu pai era Reginald Arthur Haysom e a sua mãe, Gladys Mary Elizabeth Pearce.

Derek, ainda jovem, criou uma carreira de sucesso na indústria do aço, valendo-lhe viagens por todo o mundo e uma carteira recheada.

Em 1957, ainda na África do Sul, conheceu Nancy Astor Haysom, uma jovem quase 20 anos mais nova.

Nancy Astor Benedict Haysom, nascida em 1932, no Arizona, era neta de Nancy Witcher Astor. Esta última era uma Viscondessa nascida na Virgínia e a primeira Mulher a fazer parte da câmara dos comuns (Parlamento) no Reino Unido.

Tanto Derek como Nancy já tinham sido casados e já tinham Filhos dos seus primeiros casamentos. Nancy tinha tido Howard e Richard e Derek tinha Varian, Julian e Fiona.

Foi em 1960 que casaram, tendo uma Filha no dia 13 de Abril de 1964, a quem chamaram Elizabeth Haysom.

Elizabeth tinha sido a única a ter o privilégio de viajar por todo o Mundo com os seus Pais. Viveu na Rodésia, Canadá, Suíça, Inglaterra e por aí fora. O casal tentou sempre proporcionar-lhe a melhor educação, chegando a colocar Elizabeth em Colégios internos.

Enquanto frequentava o Colégio interno em Inglaterra, a jovem conseguiu escapulir-se. Durante 5 meses andou fugida, viajando pela Europa, conhecendo novos lugares e dedicando-se ao uso de drogas duras. Derek chegou a envolver a Interpol na busca pela Filha mas, eventualmente, Elizabeth acabou por retornar a casa.

As viagens do Pai e a educação que teve, proporcionaram a Elizabeth tornar-se numa jovem extremamente inteligente, culta, sofisticada e coordenada. Mesmo depois de anos a viver nos Estados Unidos, a jovem conservou o seu sotaque europeu, facultando-lhe um charme extra.

Já reformados, o casal decidiu criar as suas raízes em Bedford, na Virginia, mudando-se para Holcomb Rock Road em 1981.

Por esta altura, Elizabeth encontrava-se a terminar o secundário, enveredando na faculdade da Virginia, através de uma bolsa de estudo, em 1985. Já os seus meios-irmãos, viviam as suas próprias vidas, com as respectivas Famílias. Encontravam-se todos no Canadá, com excepção de Howard que vivia em Houston, no Texas.

O casal Haysom rapidamente se envolveu na comunidade, frequentando restaurantes e clubes locais. Eram conhecidos como sendo sofisticados, cultos e viajados, sendo acarinhados por toda a comunidade.

Foi no dia 3 de Abril de 1985, uma quarta feira, que uma tragédia assolapou toda a cidade de Bedford.

Uma vizinha dos Haysom, ao saber que o casal já não era visto há alguns dias, foi bater-lhes à porta. Não obteve resposta e, por isso, entrou casa adentro. A mulher ficou horrorizada com o cenário à sua frente, ligando para a linha de emergência de imediato.

George Thomas foi o primeiro Agente a chegar ao local mas foram os Detectives Ricky Gardner e Chuck Reid que ficaram responsáveis pela investigação.

Derek, na altura com 72 anos, estava deitado no hall de entrada da casa, numa poça de sangue. O homem tinha sido esfaqueado 36 vezes.

Nancy, de 53 anos, encontrava-se deitada no chão da cozinha. Também ela estava rodeada do seu próprio sangue. Tinha sido esfaqueada 6 vezes.

Ambos tinha um ferimento no coração e o ataque tinha sido de tal maneira feroz que os cadáveres estavam quase decapitados.

Um roubo tinha ficado imediatamente fora de hipóteses. A carteira de Derek foi encontrada no local ainda com dinheiro no interior. Para além disso, não existiam sinais de arrombamento e a casa não tinha sido saqueada ou remexida.

Na sala de jantar, encontravam-se 2 pratos na mesa, no entanto, estavam 3 cadeiras puxadas para trás. O cenário insinuava que o assassino tinha interrompido o jantar dos Haysom, tinha sido convidado a entrar e tinha estado sentado com ambos à mesa, enquanto terminavam a sua última refeição.

O sangue tinha sido espalhado por todo o chão, parecendo uma tentativa de encobrir possíveis pegadas.

Do local, as equipas forenses conseguiram recolher várias amostras de sangue e pegadas dentro e fora de casa. O assassino, de acordo com a averiguação do cenário do crime, tinha andado pela residência apenas com meias calçadas. Já as pegadas no exterior da casa, paravam abruptamente à beira da estrada. Possivelmente, no local onde o assassino tinha deixado o carro.

As Autoridades consideraram que o casal tinha sido assassinado no fim de semana anterior à descoberta, entre 29 e 31 de Março de 1985.

A Polícia questionou os vizinhos, porém, não obtiveram pistas sendo que nenhum declarou ter ouvido ou visto o que quer que fosse de estranho.

Seguiram-se os questionários aos Familiares, nomeadamente aos Filhos de ambos. Todos tinham álibis mas apresentavam-se reservados. Foi o irmão de Nancy, Howard e Elizabeth que se mostraram mais disponíveis para ajudar.

O irmão de Nancy, ao contrário das informações de Elizabeth, informou as Autoridades que o casal não aprovava a relação da Filha com Jens Soering. Tinham feito de tudo para que Elizabeth terminasse aquela relação.

Howard Haysom, apesar de bem intencionado, inicialmente, não conseguiu facultar pistas para que a investigação desenvolvesse.

Já Elizabeth, contou que tinha uma excelente relação com os seus Pais. Tinha estado com eles naquela residência, no dia 23, no fim de semana anterior aos homicídios e Nancy e Derek estavam bem dispostos. No entanto, se alguém queria mal aos seus Pais, só podia ser Jane. A jovem tinha estado noiva de Julian, um dos Filhos de Derek, e culpava o casal pelo término da relação. Talvez não tivesse conseguido ultrapassar a situação. Para além disso, vivia numa localidade perto dos Haysom, o que lhe concedia o móbil e a oportunidade para o crime.

Paralelamente à investigação, a Família enlutada preparava o funeral do Casal Haysom.

Derek e Nancy foram sepultados no dia 7 de Abril de 1985, no Cemitério Presbiteriano, em Lynchburg, Virginia, Estados Unidos.

Jane foi imediatamente interrogada mas tinha álibi para o fim de semana anterior à descoberta dos cadáveres. Porém, a jovem tinha um passado de instabilidade emocional e tinha estado envolvida num culto duvidoso em Richmond.
Oferecendo-se para fazer o teste do polígrafo e passando sem incidentes, Jane foi eliminada como suspeita. Mas, ainda que já não estivesse no radar da Polícia, a jovem apontou o dedo a uma única pessoa, Elizabeth Haysom.

Declarou que a Filha do casal não se dava bem com os seus Pais, que tinha um grande ressentimento por eles e que era tão demoníaca que era bem capaz de ter cometido aquelas atrocidades. Para mais, havia o episódio no dia do Funeral dos Haysom. Jane encontrava-se sozinha na cozinha do casal quando Elizabeth entrou e lhe disse: "Eu sou o diabo e tu és o cordeiro a sacrificar."

Ao sabor das pistas que iam recebendo, a Polícia verificou o álibi de Elizabeth. Segundo a própria, tinha alugado um carro no dia 29 de Março e tinha passado o fim de semana com o seu namorado em Washington DC. Ali tinham ido ao teatro, cinema, restaurantes e tinham ficado hospedados no Hotel Marriott.

Ofereceu-se, inclusive, para facultar as facturas que comprovavam a sua presença naquela cidade, a mais de 300 km de distância da residência dos Haysom.

A Polícia passou uma lupa nos documentos e verificou que a viatura alugada tinha mais 640 km do que era suposto. Confrontada, Elizabeth explicou que tinham andado perdidos.

Foi Howard quem fez a chamada que despoletou todos os acontecimentos seguintes. O Filho de Nancy ligou para a Polícia e disse-lhes, de forma veemente, que Elizabeth estava envolvida nos assassinatos.

Declarou que a jovem tinha insistido para limpar o local do crime o quanto antes mas, no lugar de ficar abalada por todo aquele cenário, Elizabeth passou o tempo a comparar o tamanho do seu pé com as pegadas encontradas no interior da residência. Para além disso, o seu comportamento no Funeral dos Haysom também tinha sido completamente desadequado. Howard sabia que Elizabeth guardava um grande rancor pelo casal e, após aqueles comportamentos, não sabia explicar como mas tinha a certeza do envolvimento da sua irmã nos crimes.

A jovem foi novamente interrogada mas manteve a sua versão dos acontecimentos. Foi então a vez de Jens Soering.

Jens Soering, filho de um Diplomata alemão, Klaus Soering, nasceu no dia 1 de Agosto de 1966, em Bangkok, na Tailândia.

Em 1977, o Pai, Mãe, Jens e o seu irmão mais novo, Kai, mudaram-se para os Estados Unidos. Jens ingressou na escola The Lovett, em Atlanta, na Geórgia, terminando aí o secundário, em 1984. Durante os seus estudos, manteve-se sempre ocupado com actividades extra-curriculares. Fez parte do clube de fotografia, tocou guitarra numa banda, foi editor do jornal da escola e chegou a ganhar prémios pelas suas criações de arte. Para além de poliglota, era o um jovem extremamente versátil.

Tentou enriquecer o seu currículo com o objectivo de ingressar numa Universidade Alemã, porém, tendo ganho uma bolsa de estudo completa para a Universidade da Virginia, acabou por decidir permanecer nos EUA.

Foi nesta Faculdade que conheceu Elizabeth, no dia de orientação. Em Outubro voltaram a encontrar-se e, um mês depois, estavam totalmente envolvidos. Elizabeth tinha 20 anos e Jens apenas 18.

Tendo crescido num ambiente bastante protegido, e apesar de todas as suas conquistas, Jens revelou-se um jovem muito imaturo. Debaixo dos seus grandes óculos, escondia-se um rapaz tímido, solitário, pouco vivido e dependente.

De acordo com alguns testemunhos da altura, Jens tinha dificuldade em fazer amizades. Para além de arrogante, não conseguia manter um diálogo sem discutir com a outra parte. Para mais, ao contrário da maior parte dos seus pares, Jens era ainda virgem.

Jens Soering terá visto em Elizabeth, alguém em quem podia confiar. Alguém que tomava conta de si e das suas necessidades. Não sendo o rapaz mais atraente da Faculdade, inicialmente, estranhou o interesse demonstrado por Elizabeth, no entanto, à medida que a relação foi desenrolando, Jens deixou as suas preocupações de lado.


O jovem não tinha sido o único a estranhar esta aproximação. Os seus colegas de faculdade não entediam o que aquele par podia ter em comum. Apesar de serem ambos viajados, cultos e inteligentes, Elizabeth destacava-se pela sua confiança e aparência. Já Jens, mesmo que chamasse a atenção, era por razões pouco simpáticas.

Elizabeth viu em Jens um meio para atingir os seus fins. Tinha um crescente ressentimento em relação aos seus Pais. Considerava que não a amavam como merecia. Não se tinham dedicado a ela como considerou ser justo. Se assim fosse, jamais a teriam enviado para colégios internos. Além disso, impunham-lhe regras, demasiadas regras. Elizabeth vivia a sua vida de acordo com as expectativas dos seus Pais e tinha chegado ao seu ponto de ruptura.

Em Dezembro de 1984, Elizabeth deixou uma carta no dormitório de Soering:


"Detestei o meu amor por ti durante muito tempo. Odiei-me por descobrir que sou vulnerável mas, à medida que as semanas foram passando, compreendi. Sempre acreditei que fazia os homens apaixonarem-se por mim... fazia os homens humilharem-se para me conseguirem, depois dava-lhes a maior queca que já tiveram e afastava-me. (...)
Amo-te. Pode mudar de intensidade de vez em quando mas amar-te-ei sempre com uma parte de mim que mais ninguém conseguirá arrebatar."

No início de 1985, o jovem casal estava completamente dependente um do outro. Tinham-se afastado dos amigos, dos colegas e da sociedade em geral. Viviam única e exclusivamente um para o outro.

Com Jens totalmente submisso e isolado, Elizabeth iniciou o seu plano.

Durante as férias de Inverno e, emocionalmente inseparáveis, Elizabeth escreveu ao namorado a contar os abusos que sofria por parte dos seus Pais. Contou-lhe o tamanho do seu ódio. Jens, solidário com a dor da sua amante, aprendeu também ele a odiar o casal Haysom.

O jovem chegou à Esquadra pretensioso, arrogante, com o ar de ter a certeza de ser o mais esperto na sala. Para além disso, fez questão de deixar bem claro sentir-se completamente chocado por estar a ser interrogado. Sublinhou ainda o facto de ser Filho de um Diplomata e daquele interrogatório ser completamente disparatado.

Quando lhe pediram uma amostra do seu sangue e das suas impressões digitais, Jens recusou-se a facultar. Alegou que, caso colocassem os seus dados na base de dados da Polícia, a sua Família e o próprio seriam deportados. Era Filho de um Diplomata e, por isso, não podia estar envolvido num caso de homicídio, ainda que sem quaisquer fundamentos. A carreira do seu Pai podia ser completamente destruída.

Os Detectives usaram então uma manobra antiga. A do bom Polícia e do mau Polícia mas o suspeito não mordeu o isco, continuando a corroborar a história da namorada. Pressionado acerca do pedido das amostras, informou que iria pensar no assunto.

No dia seguinte, Jens contactou as Autoridades. Assegurou que, durante a semana seguinte, altura em que terminaria os exames da faculdade, iria apresentar-se na esquadra para dar todas as suas amostras que lhe pedissem.

Ao contrário de Jens, a sua namorada já tinha facultado todas as amostras de imediato. As suas pegadas, tal como a própria já tinha confirmado no local do crime, não coincidiam com as deixadas no interior e exterior da residência.

No entanto, as equipas forenses tinham recolhido amostras de 4 tipos de sangue, na residência dos Haysom. Uma amostra, de tipo A, pertencia a Derek Haysom. Outra, do tipo AB era de Nancy Haysom, porém, sobravam amostras de tipo O e de tipo B.

O grupo sanguíneo O pertence a cerca de 48% da população mundial, já o grupo B pertence a apenas 10%. Elizabeth era do tipo O. Ainda assim, o facto de ter o mesmo tipo de sangue do eventual assassino não provava coisa nenhuma.

Foi Howard que, uma vez mais, fez um alerta para a Polícia: "Eu disse-vos que tinham sido eles! Eu avisei-vos e vocês deixaram-nos escapar. Eles fugiram!"

Afinal, quando Jens ligou a agendar a recolha do seu sangue, queria apenas ganhar tempo. O casal planeou a sua fuga e, dependendo do sítio de destino, existia uma vasta hipótese de não voltarem a pôr-lhes a vista em cima.

A Polícia visitou o apartamento da rapariga em Charlosttesville à procura de pistas do destino dos fugitivos mas não conseguiram encontrar nada. Ainda assim, a colega de apartamento de Elizabeth entregou uma carta à Polícia, escrita por Jens, ao cuidado de Ricky Gardner: "(...) Sugiro que continue a sua investigação como antes. Duvido que encontre quem procura. (...) Só posso dizer-lhe que sou incapaz de cometer um acto desses. (...)"

Desconfiaram que o casal tivesse viajado para algum país da Europa já que ambos tinham ali vivido durante vários anos. Os aeroportos nacionais foram todos contactados e, dois dias depois, o carro de Jens foi encontrado no aeroporto de Newark, em Nova Iorque.

As contas de ambos tinham sido esvaziadas e, sendo que o caso contra o par era apenas circunstancial, a Interpol não podia intervir ou lançar qualquer mandado de captura.

Era como procurar uma agulha num palheiro. Ambos tinham experiência em viajar e eram poliglotas. Podiam encaixar-se em qualquer país, em qualquer continente e conseguirem passar despercebidos. A frustração da Polícia estava em crescendo sendo que não podia fazer muito mais para apanhar os prováveis assassinos.

O casal, primeiramente, viajou para Londres mas por lá permaneceram pouco tempo. Foram rumo à Tailândia onde montaram um esquema de cheques de viagem e onde conseguiram, num submundo, identidades novas.

Talvez por terem documentos de identificação diferentes, se tivessem sentido à vontade para regressar a Londres e assim fizeram.

Decidiram abrir uma conta num Banco com as suas identidades falsas oriundas do Canadá. Entretanto, mudaram-se para Canterbury, no sudeste de Inglaterra, onde se misturaram com a população, fazendo-se passar por estudantes de intercâmbio.

Porém, o casal precisava de dinheiro e acabou por montar um esquema para obtê-lo facilmente. Em Londres, na cadeia de roupa Marks & Spencer, procuravam as peças mais caras que encontravam e pagavam com um cheque sem fundo. Antes que o cheque fosse devolvido, iam a outra loja da mesma marca e devolviam os itens recebendo o reembolso em numerário.

O esquema funcionou durante algum tempo mas, no dia 30 de Abril de 1986, acabaram por chamar a atenção de uma empregada de balcão que alertou a Polícia.

O casal foi chamado à esquadra. Elizabeth e Jens tentaram iludir a Polícia vestindo a pele das suas novas personas mas não conseguiram convencer.

O apartamento onde viviam foi revistado e os Agentes acabaram por descobrir várias peças de roupa com os recibos agregados. Para mais, encontraram várias identidades, incluindo as verdadeiras, bem como cartas trocadas entre ambos.

Entre promessas de amor eterno entre os amantes, a Polícia viu algo que os chamou a atenção. Os jovens faziam menções a um homicídio. Tinham escrito a forma como tinham limpo as suas impressões digitais e uma carpete do local de um homicídio.

Num dos diários de Elizabeth podia ler-se: "Será possível hipnotizar os meus Pais, fazer vudu neles e levá-los à morte? (...) Parece que a minha concentração nas suas mortes, está a causar-lhes problemas. (...) Os meus Pais estão a ficar zangados. Podemos esperar até nos licenciarmos e deixá-los para trás ou podemos livrar-nos deles brevemente."

Elizabeth, neste registo, referia-se ao acidente de ski que os seus Pais tinham sofrido. Derek quase tinha caído de um penhasco e, caso isso tivesse acontecido, certamente que não conseguiria sobreviver aos ferimentos. Para mais, noutra ocasião, quase tinha sido esmagado por um árvore que caiu. Já Nancy, numa situação em que tinha ingerido demasiado álcool, deixou-se cair para uma lareira. Porém, nenhum destes acidentes tinha tido consequências maiores. Ainda assim, Elizabeth começou a convencer-se que tinha um dom de fazer as coisas acontecerem. Bastava desejá-las e agregá-las a magia negra e todos os seus desejos seriam concretizados.

Noutra entrada do seu diário, Elizabeth escreveu: "Fizeste-o por mim!"

Apesar dos Agentes não saberem de que homicídio se tratava ou mesmo se era real, detiveram o casal por emitirem cheques sem fundo. Podiam ganhar tempo até conseguirem esclarecer o assunto.

Numa avaliação mais pormenorizada das cartas, os Agentes descobriram o nome dos Detectives no caso do assassinato. Eram referidos como "bimbos locais que não faziam ideia de como fazer o seu trabalho".

No dia 30 de Maio, 7 meses após o casal fugir dos EUA, os Detectives da Virginia, receberam a chamada das suas vidas. Tratava-se de uma chamada provinda de Londres e o Agente confirmava ter Elizabeth e Jens sob custódia. Seguiu-se uma pergunta: "Os Pais dela foram assassinados?"

Assim que o Agente ouviu a resposta do outro lado do oceano, acrescentou: "Os assassinos estão presos na minha Esquadra!"

Inicialmente, os Agentes norte-americanos acharam que se tratava de uma partida, tal era a sorte com que se sentiam mas, certezas garantidas, voaram de imediato para Londres para interrogar os seus suspeitos.

De acordo com as leis inglesas, e sendo que as cartas não eram prova suficiente, os Agentes podiam entrevistar o par durante 4 dias. Caso não encontrassem pistas concretas para os deter por homicídio, não podiam mantê-los por mais tempo, sendo que o casal encararia apenas acusações por fraude. O ideal seria uma confissão.

Entrevistaram Elizabeth com uma táctica contrária à habitual. Queriam apanhá-la de surpresa e assim enervá-la. Começaram por pedir-lhe que descrevesse o amor que tinha pelos seus Pais. A rapariga romanceou tudo, toda a relação com os seus Pais, o amor por eles era infinito. Quando os Agentes se cansaram de ouvir tanta mentira, confrontaram-na com as entradas no seu diário e com as cartas escritas a Jens, onde desejava a morte dos seus Pais. Elizabeth ficou abalada. Não tinha contado com aquilo.

Foi confrontada com o facto de ter sido o seu namorado a cometer os homicídios e com o facto de ter conhecimento disso e de não ter feito nada para impedir Jens de matar os seus Pais. Negou ter conhecimento das intenções do seu namorado mas não negou as acusações contra Jens.

Paralelamente, Jens, mais uma vez, mostrou-se inabalável. Com a sua arrogância e mania da superioridade estampada na cara continuou a contar a história inicial do casal. Porém, segundo Gardner, Jens perguntou se podia ser extraditado para a Alemanha. Lá, devido à sua idade na altura dos homicídios, seria julgado como juvenil. Jens Soering, acrescentou ainda que "ia cumprir, no máximo, 5 anos".

Explicou a sua preocupação em relação ao local do seu julgamento. Se fosse extraditado para o Estados Unidos, nomeadamente para o Estado da Virginia, os americanos iam fritá-lo. Naturalmente que Jens estava a referir-se à pena de morte e à cadeira eléctrica.

Quando Gardner lhe perguntou porque razão estava com a aquela conversa, Jens respondeu "Porque fui eu que os matei e tu sabes perfeitamente disso!".

O jovem contou a sua versão dos eventos.

O casal tinha viajado para Washington DC no dia 29 de Março de 1985. No dia seguinte, Jens pegou na viatura alugada e regressou a Redford. Elizabeth ficou em Washington de forma a assegurar um álibi para ambos. Comprou bilhetes para o cinema e, posteriormente, regressou ao hotel solicitando uma refeição através do serviço de quartos, para 2 pessoas.

Jens tinha o intuito, apenas, de conversar com os Pais da sua namorada. Contudo, caso a conversa não corresse como queria, ia assassiná-los. Aliás, Jens saiu do hotel já com uma faca no bolso pois, a probabilidade de executar o casal Haysom naquela noite, era enorme.

O jovem bateu à porta dos Haysom e, um pouco contrariado, Derek convidou-o a entrar. Sentou-se à mesa com o casal e tentou convencer Derek e Nancy de que era digno de Elizabeth. Porém, tal como já suspeitava, a reacção não foi a melhor. Derek voltou a sublinhar que Elizabeth era superior a Jens e que não aprovava aquela relação, exigindo-lhe que se afastasse da Filha. Nancy ameaçou-o de o expulsar da Universidade da Virginia, caso não terminasse a relação com Elizabeth.

Jens, explodiu de raiva e lançou-se ao pescoço de Derek, ferindo-o com a faca que tinha trazido.
Nancy correu para a cozinha para, também ela, se munir com uma faca e assim poder defender-se. Porém, não conseguiu cumprir o seu objectivo, tendo sido atacada, já na cozinha, e perdendo contra o seu agressor.

Jens continuou com a sua confissão, dizendo que tentou disfarçar as pegadas besuntando o sangue pelo chão da casa com os seus pés. Depois, dirigiu-se ao andar de cima onde se lavou numa das casas de banho, retirou as suas roupas ensanguentadas e fugiu do local.

Segundo as suas declarações, tinha permanecido na casa por cerca de 45 minutos.

Quando Elizabeth teve conhecimento que Jens estava a desviar-se da versão combinada, ainda que não soubesse exactamente o que estava a contar, pediu a presença de um Advogado. Após reunir com o seu representante, decidiu contar a sua própria versão dos eventos.

Tinha ido para Washington DC para providenciar um álibi para ambos. Comprou 2 bilhetes para o cinema e depois dirigiu-se ao quarto de hotel. Mandou vir o serviço de quartos para 2 pessoas apesar de se encontrar sozinha e depois voltou ao cinema mas manteve-se à porta a aguardar pela chegada do namorado.

Confessou ter limpo o sangue dos seus Pais que se encontrava no interior do veículo alugado e de descartar as roupas que Jens tinha usado durante os ataques.

No dia 30 de Dezembro de 1986, a Polícia acusou Elizabeth por cumplicidade antes do acto, referente aos assassinatos dos seus Pais. Elizabeth não quis a extradição para o seu País de origem, Canadá. Deu-se como culpada pelas acusações e teve uma audiência em Tribunal, no Estado da Virginia, que durou 3 dias.

Após uma avaliação psicológica, a jovem foi considerada uma mentirosa patológica com síndrome de borderline. Não conseguia ver a realidade tal como ela existia, distorcendo os factos. Porém, foi considerada sã e, por isso, não podia sair do Tribunal impune.

No dia 23 de Agosto de 1987, foi considerada culpada e sentenciada a 45 anos por cada morte, a serem cumpridos consecutivamente.

Já Jens foi acusado por 2 crimes de homicídio qualificado.

Fez de tudo para não voltar aos EUA, onde podia enfrentar uma sentença de morte. Se julgado na Europa, onde a maior parte dos países já aboliu a sentença de morte há muito, não corria esse risco. Aliás, se fosse julgado na Alemanha, seria como juvenil e cumpriria apenas de 5 a 7 anos num campo de trabalho.

As suas tentativas de não regressar aos EUA foram infrutíferas. Após 3 anos de batalhas, sentou-se no banco dos réus num Tribunal da Virginia. Porém, os EUA tinham retirado uma eventual sentença de morte, caso fosse considerado culpado.

A Acusação teve como base a sua confissão dada em Inglaterra e as cartas trocadas entre os amantes.

Elizabeth também testemunhou em Tribunal contra o seu ex-amante. Admitiu querer ver-se livre dos seus Pais. Não os queria mortos, apenas não os queria por perto.
Tentou convencer o júri que, devido aos seus desvios psicológicos, não sabia distinguir bem as duas situações e que não soube medir as consequências. Contou que, quando Jens lhe contou o seu plano, Elizabeth implorou-lhe que não o cumprisse mas Jens não a ouvia, fazia sempre tudo o que queria. A jovem confidenciou ainda que Jens Soering tinha outra pessoa na mira. Assim que se livrasse daquelas acusações, ia assassinar o Capitão Ricky Gardner.

Robert Hallett, um cientista forense, foi a testemunha mais forte do caso contra o jovem. O cientista colocou-o na residência dos Haysom a partir das pegadas deixadas pelo assassino. Comparou as de Elizabeth e as de todas as pessoas que tiveram acesso à residência, sendo que a única correspondência que teve, foi a pegada de Jens.

Por fim, foi Elizabeth Haysom que se sentou no banco das testemunhas. Entre outras coisas, referiu que Jens lhe tinha confidenciado quematar os seus Pais tinha sido a coisa mais maravilhosa que tinha feito, até porque o tinha feito por ela. Para além disso, era tão maravilhoso porque jamais alguém descobriria.

A Defesa contra-atacou, referindo que Jens tinha sido apanhado na teia manipuladora da sua namorada. Elizabeth tinha sido o cérebro de toda a operação. Jens era um jovem imaturo, ingénuo e pouco vivido e que, quando Elizabeth lhe deu atenção, se deixou levar pelo seu plano assassino e malévolo. Tratava-se de um jovem apaixonado que tinha sido levado a acreditar no amor de uma jovem manipuladora.

Jens também se sentou no banco das testemunhos em sua própria defesa.

Contou que o casal tinha combinado que, caso fossem apanhados, seria Jens a assumir os homicídios. Tendo apenas 18 anos na altura dos crimes e, sendo filho de um Diplomata alemão, seria imediatamente extraditado para a Alemanha e julgado como juvenil, cumprindo cerca de 5 anos. Elizabeth prometeu esperar pelo amante e, logo que os 5 anos passassem, voltariam a estar juntos e felizes. Para sempre. Jens não tinha cometido crime nenhum. Tinha ido ao cinema e permanecido no hotel. Ele, sim, tinha sido apanhado nas teias de Elizabeth. Ela, sim, era uma criminosa, ingrata e manipuladora.

No dia 21 de Junho de 1990, após 4 horas de deliberações, o júri chegou a acordo. Considerou Jens Soering culpado. O jovem foi sentenciado a prisão perpétua.

A liberdade condicional foi concedida a Elizabeth Haysom, em Novembro de 2019, sob a condição de abandonar o país de forma imediata. Elizabeth regressou ao Canadá em Janeiro de 2020.

No mesmo mês, após 14 negas a Jens, a liberdade condicional foi-lhe finalmente concedida com a condição de ser extraditado para a Alemanha.

Jens Soering mantém a sua inocência até aos dias de hoje. Escreveu livros e deu várias entrevistas a canais de televisão, incluindo ao Dr. Phil.

Em 2023, a Netflix lançou o documentário Till Murder Do Us Part: Soering vs. Haysom.

Segundo as suas declarações, os acontecimentos foram semelhantes aos que Elizabeth descreveu, no entanto, com os papéis invertidos.

Informou que não sabia dos planos da sua namorada e só teve conhecimento do sucedido quando Elizabeth regressou ao hotel. A jovem chegou branca e repetia incessantemente "Matei os meus Pais. Matei os meus Pais". Estava, sem dúvida, em estado de choque.

Quando, finalmente, conseguiu acalmar-se, contou o que se tinha passado e pediu-lhe que confirmasse que ela não tinha saído junto de si.

Jens, apaixonado pela jovem fragilizada diante de si, tomou imediatamente a decisão de ter que a proteger. Tinha que assegurar-lhe um álibi, caso contrário, os americanos iam matar a sua amante. Foi naquele segundo que tomou a decisão de, caso fossem apanhados, assumiria os homicídios por Elizabeth.

Realmente, a confissão de Jens tinha algumas incongruências. Na sua confissão, contou ter ferido Derek e Nancy no pescoço. Os primeiros golpes, segundo a sua declaração, tinham sido naquela zona do corpo. Contudo, nem Derek nem Nancy apresentavam ferimentos no pescoço. Tinham sido esfaqueados no peito e em cheio no coração.

Primeiramente, o jovem também contou ter deixado o cadáver de Derek na sala, porém, o homem tinha sido encontrado no hall de entrada da casa, junto à porta principal.

Disse ainda que Nancy tinha umas calças de ganga vestidas quando, na realidade, tinha um roupão floral vestido por cima de uma camisa de dormir.

Outro técnico forense, para além de Robert Hallet, também avaliou as pegadas deixadas no local do crime. Encerrou a sua avaliação com o resultado de inconclusivo. Não conseguiu, com certeza, fazer a correspondência da pegada de Jens com nenhuma das deixadas no local do crime.

Jens Soering e os seus gritos de inocência, fizeram com que algumas pessoas proeminentes viessem a público em sua defesa.

Martin Sheen, actor norte-americano;

Jason Flom, executivo, podcaster e filantropo da indústria musical norte-americana (responsável por lançar Katy Perry na música) e fundador do Innocence Project.

Flom é responsável pela libertação de mais de 2.500 pessoas, condenadas injustamente;

Angela Merkel, a chanceler alemã;

Chuck Reid, um dos investigadores destacados para o caso na altura dos acontecimentos; Chip Harding, Xerife que, após os acontecimentos, investigou o caso;

Fonte desta informação: Documentário da ABC, 20/20, Would You Kill For Love.

Quando Jens foi libertado, lamentavelmente, a sua Mãe já tinha falecido. Já o seu irmão e Pai, apesar de terem estado nas audiências em Tribunal e na maioria das audiências dos seus pedidos para liberdade condicional, foram, lentamente, afastando-se de Jens.

Mais tarde, em entrevistas após a libertação de Elizabeth Haysom e Jens Soering, falou-se do verdadeiro motivo para os crimes. Existem alegações de abuso sexual de Nancy sobre Elizabeth. Foram encontradas várias fotografias de Elizabeth, ainda uma criança, completamente nua. Na altura, confrontada com a descoberta, Elizabeth negou terem existido abusos sexuais, alegando que as fotos eram usadas pela Mãe para fins artísticos.

Contudo, numa entrevista em 2016, Elizabeth confirmou os abusos, dizendo que tinham durado cerca de 8 anos.

Na realidade, há quem acredite na inocência de Soering, sendo que não existiram provas forenses que o colocassem na residência naquela data.

Não se sabe, ao certo, o que realmente aconteceu ou quem matou o casal Haysom. Elizabeth é considerada uma das perpetradoras do crime, porém, nunca se descobriu a quem pertencia o quarto tipo de sangue que foi descoberto no local.

Sendo Elizabteh culpada, provavelmente teve ajuda de alguém que, supostamente, continua a monte.

Jens Soering, nas suas declarações, acredita que Jim Farmer pode ter estado ligado ao crime. Jim era o dealer de Elizabeth e organizou uma festa do seu aniversário, no dia 30 de Março de 1985, numa localidade perto da residência dos Haysom. Jima Farmer faleceu há já alguns anos.

Ricky Gardner, também ele já falecido, sempre acreditou na culpa de Soering. Já Chuck Reid, o outro Detective encarregue do caso, sempre fez parte da equipa de apoiantes de Soering.


SITE DE JENS SOERING: https://www.jens-soering.com/

MAIS INFORMAÇÕES: https://www.killingforlove.com/

Documentário Netflix: https://www.netflix.com/pt/title/81445995

Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=IYiotAQQA-A

Reacção ao Documentário por parte de Jens Soering: https://www.youtube.com/watch?v=JkhPEB_l78E


Blobituário
Os Crimes mais Horripilantes da História.
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