Os Escândalos da Família Murdaugh

16/02/2024

Ainda que a história da Família Murdaugh seja quase secular, esta, em particular, teve início no dia 7 de Junho de 2021.

Foi durante o serão deste dia que Alex Murdaugh ligou para 911.

Tinha acabado de encontrar a sua esposa, Maggie, de 52 anos, e o seu filho mais novo, de 22 anos, Paul, baleados mortalmente.

Paul, agora deitado inerte no chão da propriedade Moselle da Família Murdaugh, estava indiciado por 3 crimes, entre os quais, condução sob o efeito de álcool e homicídio por negligência.

Maggie, Paul e Alex Murdaugh
Maggie, Paul e Alex Murdaugh


Foi Mallory Beach, na altura da sua morte com 19 anos, que veio a falecer na sequência de um acidente de barco no dia 24 de Fevereiro de 2019.

Mas as histórias não se ficavam por aqui.

Stephen Smith, um jovem de 19 anos, assumidamente homossexual e ex colega de Buster, o Filho mais velho de Alex Murdaugh, foi encontrado morto no dia 8 de Julho de 2015, no meio de uma estrada rural.

A sua morte, na altura, foi considerada consequência de um atropelamento e fuga.

Também Gloria Satterfield, na altura com 57 anos, empregada doméstica da Família, foi encontrada morta na propriedade Moselle no dia 2 de Fevereiro de 2018.

Outra história com contornos, no mínimo, estranhos.

No entanto, o dia 7 de Junho de 2021 foi o início de um baralho de cartas que depressa se desmoronou para a Família Murdaugh e, em especial, para Alex Murdaugh.

Alex, afinal, era um mentiroso, ladrão, toxicodependente e um assassino.

Como é que Alex Murdaugh passou de um proeminente e bem sucedido Advogado a um prisioneiro com uma sentença de 2 prisões perpétuas?

Será que estas penas, na sequência dos homícídios, têm fundamento? Terá ficado provado que foi Alex Murdaugh o autor dos assassinatos de Paul e Maggie?

As inconsistências destes crimes são muitas. Tanto do lado da defesa como da acusação.

Dos assassinatos, aos diálogos, aos dados de telemóveis e GPS até ao julgamento.

Esta é a longa história que começa com as brutais mortes de Maggie e Paul Murdaugh.

A HISTÓRIA FAMILIAR

Há mais de um século que os Murdaugh, criando a sua própria empresa de Advocacia, enraizaram o seu nome na Carolina do Sul.

Desde 1920, 10 anos após a criação da empresa (PMPED), que os Murdaugh trabalharam como Procuradores.

Randolph Murdaugh Senior, o fundador da empresa, faleceu num acidente de comboio em 1940. Foi então sucedido pelo seu Filho, Randolph Buster Murdaugh que manteve a posição até à reforma, em 1986.

Randolph Murdaugh III, sucedeu ao seu Pai, servindo o Estado até 2005.

Os Murdaugh, estreitando relações com a área judicial, política e com as polícias, rapidamente se tornaram numa Família de respeito, de conhecimentos, influências e distinta entre os seus demais.

Alex Murdaugh, nascido a 27/05/1968 e Filho de Randolph III, exerceu esta profissão como adjunto do seu Pai, no entanto, escolheu enveredar pela prática de advocacia, exercendo para a empresa da Família.

Maioritariamente, tratava de casos de sinistros, indemnizações, acidentes e tornou-se num advogado muito bem sucedido.

Contudo, este sucesso não se devia apenas a fruto do seu trabalho mas também aos milhões que desviou da empresa da Família e que roubou a muitas vítimas ao longo da última década. Por alto, apuraram-se 9 milhões de dólares que foram directamente para os bolsos de Alex indevidamente. Mais um dos escândalos a juntar-se aos demais.

Alex Murdaugh e Margaret Kennedy Branstetter, nascida em 15/09/1968, mais conhecida como Maggie, conheceram-se enquanto ambos estudavam na Universidade da Carolina do Sul. No dia 14 de Agosto de 1993 deram, oficialmente, o nó.

Em 1996 nasceu o Filho mais velho do casal, conhecido como Buster.

Mais tarde, em 14/04/1999, nasceu Paul, o último filho do casal Murdaugh.

Na altura das mortes de Paul e Maggie, a Família tinha-se mudado para a sua casa em 4147 Moselle Road. Uma propriedade com mais de 7 mil km².

Casa de Moselle Road
Casa de Moselle Road

Não era o lugar favorito de Maggie mas os Filhos e o Marido, desde a sua aquisição, que adoravam passar tempo naquele lugar. Um óptimo espaço para plantar, pescar e caçar.

A Família costumava viver em Hampton, contudo, desde o acidente de barco em que Paul tinha estado envolvido, que Maggie notava uma certa frieza por parte dos habitantes para com ela e sabia que Paul era abordado negativamente por causa do acidente e da consequente morte de Mallory Beach.

Foi então que decidiram dividir o tempo entre a casa de Praia em Ediston Island e a propriedade Moselle, ainda que Maggie permanecesse mais tempo em Ediston.

Já Paul permanecia com frequência em casa do seu Tio John, para quem trabalhava. John estava ligado a equipamentos agrícolas e Paul, há cerca de 3 anos, que ajudava o tio por cerca de mês e meio durante as férias de Verão.

Buster, pelo menos na altura dos homicídios, encontrava-se em casa da namorada, em Rock Hill, a mais de 300 kms de distância.

O LOCAL DO CRIME

Sem dúvida que tinham sido usadas 2 armas.

Paul tinha sido atingido por uma shotgun e Maggie por uma 300 blackout rifle.

De acordo com a investigação, Paul terá sido o primeiro.

Na altura do ataque, encontrava-se no interior do armazém de ração. O primeiro tiro atingiu Paul no peito e no braço esquerdo. Não tendo sido fatal, acredita-se que Paul foi em direcção ao seu assassino. Alex terá tropeçado e caído na soleira da porta do armazém. Enquanto o seu filho se aproximava, Alex terá disparado um segundo tiro, mesmo deitado no chão, que entrou do lado esquerdo de Paul e lhe terá atravessado a cabeça. Este segundo tiro causou um ferimento mortal, espalhando partes do cérebro de Paul pelos arredores e fazendo-o cair para a frente.

Existia sangue e tecido humano à entrada do armazém, na soleira da porta, na parede e no tecto. Existiam também respingos de sangue, deixados em alta velocidade, no cimo da porta, na prateleira do interior do armazém e no chão.

Já na altura do primeiro tiro, Maggie, que se encontrava na zona dos canis, há de ter ido em auxílio do seu Filho.

Alex terá chegado à moto-quatro e terá retirado a segunda arma da viatura. Assim que Maggie virou a esquina, foi atingida a tiro na perna esquerda. Um segundo tiro ainda terá sido disparado mas falhou o alvo.

Maggie terá conseguido ainda fugir uns metros do local onde se encontrava. Aí foi novamente atingida, desta vez, no pulso. A bala saiu do seu corpo e terá ficado alojada numa das paredes do canil.

O assassino continuou, atingindo novamente a mulher, desta vez, no estômago. A bala saiu pela zona do fígado e alojou-se no galinheiro da propriedade.

Por esta altura, Maggie já estava no chão, possivelmente, com os joelhos e palmas das mãos apoiados no solo. Ainda assim, foi novamente atingida. Esta bala entrou-lhe, por trás, pelo lado esquerdo do peito, saindo pela cabeça. Inacreditavelmente, o assassino voltou a disparar. Desta vez, na parte de trás da cabeça.

A mangueira usada para limpeza dos canis estava pendurada no local habitual. Ainda assim, pelo testemunho do zelador, não se encontrava arrumada à sua maneira. Havia também água no chão envolvente à zona dos homicídios. Isto é, alguém tinha mexido na mangueira após a sua saída da propriedade.

Possivelmente, o assassino tinha tentado eliminar algumas provas passando água no local.

Nenhuma das armas usadas para aniquilar Maggie e Paul foram encontradas. No entanto, acredita-se que ambas pertenciam aos Murdaugh sendo que foram encontrados cartuchos iguais aos utilizados naquela noite, ainda novos, na propriedade da Família. Para além disso, uma das peças fundamentais era a de que a Polícia tinha encontrado vários cartuchos pela propriedade. Estes cartuchos pertenciam às armas usadas nestas mortes. Ficou provado em Tribunal que aqueles cartuchos, disparados antes daquele serão em situação de brincadeira e caça, pertenciam mesmo à Família. Uma das armas era a preferida de Alex Murdaugh.

Segundo o próprio Alex, a Família detinha cerca de 20 a 25 armas de fogo na propriedade.

OS ASSASSINATOS E A INVESTIGAÇÃO

Foi no dia 7 de Junho de 2021, às 22h06, que Alex Murdaugh ligou para o 911.

AM - Fala Alex Murdaugh de 4147 de Moselle Road. Preciso da polícia e de uma ambulância. A minha mulher e filho foram baleados.

OP - Disse 4147 Moselle Road em Arlington?

(...)

AM - Sim. 4147 Moselle Road.

OP - Ok. Fique na linha.

O operador passou a chamada para o Call Center do Condado de Colleton com a informação.

OP - Pode repetir-me a morada, por favor?

AM - 4147, Moselle Road. Estou aqui, é mau.

OP - Dispararam sobre eles próprios?

AM - Óh não! Nem pensar!

OP - Ok e estão a respirar?

AM - Não, Senhora.

OP - Disse que era a sua Esposa e o seu Filho?

AM - A minha Esposa e o meu Filho.

OP - Estão em algum veículo?

AM - Não, Senhora. Estão no chão, perto dos meus canis.

OP - Ok, e viu alguém? Estão a respirar?

AM - Não, senhora.

OP - Vê alguém na área?

AM - Não, senhora. Não, senhora.

OP - De que cor é o exterior da sua casa?

AM - É branca mas não a consegue ver da estrada.

OP - Ok. É uma casa ou uma casa móvel?

AM - É uma casa.

OP - Ok. E qual o seu nome?

AM - O meu nome é Alex Murdaugh.

OP - Ouviu alguma coisa ou chegou a casa e encontrou-os?

AM - Não, tenho estado fora, cheguei mesmo agora.

OP - Ok. E era suposto estar mais alguém em casa?

AM - Não, senhora. (...) Por favor, despachem-se.

OP - Já estamos a enviar alguém para ir ter consigo. Ok, qual o nome dela?

AM - Maggie. Maggie e Paul.

OP - Ela chama-se Maggie?

AM - Sim, ela é Maggie. Por favor, despachem-se.

OP - Já enviámos alguém. Estas perguntas não os vão atrasar. Tem a certeza de que não estão a respirar?

AM - ...

OP - Ele mexe-se? Disse-me que a sua esposa foi baleada... e o seu Filho?

AM - ... ninguém. Nenhum deles se mexe.

OP - Qual o seu número de telefone?

AM - (...)

OP - E está alguma coisa fora do sítio?

AM - ... não, nada em especial. Não, minha senhora. Eles estão perto?

OP - Sim, já estão na zona. Desde que estamos ao telefone já pus várias pessoas a caminho. Não quero que lhes toque, está bem? Não sei se já lhes tocou mas não quero que lhes toque no caso deles conseguirem retirar alguma prova, está bem?

AM - Já lhes toquei para ver se estavam a respirar.

OP - Ok, mas não quero que mude nada de sítio para o caso deles conseguirem retirar alguma evidência.

(...)

A polícia chegou ao local. Alex estava armado. Entregou a arma à Polícia e um dos agentes certificou-se de que não tinha mais nenhuma consigo.

Baixou-se, colocou as mãos nos joelhos e queixava-se: isto é mau. Levantou-se, cruzou os braços e fungava, enquanto respirava pesadamente.

O agente perguntou se tinha trazido aquela arma do interior da casa. Alex respondeu que sim, apressando-se a dizer que se tratava de uma longa história. Que o Filho estava envolvido num acidente de barco que tinha acontecido uns meses antes. Que tinha recebido algumas ameaças mas que algumas nem sequer as tinham levado a sério.

O Agente perguntou: A que horas chegou a casa? Assim que nos ligou? Foi a casa primeiro? Onde é a casa?

Alex respondeu: Fui a casa primeiro. A minha Mãe tem Alzheimer, num estado muito avançado e o meu Pai está no hospital. Não sei que horas eram mas posso ir ver ao meu telefone e dar-lhe as horas certas. Já os viu? Viu-os?

O Agente explicou que já estavam equipas a tratar do assunto.

As perguntas continuaram. O Polícia perguntou por onde Alex tinha vindo e onde tinha deixado o carro.

AM - Fui a casa e eles não estavam, o que era estranho. Tentei ligar e sabia que eles tinham estado aqui antes de eu sair para ir ver a minha Mãe...

Distraiu-se ao ver um dos Polícias a mexer na arma que lhes tinha entregue.

Acrescentou: isso está carregado, é melhor descarregá-la.

Calou-se.

O Polícia voltou a perguntar: Esta é a única arma que tem consigo? Esta é a única ou tem mais na carrinha?

Alex respondeu que achava que era a única, que tinha 99% de certeza de que tinha apenas aquela, acrescentando que, ocasionalmente, tinha uma pistola na carrinha.

O Agente pediu-lhe que esperasse ali por ele.

Através da sua câmara, conseguia ver-se que foi colocar a arma dentro da viatura da Polícia, regressando de imediato para perto de Alex que perguntou: Eles estão mortos, não estão?

O Polícia respondeu que sim, que era o que aparentava.

Alex, naquele momento, já estava ao telefone com um dos irmãos, enquanto choramingava, ainda que as lágrimas não fossem visíveis.

O Polícia continuou a fazer perguntas, na tentativa de perceber o que acabara de acontecer. Perguntou a Alex pela última vez que ali tinha estado ou que tinha falado com Maggie ou Paul.

Alex recompôs-se, limpando a cara à t-shirt branca que vestia e respondeu: Foi hoje no início da noite. Não sei precisar as horas mas... estive com a minha Mãe cerca de hora e meia e, por isso, vi-os uns 45 minutos antes de sair. Estive 2 horas com o Paul à tarde, na pick up. Já os foram ver? Viram-nos? É oficial que estão mortos?

Enquanto o Agente lhe respondia, uma vez mais, informando que sim, que parecia que estavam mortos, Alex choramingava, limpava a cara à t-shirt e acrescentou que tinha que ligar aos Pais de Maggie.

O Agente voltou a perguntar o nome da esposa. Alex respondeu: O nome dela é Maggie. Margaret Branstetter Murdaugh.

Simultaneamente, por Alex e pelo Agente, passava um dos operacionais a quem Alex disse: Como estás?

Continuou a responder a questões como os nomes completos e datas de nascimento. Distraía-se olhando para os corpos da Família, inertes no chão, junto aos canis da propriedade. Andava de um lado para o outro, para trás e para a frente, choramingava, limpava a cara à camisola, cruzava os braços...

O Agente, ao reparar em marcas de pneus no chão, perguntou ao Patriarca se as marcas eram todas da sua carrinha.

Respondeu que não, que tinha ali estado mais cedo e que tinha ido embora e que só tinha voltado agora. Talvez fossem de mais cedo mas que apenas 2 marcas eram dele... e que não tinha saído por aquele lado.

Já perto da 1 da manhã de dia 08/06/2023, através da câmara do veículo da Polícia, vemos Alex sentado no banco do pendura. No lugar do condutor um dos Agentes, David Owen, por trás deste Danny Henderson (advogado pessoal de Alex) e, ao lado dele, uma Agente do Departamento do Xerife.

David Owen, desculpando-se por estar a obrigar Alex a reviver aquele momento, pediu-lhe que começasse do início:

Quando cheguei aqui, encostei e pude vê-lo. Sabia que era mau. Desatei a correr. Sabia que era muito mau. O meu rapaz ali, podia ver que era...

E desatou num pranto, recebendo festas da Agente que se sentava atrás dele bem como do seu Advogado.

Continuou:

Conseguia ver os órgãos cerebrais dele. E corri para a Maggie. Aliás, acho que tentei virar o Paul primeiro. Sabe, tentei virá-lo... eu não sei, eu percebi... O telemóvel dele caiu do seu bolso, tentei fazer alguma coisa com ele, a pensar, talvez... mas depressa o voltei a colocar no sítio. Depois fui ter com a minha esposa... sabe, eu conseguia ver...

DAVID - Tocou na Maggie?

ALEX - Toquei. Toquei nos dois. Tentei fazer o mais limitado possível. Tentei ver a pulsação dos dois. Depois liguei para o 911, praticamente de imediato. Ela foi muito boa. Falei com ela mas depois disse que tinha que desligar porque precisava de ligar a alguns familiares. E fiz isso e...

DAVID - A que familiares ligou?

ALEX - Liguei ao meu irmão Randy. Ao meu irmão John. E tentei ligar a um rapazito, muito amigos, que moram mesmo na esquina daqui, mas não consegui apanhá-lo.

DAVID - O que estava em redor do Paul quando se aproximou?

ALEX - Sangue.

DAVID - Mais alguma coisa?

ALEX - Havia coisas do corpo. Sim, senhor.

DAVID - Alguma outra evidência? Disse que o telemóvel tinha caído mas viu alguma coisa que não pertencia ou não deveria pertencer a Paul?

ALEX - Não, senhor... não. Não, senhor.

DAVID - E em relação a Maggie?

ALEX - Não, senhor.

DAVID - Viu alguma coisa em redor deles?

Alex abanou a cabeça negativamente.

DAVID - O que o fez vir aqui esta noite?

ALEX - Fui a casa da minha Mãe, que é doente com Alzheimer num nível muito avançado. O meu Pai está no hospital. A minha Mãe fica ansiosa, quando fica... eu fui vê-lo... a Maggie é uma amante de cães. Ela brinca com os cães. Eu sabia que ela tinha ido ao canil. Eu estava em casa e fui ver a minha Mãe. Apenas por um bocadinho. Tentei ligar-lhe quando saí, enviei uma mensagem. Sem resposta. Voltei para casa, a casa estava vazia, obviamente que não estava lá ninguém. Então achei que ainda estavam por aqui a brincar. O Paul estava a preparar-se para semear as sementes de girassóis que foram pulverizados e morreram. E ele estava a reconfigurar para plantar as sementes de girassóis. Então, voltei aqui... guiei até aqui e vi... e liguei.

DAVID - Maggie e Paul discutiram sobre alguma coisa?

ALEX - Não.

DAVID - Como era a relação deles?

ALEX - Maravilhosa.

DAVID - E a sua com a Maggie?

ALEX - Maravilhosa. Quer dizer, tínhamos coisas aqui e ali mas tínhamos um casamento maravilhoso. Uma relação maravilhosa.

DAVID - E a sua relação com o Paul?

ALEX - Melhor era impossível.

Seguiram-se novamente as perguntas das datas de nascimento e nomes completos.

A informação repetiu-se:

Alex tinha saído para visitar a Mãe. Tinha estado ausente cerca de 1h30.

Tinha estado com o seu Filho, cerca de 2 horas, durante a tarde e tinha estado nos canis apenas nessa altura. Foi para casa, fez a sesta, jantou com a sua Esposa e Filho e saiu.

Ao sair da casa da sua Mãe ligou para Maggie, sem sucesso. Enviou mensagem mas não obteve resposta.

Sabia que Paul tinha recebido muitas ameaças por causa do acidente de barco mas não tinham vindo de ninguém conhecido.

Um dia, quando Paul chegou a casa, vinha com um olho negro. Tinha apanhado mas, como tinha um processo aberto contra ele, não podia defender-se, deixando que lhe batessem.

Ainda lhe passou pela cabeça que um homem que tinha contratado há uns meses, meio estranho, podia ter feito alguma coisa à sua Família. Mas não fazia sentido. Era estranho mas dava-se lindamente com Paul.

Na semana anterior, esse tal funcionário, tinha contado uma história estranhíssima a Paul... de mortes. Mas não podia ter sido ele. Paul gostava imenso dele, apesar de ser um homem esquisito.

Sala de Jogos (e armas) na Casa dos Murdaugh
Sala de Jogos (e armas) na Casa dos Murdaugh

As mãos, t-shirt e calções que Alex vestia naquela noite, testaram positivo para resíduos de bala. Contudo, os ténis que tinha calçados, não apresentavam qualquer vestígio.

Isto queria dizer que, ou Alex tinha disparado armas de fogo enquanto vestia aquela roupa ou a arma que tinha ido buscar a casa, após a descoberta dos corpos, tinha transferido os vestígios encontrados.

No dia 10/06/2021, pelas 14h00, foi novamente entrevistado mas, antes das questões, pediram-lhe o telemóvel e o pin, que Alex entregou prontamente.

O Agente David pediu-lhe que fizesse um resumo do seu dia, daquela fatídica segunda feira, 07/06/2021. Que começasse pela sua manhã e que o levasse a percorrer o dia todo.

Alex contou:

Segunda de manhã, hummm.... segunda de manhã, sabe... o que fiz eu na segunda de manhã?

A minha Esposa e o meu Filho mais velho foram aos jogos de baseball daquele fim de semana... hummmm...

Não consigo lembrar-me do que fiz naquela manhã. Sei que fui trabalhar mas... sabe? Acho que estava a arrastar-me um bocadinho por causa do fim de semana mas fui trabalhar.

Normalmente fico ali um bocado a mexer no telefone e depois vou trabalhar. Estava no trabalho... O meu escritório é em Hampton... hummm... sabe, estive no escritório a fazer...

Tenho a certeza que posso voltar e recriar coisas mais específicas, se precisar mas, não consigo estar aqui e recriar tudo exactamente no que estava a trabalhar. Eu sei que estava a trabalhar... uma coisa em que estava a trabalhar... nós, tivemos, nós tivemos... grandes moções a chegar (...)

O questionário continuou.

Alex não conseguia ser preciso nas horas em que acordou ou a que horas saiu de casa para trabalhar.

Tinha quase a certeza de que Maggie estava por casa. Não tinha certeza se Blanca, a empregada, já tinha chegado quando ele saiu.

Naquele dia saiu do escritório mais cedo que o habitual. Paul não tinha passado o fim de semana com a Família e estava de chegada naquele dia. Foi por isso que saiu do escritório mais cedo, para ir ter com o Filho, passar tempo de qualidade com ele.

Andaram pela propriedade durante algum tempo. Passearam à procura de porcos, fizeram tiro ao alvo, iam semear girassóis.... Enfim, fizeram muitas coisas que ambos apreciavam.

Tinham usado uma garrafa para o tiro ao alvo e tinham usado uma Magnum .22.

Paul tinha um apartamento em Charleston, onde passava a maior parte dos fins de semana com os amigos. No Domingo tinha decidido ir passar a noite a casa do seu Tio John. Paul fazia muitos trabalhos para o seu Tio. De todo o tipo. Era um miúdo versátil.

Devia ter chegado a Moselle perto das 17h00. Alex não sabia precisar mas ainda era dia.

Repetiu que tinham andado pela propriedade. Tinham ido ver o milho que cada um tinha plantado e Paul orgulhava-se do seu estar com melhor aspecto que o do seu Pai.

Tinham andado pelo lago dos patos e tinham passeado muito, muito mesmo.Não tinha sido um passeio de 20 ou 30 minutos. Tinha sido muito mais. Talvez 2 horas? Não sabia precisar mas tinha sido, decididamente, mais do que 1 hora.

Ainda nem sequer estava escuro. Maggie ainda nem sequer tinha chegado. Tinha ido a uma consulta.

Às tantas, tinham ido todos para casa mais ou menos ao mesmo tempo. Maggie tinha voltado e jantaram os três. Normalmente jantavam juntos.

Não sabia bem que tipo de detalhes o Agente pretendia e, por isso, pediu-lhe que, caso estivesse a contar demasiadas coisas, que o interrompesse.

Paul tinha andado com a tensão alta e a sua Mamã estava doente de preocupação. Os seus pés tinham inchado bastante recentemente mas ele não gostava de ir ao Médico. Estavam a tentar convencê-lo a ir, era um grande problema.

Andaram por casa durante um bocado e lembrava-se que Maggie tinha saído para os canis. Já Paul, não sabia bem para onde tinha ido mas sabia que também tinha saído de casa.

Não sabia como tinha ido para lá mas, normalmente, levava uma moto-quatro, um buggy ou ia a pé.

Em relação a Paul, não gostava muito de andar e, por isso, podia ter ido com qualquer um dos transportes referidos.

Alex não sabia dar detalhes às perguntas de David e pediu desculpa por isso.

Continuou.

Manteve-se em casa após a Esposa e o Filho saírem. Ficou a ver televisão e a mexer no telemóvel até que acabou por adormecer no sofá. Não sabia precisar as horas a que acordou mas lembrava-se de ter ligado a Maggie e depois de lhe ter enviado uma mensagem e, quando tudo aconteceu e quando foi questionado acerca dos horários, lembrava-se que, ao consultar o seu telemóvel, tinha visto que tinha enviado o sms às 21h06.

Tinha praticamente a certeza de ter ouvido um carro a encostar. Não era habitual ouvir carros, até porque a casa ficava bastante longe da estrada. Tinha a sensação de ter ouvido um carro mas, devido aos acontecimentos, admitia estar enganado. No entanto, lembrava-se de ver o gato que vive ali nas redondezas a fugir... teria sido de um carro ou de uma pessoa. Não sabia ao certo. Nem sabia se a sensação que tinha tido estava correcta mas achou melhor partilhar esta informação com o agente.

Conduziu até Almeda, onde a Mãe reside. Viu como estava, falou um pouco com Shelly, a cuidadora da sua Mãe.

Zona dos Canis de Moselle Road
Zona dos Canis de Moselle Road

Lembrava-se que, no regresso a casa, tinha devolvido uma chamada ao Irmão John, tinha ligado a Chris Wilson (colega e melhor amigo de Alex), lembrava-se de ter falado com o Filho mais velho, Buster... enfim, tinha feito alguns telefonemas.

Chegou a casa, não estava ninguém, voltou a meter-se no carro e conduziu até aos canis. Para além da sua Esposa e Filho não viu nada nem ninguém. Sabia que era mau. Viu-os ali deitados no chão. Sabia que era mau.

Meteu-se no carro e voltou a casa. Foi buscar uma espingarda. Estava confuso, não sabia o que se passava. Nem sequer sabia que espingarda é que tinha ido buscar. Foi o Agente David que confirmou ser uma espingarda Benelli de calibre .12 que ainda se encontrava na posse da Polícia.

Apesar das ameaças por causa do acidente de barco, não lhe ocorria ninguém que pudesse ir até este extremo. Muitas ameaças eram feitas online e sabia que existiam confrontos pessoalmente mas duvidava que Paul lhe tivesse contado todos. O melhor seria mesmo perguntar aos seus amigos.

No dia 11/08/2021, pelas 10h00 da manhã, Alex voltou a ser interrogado.

Fez-se acompanhar do seu amigo e advogado, uma vez mais.

Este quis saber se Alex tinha sido chamado enquanto testemunha ou suspeito.

Os Agentes informaram que necessitavam do máximo de informação possível, que se encontrava ali enquanto testemunha. No entanto, não tinha sido ainda eliminado enquanto suspeito.

A versão de Alex manteve-se:

Saiu cedo do trabalho para estar com Paul. Tinham passeado cerca de 2 horas pela propriedade. Maggie chegou de uma consulta do médico e tinham jantado os 3 juntos. Maggie normalmente cozinhava mas, como não ia estar durante o dia, pediu à empregada que deixasse o jantar preparado.

Maggie e Paul saíram de casa, enquanto Alex se deixou dormir no sofá. Tinha a televisão ligada e esteve um bocado a mexer no seu telemóvel.

Saiu para ir visitar a Mãe onde esteve cerca de 1h30. Quando regressou, ao ver a casa vazia, conduziu até aos canis. Ligou para o 911. Desligou a chamada e foi a casa buscar uma arma. Voltou para os canis, onde permaneceu até as equipas chegarem.

Libby Murdaugh
Libby Murdaugh

A investigação prosseguiu. Os testemunhos de Alex estavam dados. Tinha mantido sempre a mesma versão. A investigação tinha apenas que confirmar as informações que Alex tinha prestado e eliminá-lo como suspeito. Afinal, tratava-se de um homem destroçado que tinha perdido Esposa e Filho. Ainda por cima, tratava-se de um Murdaugh.

Segundo o Agente David, questionaram mais de 100 pessoas a fim de encontrarem os responsáveis por estes homicídios. Foram muitas horas de trabalho, de interrogatórios, de pesquisas, de averiguações, de consultas a gps, telemóveis, torres de telecomunicações, afinal, na era digital, todos deixamos pegadas.

A timeline desenhada pela investigação, baseada nos dados dos telemóveis e gps dos carros, foi a seguinte:

07/06/2021

12h06 – Alex chegou à firma onde praticava advocacia e que pertencia à sua Família. Foi nesse dia que a Directora Financeira, Jeanne Seckeinger, o confrontou devido às inúmeras quantias que estavam em falta nas contas bancárias da empresa. Segundo a sua pesquisa, o valor desviado por Alex ultrapassava os 9 milhões de dólares.

Esta conversa foi interrompida por um telefonema que Alex recebeu: o seu Pai estava em estado terminal. Ligou a Maggie, sua Esposa, a dar-lhe a notícia e a pedir-lhe que fosse com ele, mais tarde, visitar o seu Pai.

Jeanne, ao ouvir a notícias que Alex tinha acabado de receber, deu como adiado o confronto.

18h40 – Alex chegou a 4147 Moselle Road.

18h53 – Paul chegou a 4147 Moselle Road.

Passearam pela propriedade por cerca de 1 hora numa motoquatro.

19h38 – Paul gravou um vídeo no snapchat. Este mesmo vídeo foi enviado para alguns amigos às 19h56.

Neste vídeo (importante para a investigação) vê-se Alex a tentar endireitar uma árvore de fruto que teimava em tombar para o lado. Aqui Alex vestia umas calças bejes, uma camisa azul de manga curta e calçava uns mocassins castanhos.

20h00 – Pelas 8 da noite, de acordo com as torres de telemóveis, Maggie chegou à propriedade.

Maggie teve o seu telefone bloqueado entre as 20h11 e 8 segundos até às 20h31 e 15 segundos.

20h14 – O telemóvel de Paul indica ter entrado na casa principal da propriedade.

Entre as 20h15:55 e as 20h21:45 indicou 140 passos.

20h31 – Maggie e Alex receberam uma mensagem num grupo a que ambos pertenciam, de John Marvin Murdaugh: Estou a pensar em ir visitar o Pai amanhã à tarde. Mais alguém está a planear ir?

20h31:15 – O telefone de Maggie foi desbloqueado e apresentou movimentação. 3 segundos depois foi novamente bloqueado, ficando assim até às 20h49:26. Foi a esta hora que Maggie leu a mensagem de John Marvin.

É a partir desta hora que a timeline da investigação diverge com a que Alex indicou.

A Polícia acredita que as mortes ocorreram entre as 20h50 e as 21h00, altura em que Alex informou estar a dormir, antes de sair para visitar a Mãe.

Entre as 20h02 e as 21h02 o telemóvel de Alex não apresentou qualquer actividade. Podia ter estado desligado durante este período.

20h40 – Segundo Alex, estava a dormir no sofá.

Maggie e Paul, por esta altura e segundo Alex, já tinham saído de casa. Saíram de moto-quatro.

Tanto Maggie como Paul tinham os telemóveis activos.

O de Paul indicava estar na zona dos canis a partir das 20h38:07.

Às 20h40:20 Paul fez uma chamada de 4 minutos e 15 segundos para o seu amigo Rogan Gibson. O cão de Rogan, Cash, estava nos canis dos Murdaugh e Paul considerou que havia algum problema na cauda de Cash.

Às 20h44:34 Paul fez uma chamada através do facetime com Rogan. Durou 11 segundos.

Às 20h44:55 Paul fez um vídeo, de cerca de 50 segundos, que enviou ao amigo.

Apesar de na imagem aparecer apenas Cash, ouvem-se 3 vozes: Paul, Maggie e Alex Murdaugh.

Ou seja, ao contrário do que Alex tinha informado várias vezes, tinha estado presente nos canis, após o jantar.

20h48 – Paul enviou uma mensagem a uma amiga, Megan Kimball, que respondeu de volta. A mensagem de Megan foi lida no telemóvel de Paul às 20h48 e 49 segundos.

O telefone de Paul foi bloqueado às 20h49:01. 11 minutos depois recebeu uma mensagem de Rogan mas Paul não chegou a lê-la. O Iphone só voltou a apresentar actividade às 22h18.

20h49 e 31 segundos – Maggie leu a mensagem de texto enviada por John Marvin Murdaugh. Maggie nunca mais teve oportunidade de desbloquear o seu telefone, de fazer chamadas, de ler ou enviar mensagens.

20h50, aproximadamente – Paul e Maggie são mortos a tiro.

O Iphone de Maggie sugere que foi manuseado entre as 20h53:15 até às 20h55:32, registando 59 passos.

Às 21h02 o telemóvel de Alex foi novamente accionado.

Entre as 21h02:18 e as 21h06:47 registou 283 passos. A última vez que o telemóvel de Alex tinha registado este número de passos, naquele mesmo dia, tinha sido num espaço de 10 minutos. Desta vez, no entanto, tinha demorado apenas 4 minutos.

Provavelmente estaria por casa a limpar o que era necessário, sendo que, pelo que se acredita que terá acontecido, as suas roupas terão ficado com vestígios de pólvora e de sangue.

21h04 – Alex ligou para Maggie.

21h06 – Alex ligou novamente à Esposa, 2 vezes seguidas. Na primeira chamada, Alex deixou o telefone tocar durante 3 segundos e, na segunda vez, 7 segundos.

Segundo o próprio, queria informar Maggie que ia sair para visitar a Mãe. Obviamente que esta informação não chegou.

21h06 e 12 segundos – O telemóvel de Maggie registou novamente ter sido manuseado com uma alteração de orientação.

21h07:06 – O SUV de Alex foi accionado e saiu da propriedade Moselle, tendo virado à direita na primeira bifurcação. Um minuto depois seguia a 68km/h e, poucos segundos depois, atingiu os 73km/h.

O telefone de Maggie foi encontrado no dia seguinte no meio dos arbustos, junto à estrada entre Moselle e Almeda (casa dos Pais de Alex). A investigação considerou que o Iphone foi atirado de um carro, exactamente, no local onde Alex seguia antes de atingir os 73km/h.

21h08:58 – Alex enviou uma mensagem a Maggie: Vou ver como está a Em Volto já.

21h10:47 – Alex ligou a Buster, o seu Filho mais velho, com quem falou durante 60 segundos.

21h12:14 – Alex ligou a Chris Wilson, com quem falou durante 42 segundos.

21h18:46 – Alex ligou John Marvin Murdaugh com quem esteve ao telefone durante 106 segundos.

A viagem até casa da sua Mãe demorou apenas 15 minutos, sendo que a viatura registou altas velocidades. Alex chegou ao local às 21h22.

Entre as 21h22:39 e as 21h32:14, o telefone de Alex apresentou 195 passos.

Às 21h24:13 Alex ligou para o telefone fixo da Mãe a informar que estava à porta. A chamada durou 20 segundos.

Uma das dúvidas da investigação assentou na demora entre a sua chegada e a chamada para Shelley a informar que se encontrava à porta.

Por que razão tinha demorado 2 minutos?

Além do mais, se Alex estava em frente à casa, por que razão não tocou à campainha? Por que motivo ligou para o telefone fixo para que lhe abrissem a porta?

Alex explicou que o seu telemóvel tinha caído dentro do carro, entre um dos bancos da frente e a consola que fica entre os 2 bancos. Tinha, simplesmente, estado à sua procura.

Já a Polícia acreditava que Alex tinha demorado estes 2 minutos a esconder as armas que acabara de usar nos homicídios. Isto para que, mais tarde, pudesse dar-lhes sumiço.

Entre as 21h35:55 e as 21h36:20, o telefone de Alex registou 60 passos.

Às 21h42:49 o seu telefone demonstrou que foi conectado ao carro, tendo saído de Almeda às 21h43:18.

Alex, ao contrário dos seus testemunho, tinha estado apenas 20 minutos na propriedade

dos Pais.

21h46:35 – Alex ligou a Paul – deixou tocar 18 segundos.

21h47:23 – Alex enviou uma mensagem a Maggie a dizer: Liga-me querida.

Às 21h51:43 o carro de Alex registou uma velocidade de 129kms/h.

21h52:15 – Alex enviou uma mensagem a Chris Wilson a dizer: Liga-me se estiveres acordado.

Chris Wilson ligou-lhe às 21h52:59, sendo que falaram durante 42 segundos. Às 21h53:55, Chris voltou a ligar a Alex, sendo que permaneceram em chamada durante 123 segundos.

O carro de Alex registou ter virado para a propriedade às 22h00:30. Parou em frente à casa principal de Moselle.

Alex tinha estado ausente de Moselle por 53 minutos.

22h03:58 – Alex voltou a ligar a Maggie.

22h05:06 – O carro de Alex sai da frente da casa principal.

22h05:57 – Alex chegou aos canis.

Zona dos Canis de Moselle Road
Zona dos Canis de Moselle Road

Às 22h06:14 tentou ligar para o 911 mas falhou os números e apenas às 22h06:18 conseguiu fazer a chamada com sucesso. Esteve 637 segundos ao telefone com os operadores.

Segundo os registos do gps e telemóveis, Alex teve apenas 17 segundos para avaliar a situação, para verificar se Paul e Maggie estavam ou não a respirar.

Segundo o próprio, tinha ido ter com Paul, tinha tentado virar o seu corpo... o telemóvel de Paul tinha caído, Alex ainda agarrou nele mas imediatamente o voltou a colocar no bolso do jovem. Ainda verificou a sua pulsação.

Depois, foi junto ao corpo de Maggie, que se encontrava a cerca de 27m de distância de Paul, e também lhe tocou para verificar se respirava.

Para mais, a chamada para o 911 foi efectuada através do bluetooth do seu carro. Ou seja, Alex, depois de verificar Paul, de lhe guardar o telemóvel no bolso e depois de verificar Maggie, teve ainda que deslocar-se para o seu SUV para efectuar aquela chamada.

Tudo isto em 17 segundos?!

Entre as 22h06:57 e as 22h16:37 o seu telefone registou 594 passos.

Às 22h11:45 pegou novamente no seu carro e conduziu até casa para ir buscar a espingarda. Às 22h13:39 regressou novamente aos canis. Pouco depois, chegaram as equipas de socorro e a Polícia.

Quando a Polícia chegou ao local Alex envergava uma t-shirt branca, uns calções e uns ténis. Nesta altura, já tinha despido a camisa azul, as calças bejes e tinha descalçado os mocassins.

Em Outubro de 2021, na casa da Mãe de Alex, a Polícia encontrou um casaco impermeável azul com vários vestígios de pólvora.

Tanto a investigação como o Ministério Público acreditavam que este casaco tinha sido utilizado para embrulhar armas que tinham acabado de ser disparadas. Outra teoria colocada, era a de que Alex tinha vestido o casaco do avesso para fazer os disparos contra a sua Esposa e Filho, até porque, o capuz do casaco apresentava mais vestígios do lado de dentro do que do lado de fora.

A investigação apurou uma mensagem que Maggie tinha enviado naquele mesmo dia a uma amiga. Maggie escreveu que Alex estava com um comportamento duvidoso e que estava a tramar alguma coisa.

Dúvidas da investigação: onde estava a roupa que Alex tinha vestida naquele dia? A camisa azul, as calças bejes, os mocassins castanhos?

Antes de ser confrontado com o vídeo que Paul tinha feito, onde aparecia com essa indumentária, nunca tinha comentado que tinha mudado de roupa. Porquê?

Blanca, a empregada da casa de Moselle, testemunhou em Tribunal que nunca mais tinha visto aquela roupa ou aqueles sapatos. Era ela que tratava da roupa da Família e jurou nunca mais lhe ter posto a vista em cima. O que aconteceu a estas roupas e aos mocassins?

Acredita-se que Alex cometeu os homicídios com aquela roupa e que, antes de ir visitar a sua Mãe, mudara de roupa para a t-shirt branca e calções verdes, em que aparece posteriormente, nomeadamente, nos vídeos da Polícia.

E quando é que Alex descalçou os mocassins e calçou os ténis que apresentava nos vídeos da Polícia?

Se tudo aconteceu como Alex tinha explicado, como podia não ter sangue na sola dos seus sapatos e na t-shirt que envergava naquela noite?

Estavam 2 entes queridos inertes no chão. Alex tinha-se aproximado de cada um deles para verificar se respiravam. Havia sangue, partes cerebrais, crânio, cabelos... o cenário era horrível, principalmente, ao redor de Paul. Como era possível Alex estar com as roupas e sapatos sem qualquer vestígio dos restos mortais do seu Filho?

O JULGAMENTO

Foram vários os testemunhos em Tribunal, incluindo o próprio Alex Murdaugh.

BLANCA – MOSELLE

Blanca, a funcionária da casa de Moselle, testemunhou nunca mais ter visto a roupa com que Alex aparecia no vídeo gravado por Paul.

Foi também Blanca que testemunhou que tinha ficado com a impressão de que Alex quis alterar-lhe a memória, semear falsas lembranças acerca da roupa com que tinha saído naquele dia de manhã para trabalhar.

Segundo Blanca, enquanto Alex andava para trás e para a frente, disse-lhe: B, preciso de lhe falar. Estou com um mau pressentimento. Estou com um mau pressentimento. Algo não está certo. Há um vídeo... Lembra-se da camisa Vinneyard Vine que eu trazia vestida naquele dia?

Blanca assumiu não se tratar de uma camisa dessas com que Alex saiu naquela manhã. Tinha saído com um polo vestido. Ainda assim, Blanca não verbalizou.

Blanca
Blanca

Alex insistiu: Lembra-se da camisa que eu trazia vestida naquele dia?

Blanca tinha a certeza de se tratar de um pólo até porque, quando Alex estava de saída, Blanca ajeitou-lhe o colarinho que estava a sair do casaco. Manteve-se calada.

Talvez fosse uma tentativa de Alex de desviar as atenções da camisa azul com que cometera os homícidios e acerca do seu desaparecimento. Talvez para convencer Blanca e a investigação de que, durante todo o dia, tinha usado uma camisa Vinnyard Vines. Ainda que no vídeo, a camisa que envergava não era uma VV. Contudo, não sendo o vídeo da melhor qualidade, talvez conseguisse convencer a investigação apresentando uma semelhante.

Blanca testemunhou ainda quais as cores das camisas que restavam no roupeiro após aquele dia. Lembrava-se que a camisa azul se encontrava ali pendurada no dia 07/06/2021. A partir dessa data, nunca mais a viu.

A mulher disse ainda que Alex tinha pedido à sua Esposa para ir passar a noite a Moselle. Maggie não tinha esse intuito até porque tinha ido para Charleston para uma consulta e tinha feito planos de ficar por lá. Ainda assim, como Alex tinha recebido as tristes notícias de que Randolph III estaria nos seus últimos dias de vida, pediu-lhe que viesse ao seu encontro. Ainda para mais, Paul também ia estar por Moselle naquele serão. Maggie concordou.

SHELLEY – ALMEDA

Mushelle Shelley Smith, a cuidadora da Mãe de Alex, deu um testemunho bastante emocionado em tribunal. Cuidava de Elizabeth "Libby" Alexander Murdaugh há 3 anos. Gostava de trabalhar para eles e considerava-os boas pessoas, nomeadamente, Alex Murdaugh.

Shelley
Shelley

Shelley trabalhava naquela casa, nos últimos 2 anos, entre as 20h00 e as 08h00 e confessou que, apesar de Alex visitar muitas vezes os Pais naquela casa, tinham sido raras as vezes em que o fazia dentro do horário em que Shelley estava presente.

Testemunhou ainda que Alex não tinha passado mais de 20 minutos na casa de Libby e que o sentiu inquieto mas que, essa inquietude, era normal em Alex.

Shelley confirmou que, no dia dos homícidios, atendeu o telefone fixo da residência e que era Alex a pedir-lhe que abrisse a porta pois já estava em frente da casa. Shelley demorou cerca de 5 minutos a abrir a porta a Alex. Declarou tê-lo visto com uma t-shirt, calções e uns sapatos estilo mocassin.

Alex deitou-se na cama da sua Mãe, a fazer-lhe companhia, enquanto viam um programa de televisão. Olhava de quando em vez para o seu telemóvel. Após cerca de 20 minutos, levantou-se e saiu.

Foi durante essa madrugada que Randy, irmão de Alex Murdaugh, ligou para Shelley a informá-la do sucedido. Informou-a também que Randy, John Marvin (também irmão), Buster e a namorada, bem como Alex, iriam passar alguns dias naquela residência.

No dia 12/06/23, 5 dias após os homicídios, Randolph III foi sepultado. Tinha falecido 2 dias antes, na sua própria residência, de causas naturais.

Após o funeral de Randolph, Família e Amigos estavam reunidos em Almeda. Shelley também lá estava. Tinham-lhe pedido que trabalhasse mais horas de forma a ajudar a Família a ultrapassar aquela situação.

Foi nesse dia, 12 de Junho, que Shelley fez um telefonema ao seu irmão. Sentia-se incomodada com a conversa que tinha acabado de ter com Alex Murdaugh. Teve que contar a alguém... desabafar acerca daquela estranha situação.

Alex tinha entrado no quarto onde Libby e Shelley se encontravam. Insistiu que, na noite da morte do seu Filho e Esposa, Alex estava ali, a fazer companhia à sua Mãe. Que naquele serão de 07/12/23, nos 30 a 40 minutos que ali tinha estado, a sua Família tinha sido morta.

Shelley sabia que Alex não tinha ali estado tanto tempo. No máximo, tinha estado 20 minutos na propriedade... como podia estar a afimar aquilo? E tanta vez? Estaria a tentar convencê-la de alguma coisa?

Curiosamente, no dia seguinte a esta conversa, Alex ofereceu-se para ajudar a pagar o casamento que Shelley já tinha marcado e para a ajudar a subir de posição na escola onde trabalhava.

Contou ainda que, 3 dias após o funeral de Randolph, pelas 6h30 da manhã, Shelley ouviu alguém a bater na parede de um dos quartos da casa de Almeda. Tratava-se de Alex Murdaugh.

Nunca antes Alex tinha ali chegado àquela hora e, ao contrário do que tinha feito no dia dos homicídios, desta vez, tinha batido e não ligado.

Não tinha chegado ao local no seu SUV habitual mas numa carrinha branca. Shelley não se recordava se, antes de qualquer coisa, Alex tinha ido espreitar Libby. Lembrava-se, contudo, que tinha um impermeável azul nas mãos. Parecia ser uma capa de protecção para carros, azul e impermeável. Alex trazia-a ao colo, como se viesse a embrulhar algo. Subiu as escadas e dirigiu-se a um dos quartos do primeiro andar. Pouco depois, abandonou a residência. Após a saída de Alex, Shelley viu o impermeável em cima de uma cadeira naquele mesmo quarto, no entanto, no dia seguinte, já não se encontrava naquele sítio.

Shelley considerou que Alex tinha saído da propriedade mas, 10 a 15 minutos depois, voltou a ver o homem lá fora. Desta vez, tinha deixado a carrinha branca na propriedade e tinha saído numa carrinha preta. Shelley sabia que a branca tinha pertencido a Randolph III, no entanto, desconhecia a viatura preta.

Para mais, reparou que uma das moto-quatro que costumava estar estacionada junto ao fumeiro, agora, estava junto à residência principal da propriedade. Tinha sido movida com um dos pneus de trás furado.

Por que razão Alex tinha mudado a viatura de sítio?

Outra dúvida: Alex, naquela visita, calçava os mocassins. Caso tivesse mudado de roupa logo após os homicídios, por que razão não tinha trocado de calçado? Até porque, quando a Polícia chegou a Moselle, Alex estava de ténis.

Uma das inconsistências do testemunho de Shelley tratava-se do facto de ter falado acerca do impermeável que Alex trazia naquela noite, apenas em Setembro. Ainda para mais, disse-o a um Polícia numa situação de um acidente automóvel. Bateram no carro de Shelley enquanto circulava e, em conversa com o Polícia que foi destacado para o local, Shelley lembrou-se de lhe contar esse pormenor.

MARIAN PROCTOR – IRMÃ DE MAGGIE

A irmã de Maggie testemunhou de forma bastante emotiva.

Informou o júri que Maggie era uma mulher feliz, que tinha um casamento feliz apesar de, como todos os casamentos, não ser perfeito.

Após o acidente de barco de Paul e consequente venda da casa da Família em Hampton, Maggie procurou outra casa na zona de Hilton Head Island, perto da cidade de Bluffton. E, ainda que, na sua opinião, tivesse encontrado a casa perfeita, o seu Marido aconselhou-a a não fazerem uma oferta. Não era tempo disso. A altura não era a melhor.

Marian contou ainda o que Blanca já tinha testemunhado.

Maggie tinha intenção de, naquele dia, passar a noite em Ediston. Contudo, Alex tinha-lhe pedido que fosse passar a noite a Moselle pois, dessa forma, podiam ir os dois a Almeda visitar os seus Pais. Ainda para mais, Paul também ia estar presente.

Marian incentivou a irmã a fazer a vontade ao marido. Alex era bastante próximo do seu Pai e, dada a fragilidade da saúde de Randolph III, Maggie deveria estar presente para apoiar o marido de longa data.

Foi pelas 16h00 de 07/06/2021 que as duas irmãs conversaram pela última vez. Marian a encorajar Maggie a ir ao encontro da sua drástica e precoce morte.

Marian, ao ser questionada pelo MP, informou ainda que, nos dias seguintes às mortes de Maggie e Paul, pouco falou com Alex. Muita gente vinha a Moselle prestar homenagem e apresentar as suas condolências e Alex tinha estado ocupado com essas visitas. Ainda assim, garantiu que, quando perguntou ao viúvo se tinha ideia de quem pudesse ter feito aquilo, que Alex respondeu que não sabia mas que, quem quer que tivesse sido, tinha pensado no assunto durante muito tempo.

Acrescentou que Alex contou à Mãe de Maggie que, naquele serão, após o jantar, tinha feito uma sesta e que não tinha estado presente nos canis com Maggie e Paul.

Confessou ainda ter ficado surpresa com o facto de Maggie não ter acompanhado Alex a casa da sua Mãe, afinal, tinha sido esse o motivo de Maggie voltar para Moselle no dia 07/06/2021.

Outro facto que lhe tinha causada estranheza, tratava-se de falarem acerca do acidente de barco e de que Alex dizia que a sua prioridade era limpar o nome do seu Filho Paul, enquanto que a restante Família estava focada em tentar descobrir quem tinha cometido aqueles homicídios.

Outra situação, foi o facto de Alex não mostrar receio de que o assassino andasse à solta e dele próprio e do seu Filho Buster poderem correr perigo de vida. Segundo Marian, todos tinham receio pela Família, da possibilidade do autor ou autores do crime poderem regressar para terminar o trabalho. Alex, no entanto, não se mostrava receoso.

ALEX MURDAUGH

23 dias após o início do seu julgamento, Alex Murdaugh sentou-se na cadeira das testemunhas. Só nesse dia, assumiu publicamente que tinha mentido acerca da sua presença nos canis. Que, efectivamente, lá tinha estado pouco antes dos homicídios.

Imagens dos Vídeos gravados por Paul Murdaugh
Imagens dos Vídeos gravados por Paul Murdaugh

Foi também a primeira vez, apesar das várias entrevistas com a Polícia, que alguns dos Agentes ali presentes, ouviram a alcunha Pawpaw. Era uma das formas carinhosas de tratar Paul, no entanto, junto das entidades oficiais, era a primeira vez que Alex a empregada.

"À medida que o meu vício foi evoluindo ao longo do tempo, existiam situações ou circunstâncias, em que ficava paranoico... ficava a pensar... podia ser qualquer coisa: um olhar de alguém, uma reacção por parte de alguém, podia ser um polícia a seguir-me num carro... Nessa noite, 7 de Junho, depois de os encontrar... Maggie e Paul, Pawpaw... não fales com ninguém sem o Danny contigo. Todos os meus colegas estavam repetidamente a dizer-me isso. Tinha o vice-xerife a fazer-me testes às minhas mãos à procura de pólvora. Estou sentado numa viatura da Polícia com o David Owen a perguntar-me acerca da minha relação com a minha mulher e filho. E todas estas coisas, todas juntas, após encontrá-los... juntamente com a minha desconfiança, fizeram-me ter pensamentos paranoicos. Normalmente, quando era assolado por estes pensamentos, conseguia respirar fundo rapidamente, pensar no assunto e atravessá-lo com rapidez. No dia 7 de Junho... não estava a raciocinar com nitidez. Penso que não estava capaz de raciocinar. E menti acerca de ter estado lá... e lamento muito tê-lo feito."

Quando o Advogado lhe perguntou se tinha continuado a mentir acerca daquela situação, Alex respondeu: Uma vez que menti, continuei a mentir.

Nas perguntas com o Advogado de Acusação, Alex voltou a confirmar ter estado nos canis nesse serão. Informou ter chegado a casa mais ou menos ao mesmo tempo que Maggie (não sabia precisar se pouco antes ou pouco depois). Tomou banho, trocou de roupa e sentou-se no sofá para jantar. Por essa altura, Paul já estava no final da sua refeição e, quando a terminou, levantou-se e saiu da sala. Alex não tinha a certeza para onde tinha ido mas tinha ideia de que Paw-paw se tinha mantido por casa.

Maggie e Paul decidiram ir juntos até aos canis. De acordo com o testemunho de Alex, Maggie insistiu para que também fosse, no entanto, não queria sujar-se nos canis e não queria apanhar novamente calor. Foi por isso que declinou o convite mantendo-se no sofá.

No entanto, para fazer a vontade à Esposa, decidiu ir ter com eles. Pegou no carrinho de golfe e seguiu viagem. Deve ter demorado pouco mais de 2 minutos, andando a cerca de 30km/h. Parou a viatura entre os canis e o galinheiro, onde Maggie se encontrava e onde, mais tarde, foi assassinada.

Ficou sentado no carrinho, com Maggie junto a si, enquanto conversaram, apesar de não se recordar acerca de que assunto. Foi Bubba, o cão da Família, que interrompeu a conversa. O cão saiu de entre o mato, a correr em direcção aos seus donos, com uma galinha entre os dentes. No vídeo gravado por Paul neste momento, conseguia ouvir-se Maggie a referir isso mesmo. Foi então que Alex saiu do carro, tirou a galinha da boca de Bubba, soltando-a. Segundo o seu testemunho, esta situação durou menos de um 1 minuto. Logo de seguida, Alex abandonou o local, deixando Maggie e Paul para trás.

Foi também questionado acerca do comportamento dos seus cães. Se, por acaso, estavam agitados como se estivessem a sentir a presença de alguém estranho nas redondezas. Alex confessou que não, até porque, não estava ninguém estranho por ali.

Se o vídeo gravado por Paul terminou às 20h45:45, de acordo com o testemunho de Alex, terá abandonado o local pelas 20h47, sendo que terá chegado a casa às 20h49. Continuando no seu testemunho, entrou pela porta principal da residência, dirigiu-se à sala, deitou-se no sofá e dormitou um pouco. Às 21h02, segundo os registos telefónicos, estava novamente em andamento.

Provavelmente terá deixado o seu telemóvel em casa. Não se recordava especificamente se o tinha levado ou não, contudo, de acordo com os dados telefónicos que lhe foram apresentados, o mais provável é que o tivesse deixado em casa.

Não era uma situação fora do comum. Sabendo que a sua ausência era curta, nem sempre tinha o cuidado de levar o telemóvel.

Foi indagado acerca dos 283 passos dados entre as 21h02:18 e as 21h06:47. Não soube explicar o que tinha estado a fazer especificamente. Sabia que se tinha levantado do sofá àquela hora e se tinha preparado para ir a casa dos seus Pais. No entanto, se tinha tomado banho antes do jantar, se tinha mudado de roupa na altura e tinha mantido essa mesma indumentária, se tinha a carrinha à porta de casa, onde tinha ido ou que tinha estado a fazer para dar tantos passos num tão curto espaço de tempo?

Outra questão, se antes de sair da propriedade ligou três vezes a Maggie sem sucesso, por que razão, não passou nos canis para informar a esposa ou para saber se também queria ir ou, no mínimo, para saber se estava tudo bem. Até porque não era normal Maggie não atender o telemóvel ou, quando não conseguia atender, devolver a chamada quase imediatamente.

Durante o seu testemunho em Tribunal, mudou mais algumas informações que tinha facultado anteriormente. Nas entrevistas com os Polícias, tinha dito que logo que chegou aos canis, saiu do carro, verificou os cadáveres de Maggie e Paul e depois ligou para o 911. Agora informava que, quando chegou aos canis, saltou do carro ao ver aquele cenário dantesco e verificou os corpos já com o 911 em linha.

O cenário anteriormente relatado era pouco exequível. Alex tinha ido ter com Paul, tinha tentado virar o seu corpo, o telemóvel do Filho tinha caído, Alex tinha voltado a colocá-lo no bolso de Paul. Depois, tinha ido ter com Maggie que se encontrava a 27m de distância e, só após verificar que ambos estavam mortos é que tinha ligado para 911. Tudo isto em 17 segundos.

Testemunhou que tinha mentido acerca da sua presença nos canis durante aquele serão porque: estava a ser aconselhados pelos colegas de profissão para não falar com a Polícia sem um advogado presente; não fazia fé na SCLED (South Caroline Law Enforcement Division); tinha um bolso cheio de medicamentos que não era suposto usar; tinha sido ele a encontrar os corpos do seu Filho e Esposa; estava a ser interrogado acerca da sua relação com eles; estavam a testar as suas mãos a existência de pólvora; isto tudo, a adicionar à sua paranoia, fê-lo mentir acerca de um dos dados mais importantes para a investigação.

No entanto, a mentira tinha começado logo após a chegada das primeiras equipes ao local. Não estava a ser interrogado, não estava a ser testado acerca de existência de pólvora nas mãos, ninguém estava a perguntar-lhe como era a sua relação com os seus Familiares. A mentira começou em resposta à seguinte pergunta: quando foi a última vez que os viu ou falou com eles.

Alex reforçou a sua ideia de que o acidente de barco de Paul era a razão da morte da sua Esposa e Filho. Jamais pensou ou pensaria que os miúdos que tinham estado envolvidos, ou as duas Famílias, que fossem responsáveis pelo que aconteceu à sua Família. Contudo, o frenesi que se fez à volta da situação, as mentiras, as meias verdades que chegaram à comunicação social contribuíram para aquelas mortes.

Entre os assassinatos de Maggie e Paul, Alex manteve-se ocupado a tentar resolver alguns dos seus problemas. Trabalhava muito pouco, no entanto, no seguimento do desvio de vários milhões, fez várias tentativas para ocultar os seus roubos.

Dirigiu-se a Johnny Parker para solicitar-lhe um empréstimo no valor de 250 mil dólares. Isto para repor fundos na empresa que, anteriormente, tinha desviado.

Foi também a Palmetto State Bank para solicitar um empréstimo de 350 mil dólares para os mesmos fins. Pediu também ao seu melhor amigo, Chris Wilson, que lhe emprestasse 192 mil dólares e enviasse um email à sua empresa com a informação de aquele dinheiro tinha estado sempre ali, disponível para a empresa.

TIMELINE DE TODOS OS ACONTECIMENTOS

24/02/2019 – Acidente de barco.

18/04/2019 – Paul enfrenta as acusações.

07/06/2021 – Maggie e Paul são encontrados mortos.

22/06/2021 – Polícia reabre investigação acerca da morte de Stephen Smith.

25/06/2021 – A Família Murdaugh anuncia um prémio no valor de 100.000 dólares para quem tiver informações.

06/07/2021 – Maggie e Paul são assassinados.

10/07/2021 – Randolph Murdaugh III morre.

03/09/2021 – Alex Murdaugh demite-se da Firma de Advogados.

04/09/2021 – Alex liga para o 911 a pedir ajuda pois tinha acabado de ser baleado na cabeça.

06/09/2021 – Alex anuncia a sua demissão e informa que vai internar-se para desintoxicação.

07/09/2021 – A Firma de Avocagia anuncia que Alex saiu devido a uso indevido de fundos.

08/09/2021 – A licença de Alex é suspensa.

13/09/2021 – A Polícia inicia a investigação acerca de valores desviados/roubados da Firma.

14/09/2021 – O Ministério Público acusa Curtis Edward Smith por balear Alex Murdaugh.

15/09/2021 – Advogados anunciam que Alex organizou o seu próprio homicídio e a Polícia abre investigação da morte de Gloria Satterfield.

16/09/2021 – Alex entrega-se no Centro de Detenção do Condado de Hampton.

18/09/2021 – Alex sai sob fiança de 20.000 dólares.

06/10/2021 – Alex é processado pela empresa de Advocacia onde trabalhava.

14/10/201 – Alex é preso, acusado de ligação a fundos indevidamente obtidos pela morte de Gloria (a governanta de Moselle).

13/12/2021 – Um Juiz estabeleceu uma fiança de 7 milhões de dólares, devido a acusações de quase 50 crimes contra Alex.

22/06/2022 – Alex é indicado pelo crime de conspiração.

12/07/2022 – Alex é expulso da Ordem dos Advogados.

14/07/2022 – Alex é indicado pelos homicídios da sua Esposa e Filho mais novo.

20/07/2022 – Alex declarou-se inocentes dos crimes de homicídio. O Juiz Clifton Newman negou fiança.

16/12/2022 – Alex é indiciado pelo crime de fuga ao fisco.

23/01/2023 – Inicia-se o julgamento de Alex Murdaugh por duplo homicídio no Tribunal de Colleton, em Walterboro, na Carolina do Sul.

02/03/2023 – Veredicto: CULPADO.

03/03/2023 – Condenado a 2 prisões perpétuas.

10/03/2023 – Interposição de recurso por parte da sua equipa de Defesa.

21/03/2023 – A morte de Stephen Smith é considerada homicídio.

24/05/2023 – Alex Murdaugh é indiciado por fraudes federais.

05/09/2023 – Alex Murdaugh tenta obter um novo julgamento, argumentando que houve manipulação do júri.

21/09/2023 – Alex assume culpa na acusação de fraudes federais.

17/11/2023 – Alex declara-se culpado pelas acusações financeiras de que era alvo.

28/11/2023 – Alex é condenado a 27 anos por crimes financeiros, tendo acordado cumprir, pelo menos, 85% da pena (22 anos).

Mais informações:

https://abcnews.go.com/US/murdaugh-murders-mysteries-timeline-key-events-south-carolina/story?id=80041546

https://people.com/crime/murdaugh-murder-trial-complete-timeline/

https://www.netflix.com/tudum/articles/alex-murdaugh-trial-timeline

https://people.com/crime/murdaugh-family-murders-everything-to-know/

https://www.youtube.com/watch?v=XnhPVJ3dmPw&t=97s

https://www.youtube.com/watch?v=-VKoR3ep3Ms



Blobituário
Os Crimes mais Horripilantes da História.
Algumas fotos podem estar sujeitas a direitos de autor.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora