O Homicídio do Casal Pittman
Foi no dia 28 de Novembro de 2001 que os Bombeiros foram chamados para apagar um incêndio numa residência em Chester, na Carolina do Sul.
No escombros da casa foram encontrados 2 cadáveres. Tratavam-se de Joe e Joy Pittman que tinha sido mortos enquanto dormiam na sua cama. Porém, não tinha sido o fogo a matá-los. O casal Pittman tinha sido executado com tiros.
Foi Christopher Pittman, o seu neto, quem os assassinou.

Christopher Pittman, nascido a 9 de Abril de 1989, bem como a sua irmã Danielle, não tiveram um início de vida fácil.
Foram abandonados pela Mãe, tendo ficado a viver com a Avó Materna, Dell.
Dois anos após ali permanecerem, foram mandados para casa dos Avós Paternos, em Chester, na Carolina do Sul.
Os irmãos demonstraram ser crianças afáveis, bem educadas e respeitadoras, tendo-se adaptado à sua nova realidade com alguma rapidez.
Joe Pittman, o Pai, voltou a casar e quis os seus Filhos junto de si. Chris e Danielle foram então mandados para viver com o novo casal em Oxford, na Flórida. A relação entre o casal não se mostrou duradoura e, antevendo um divórcio, Joe voltou a enviar os Filhos para junto dos Avós.
Apesar de todas as mudanças, as crianças continuavam estáveis e com comportamentos típicos. Sabiam aproveitar o seu tempo com os seus Avós, Joe e Joy Pittman, indo à missa, praticando passatempos em comum e criando laços na comunidade.
Porém, a estabilidade das crianças foi novamente interrompida quando o Pai, após o divórcio completado, quis novamente os Filhos junto de si. Para mais, a Mãe de Chris e Danielle voltou a entrar nas suas vidas de rompante. Contudo, tão depressa voltou a entrar como a sair. A mulher voltou a subir as expectativas às crianças e voltou a abandoná-las.
Ainda que Danielle tenha lidado bem com todas estas situação, foram demasiadas turbulências para o pequeno Chris conseguir suportar.
Lentamente, após todos estes acontecimentos, Chris começou a mudar a sua personalidade. Transformou-se num menino depressivo, triste, irritadiço e instável.
Chegou a fugir da casa do seu Pai, pelo menos 2 vezes, para ir ao encontro de Joy e Joe. Na primeira vez, a Polícia encontrou Chris a cerca de meio quilómetro da casa do Pai. Informou não aguentar mais viver naquela casa. Não aguentava mais olhar para a cara do seu Pai.
Meia dúzia de dias após este acontecimento, Chris pegou numa faca da cozinha e ameaçou matar-se. Dizia não aguentar mais ficar ali.
Joe, sem grandes saídas para ajudar o Filho, decidiu institucionalizá-lo. O menino foi diagnosticado com depressão crónica, ainda que ligeira, sendo medicado com Paxil. Tratava-se de um antidepressivo forte para controlar os seus sentimentos. Mas não constituía um perigo para os outros. Chris era uma ameaça para si próprio.
Em Outubro de 2001, passados apenas 6 dias do internamento, o seu Pai decidiu tirá-lo da instituição e voltar a mandá-lo viver com os seus Avós.
Ali tinha sido feliz e talvez regressado àquele ambiente, podia recuperar aqueles sentimentos de felicidade antigos. A aposta era que as regras e amor do casal Pittman pudessem controlar o menino mas, acima de tudo, curá-lo.

Os moradores de Chester ficaram contentes com o regresso de Chris, no entanto, também eles notaram a diferença na sua personalidade. Tinha-se tornado num miúdo tímido, agitado, quase antissocial.
Mas, mais que a comunidade, foram Joy e Joe que notaram o declínio de Chris. Na tentativa de o continuarem a ajudar e, para dar continuidade ao tratamento, os Avós levaram a criança a um médico local. Mas, sendo que a clínica não tinha o mesmo remédio, facultaram-lhe outro fármaco, ainda que do mesmo espectro, Zoloft.
Dias após a mudança de medicação, Chris queixou-se à sua Tia Mindy de ardor no peito e dizia que sentia a sua pele como se estivesse a derreter. Não queria continuar a tomar aquela medicação. Sentia os efeitos secundários físicos e poucas melhoras na sua saúde mental.
No dia 26 de Novembro, os seus Avós voltaram a levar Chris ao Médico. Perante as suas queixas, decidiram duplicar a dosagem de Zoloft.
No dia 28 de Novembro de 2001, tal como habitual, Joe, Joy e Chris foram à missa.
Christopher apresentava-se zangado e com um comportamento errático. Horas antes, no autocarro da escola, tinha discutido com um colega e tinha tentado sufocá-lo.
Já na igreja, pontapeou o banco do pianista vezes sem conta. Ignorou os pedidos dos Avós para que se comportasse e acalmasse. Zangados com o neto, saíram da missa antes que terminasse, regressando a casa de imediato.
Quatro horas após saírem da igreja, a casa dos Pittman estava em chamas.
Os bombeiros chegaram ao local mas pouco conseguiram fazer. A casa ficou reduzida a escombros. Porém, ainda havia esperança que não estivesse ninguém no seu interior, sendo que a carrinha do casal não se encontrava à porta, como habitual.
Assim que conseguiram extinguir o fogo, as Autoridades pesquisaram o local. Infelizmente, Joe, de 66 anos e a sua esposa, Joy de 62, foram encontrados carbonizados na cama. Já Chris não foi encontrado em lado nenhum.
Chris foi encontrado poucas horas após o incidente. Encontrava-se a cerca de 50 km da casa dos Avós, numa zona de mato. Estava com a carrinha do casal, com o cão da Família e com várias armas pertencentes a Joe. Foram 2 caçadores que o interpelaram.
Chris disse ter sido raptado mas que tinha conseguido fugir do raptor. Os homens ligaram imediatamente às Autoridades.
Enquanto o jovem explicava os acontecimentos daquele serão, as Autoridades faziam descobertas no que restava da casa dos Pittman. Joe e Joy não tinham morrido no incêndio. O casal tinha sido morto a tiro. Tinham sido alvejados na cabeça.
Apesar das desconfianças das Autoridades, a comunidade e a Família de Chris não acreditaram nos rumores. No entanto, após algumas horas a ser interrogado por um Detective especializado em crianças, Christopher Pittman confessou ser ele o assassino dos seus Avós. Tinha disparado 4 tiros contra as pessoas que mais o amavam e que o tinham recebido sempre de braços abertos.
Tinha apenas 12 anos quando assassinou os seus Avós enquanto dormiam.
Durante o interrogatório, Chris não apresentou nenhum comportamento psicótico, não afirmou ouvir vozes, não demonstrou remorsos. Segundo os Investigadores a quem Chris confessou os crimes, pareceu ter planeado meticulosamente os seus actos. Chegou a dizer-lhes que não estava arrependido e que Joe e Joy tinham merecido aquele fim.
Caso tivesse sido algum surto psicótico, provavelmente, não teria tentado eliminar as provas. Fê-lo incendiando a casa. Colocou velas em várias áreas da residência e papéis em locais estratégicos para que, lentamente, a casa ardesse. Até que alguém notasse que a casa estava em chamas, Chris teria tido tempo para se afastar daquele local e fugir para algum lado, a fim de viver a sua vida livremente.
Foi Joe, o Pai de Chris que falou com o Advogado Andy Vicary acerca dos acontecimentos e acerca da medicação da criança. O homem, habituado a lutar contra as farmacêuticas que, muitas vezes, escondem os efeitos secundários dos fármacos, aceitou pegar no caso pro bono. Acreditou que a mudança de medicação e, acima de tudo, a duplicação da dosagem, tinham levado Chris a cometer aqueles actos.
Apesar de existir uma boa parte da população a tomar os mesmos fármacos, Andy acreditou que Pittman, com uma mente frágil devido à sua infância, ficou mais susceptível a alterações químicas do cérebro, deixando de conseguir controlar os seus pensamentos mais horrorosos, passando-os à prática.

As questões de antidepressivos administrados, principalmente, a crianças e adolescentes foi largamente discutida na sociedade americana. Existiam vários casos de efeitos secundários em adolescentes, porém, tratavam-se de casos de suicídio e violência contra o próprio. À data, não existiam casos de homicídios eventualmente provocados pela toma de antidepressivos.
Perante os factos, um juiz decidiu que Chris Pittman devia ser julgado enquanto adulto, apesar da sua idade na altura dos crimes. O julgamento iniciou-se em 2004 sob as acusações de 2 homicídios dolosos.
A Defesa alegou que o medicamento Zoloft não era apropriado para o rapaz e que o mesmo provocou um efeito secundário. Um momento psicótico que provocou alucinações.
No entanto, por cada médico chamado a tribunal em defesa de Chris e culpando o medicamento, houve outro pela acusação a argumentar que o fármaco jamais originaria o tipo de actos praticados por Chris.
A Acusação acreditou que Chris sabia distinguir o bem do mal e que, por isso mesmo, pegou fogo à casa a fim de destruir as provas. Sinal de que estava são e em plenas faculdades mentais. Até porque, tal como referido, Chris tinha deixado pontos de incêndio estrategicamente espalhados pela casa. Para mais, caso estivesse baralhado em relação aos acontecimentos, Chris não inventaria a história do rapto.
Explanaram também o facto de, nas vezes anteriores em que tinha fugido da casa do Pai, não tinha assassinado a sua Família. Desta vez, muito provavelmente devido às ameaças dos Avós em mandá-lo novamente para casa do Pai, não quis deixar testemunhas ou correr o risco dos Avós cumprirem a ameaça.
De acordo com as suas próprias palavras, Chris sabia distinguir o bem do mal e tinha noção que os seus actos estavam errados. Porém, não conseguiu controlar os seus impulsos. Informou que sentiu uma raiva que nunca tinha sentido e que transbordou de dentro de si.
Explicou que, apesar destes sentimentos, tentou seguir com a sua vida dentro do Centro de Correcção Juvenil, talvez não se apercebendo do quão horrífico tinha sido. Isto, até ser confrontado com o julgamento e com as provas que foram apresentadas no tribunal.
Chris Pittman, após os assassinatos, teve o apoio de toda a sua Família. Consideraram que os actos do rapaz se deveram ao fármaco e que Chris não teve controlo sobre as suas acções.
Durante o julgamento, existiram ainda acusações de Chris contra o seu Pai sobre abusos e violência. Apesar do Pai ter estado sempre do lado do seu Filho nunca admitiu tais actos e a Defesa não conseguiu prová-los.
Foi-lhe oferecido um acordo caso assumisse os homicídios de forma involuntária. No entanto, sem saber qual a pena que lhe seria aplicada e considerando que jamais 12 júris unanimemente o considerariam culpado, a equipa de Defesa declinou.
No dia 15 de Fevereiro de 2005, após 7 horas a deliberar, o júri chegou a um veredicto unânime. Christopher Pittman foi considerado culpado pelos homicídios de Joe e Joy Pittman, sendo sentenciado a 30 anos de prisão. A sentença ficou pelo período mínimo para homicídios voluntários.
A Defesa recorreu da sentença e Pittman viu a sua pena ser reduzida para 25 anos de cadeia.
Enquanto na prisão, Christiopher assumiu-se como transgénero, mudando o seu nome para Kristen Avery Pittman.
Foi no dia 22 de Fevereiro de 2023 que saiu em liberdade condicional, durante 2 anos. Após essa data, poderá viver livremente, ao contrário dos seus Avós e de todos os que os rodeavam.