Peter Manuel
No dia 31 de Dezembro de 1957, enquanto a maior parte dos
cidadãos de Glasgow dava as boas vindas ao novo ano, Peter Manuel
concentrava-se na sua matança. A cidade vivia com medo pois os habitantes estavam a ser alvejados e mortos nas suas próprias casas. Ninguém estava a
salvo.
Naquela noite, os sacrificados foram a Família Smart. Depois de comemorarem a passagem do ano, os membros da Família Smart foram deitar-se, não tendo a oportunidade de acordar na manhã seguinte.
Peter de 45 anos, Doris de 42 e Michael Smart de 10 anos, foram alvejados na sua própria casa, enquanto dormiam nas suas camas. Foram as últimas vítimas do terrível assassino e de longe as primeiras.

Esta história começou muito antes desse dia.
Samuel e Bridget Manuel residiam na Escócia com James, o primeiro Filho do casal. Decidiram aventurar-se numa mudança para os EUA à procura de uma vida melhor. No entanto, não sabendo o +que o futuro lhes reservava, deixaram James para trás.
No dia 15 de Março de 1927, já em Nova Iorque, o casal deu as boas vindas a Peter Thomas Anthony Manuel. Quando o menino fez 5 anos, sendo que o casal não encontrou a prosperidade que procurava, retornaram ao Reino Unido. Reencontraram o pequeno James, de 7 anos, e assentaram na Vila de Birkenshaw.
Peter, que estava habituado a ter todas as atenções sobre si, teve que aprender a dividi-las com o irmão que ainda não conhecia. Foi uma fase de adaptação para todos mas a Família Manuel parecia estar ajustar-se com alguma facilidade.
Em 1934 a Família voltou a crescer, tendo nascido Theresa Manuel. Uma vez mais, os Manuel mudaram-se, desta vez, para Coventry.
Quando Peter Manuel tinha apenas 12 anos, a Segunda Guerra Mundial estava a rebentar e, em paralelo, também a sua personalidade parecia estar a romper.
Nesse ano, o menino já furtava lojas, invadia residências e fazia assaltos nas ruas das cidades. Foi rapidamente apanhado e presente a tribunal. Foi condenado a um ano numa instituição de correcção de menores de idade.
O adolescente, pouco após a sua entrada na instituição, conseguiu escapar mas, voltando a cometer furtos e assaltos, voltou a ser institucionalizado. Passou dois anos a entrar e a sair de várias casas de correcção e, aos 14 anos, os seu crimes escalaram.
Peter Manuel invadiu uma residência munido de um machado. A dona da casa encontrava-se a dormir, acordando com uma agressão gratuita por parte de um adolescente. Noutra ocasião, também durante a noite, entrou numa outra casa e atacou, com um martelo, a mulher que ali dormia.
Foi novamente detido quando atacou a esposa de um dos seus professores. Atacou-a com um pau e arrastou-a para uma floresta. Retirou-lhe a roupa interior com o intuito de a violar mas, por algum motivo, não foi capaz de cumprir.
Em 1943 voltou para uma instituição mas teve que ser libertado quando completou os 18 anos.
Peter Manuel não aprendeu nada nas casas de correcção e a sua vida na área do crime continuou. Por esta altura, invadia cerca de 2 a 3 residências por noite, roubando tudo o que conseguia. Mas, à medida que o tempo foi passando, os assaltos não lhe foram suficientes. Peter começou a deambular pelos subúrbios de Glasgow, atacando mulheres indiscriminadamente. Uma delas foi espancada e violada contra uma parede, numa ruela escura da cidade.
No dia 25 de Junho de 1946, Peter Manuel foi considerado culpado de violação e sentenciado a 8 anos de prisão. Foi enviado para a Barlinnie em Glasgow mas, eventualmente, foi transferido para a Prisão de Peterhead, em Aberdeenshire.
Peter Manuel esteve longe de ter um bom comportamento. As suas acções eram incómodas para todos. Espancava guardas e prisioneiros, partia e destruía objectos sem razões aparentes.
Foi então enviado para uma avaliação psicológica. O especialista que o examinou, tendo em conta a sua vida até então, concluiu tratar-se de um psicopata agressivo. Não tinha remédio. Afirmou ser dos piores homens que ali tinham tido presos e que pouco havia a fazer por ele. A única maneira de controlar o seu comportamento era prendê-lo numa cela isolada. Peter Manuel não podia ter contacto com ninguém.
Contudo, em 1954, Peter Manuel foi libertado. Regressou à casa da sua Família e tentou controlar os seus impulsos por algum tempo. Estudou advocacia, aprimorou o seu aspecto e a sua linguagem. Mas os tempos de tranquilidade duraram pouco.
No dia 30 de Julho de 1955, Mary McLaughli foi atacada enquanto regressava a casa. A jovem foi surpreendida por trás, ameaçada com uma faca e levada para um rua escura. O agressor ameaçou cortar-lhe a garganta caso não cooperasse. Mary, para sobreviver à situação, fez o que lhe mandaram e não resistiu. No entanto, repentinamente, Peter Manuel mudou a sua atitude. Tendo atingido o clímax, ficou mais calmo e deixou de agredir Mary com violência. A jovem, inteligente e habilmente, conseguiu persuadi-lo em deixá-la ir embora sem consequências.
Apesar do seu argumento, Mary foi directamente à Polícia e fez queixa de Peter Manuel. Tinha visto bem o seu agressor e conhecia-o. Sabia de quem se tratava.
O homem foi detido e o seu julgamento foi marcado. Peter Manuel decidiu representar-se a si próprio e, frente ao Juiz, alegou ser namorado de Mary. A jovem estava muito zangada com ele e tinha feito a queixa para o castigar. Basicamente, aquilo não passava de uma palhaçada sem fundamento.
A verdade é que Peter Manuel não foi condenado. O júri considerou não existirem provas suficientes contra o homem e este saiu em liberdade.
Esta falta de consequências enalteceu ainda mais a arrogância e confiança de Peter fazendo escalar, ainda mais, o seu crime seguinte.
Anne Kneilands, de 17 anos, desapareceu no dia 1 de Janeiro de 1956. A jovem vivia com os Pais em East Kilbride e, naquela noite, saiu para um baile em Blantyre a cerca de 7km da sua casa. Anne nunca mais foi vista com vida.
O seu cadáver foi descoberto 3 dias depois. Anne encontrava-se numa vala, num campo de golfe. No regresso a casa, Anne cruzou-se com o seu assassino. Foi perseguida até que o homem conseguiu imobilizá-la, espetando-lhe um objecto afiado no crânio. Anne foi brutalmente atacada. No local, as autoridades encontraram vestígios de sangue, ossos e massa cinzenta espalhados em torno do corpo.

Peter Manuel, na altura com 28 anos, foi interrogado acerca do homicídio de Anne Kneilands. À data, trabalhava na Gas Board, nas redondezas do percurso de Anne e, devido ao seu cadastro, a Polícia investigou os seus movimentos daquela noite.
O homem apresentava várias escoriações no rosto mas alegou ter-se envolvido numa luta num bar. Para mais, o seu Pai deu-lhe um álibi. Samuel afirmou que, naquela noite, Peter não tinha saído de casa. Mas foi mais longe. Samuel queimou as roupas que Peter trazia naquele dia. Chegou a casa de madrugada com a sua indumentária cheia de sangue. O seu Pai resolveu rapidamente a questão e colocou um ponto final no assunto.
A atrocidade seguinte, deu-se cerca de 9 meses depois.
William Watt encontrava-se ausente da sua casa, do nr. 5 da Fennsbank Avenue. Foi para Lochgilphead para umas pequenas férias dedicadas à pesca. Para trás, ficaram a sua esposa, filha e cunhada. Marion Watt de 45 anos, Vivianne de 17 anos e a irmã de Marion, Margaret Brown de 41 anos.
Foi
no dia 16 de Setembro de 1956 que as três mulheres foram brutalmente
assassinadas. Marion foi atingida com uma bala na cabeça. A sua camisa
de dormir estava puxada para cima. Margaret foi baleada no torso e na
cabeça. Os calções que vestia foram rasgados. Vivianne ficou para
último. A jovem lutou bastante com o seu agressor mas foi espancada e
posteriormente alvejada. Não teve morte imediata. Vivianne ficou em
agonia até à manhã seguinte. O seu corpo foi encontrado com o pijama
rasgado.
Os seus cadáveres foram descobertos na manhã seguinte, quando a empregada da casa, chegou para trabalhar.
Após uma vistoria ao local, as Autoridades conseguiram concluir que se tratava de em revólver de calibre 38. Para mais, determinaram que o homem, após cometer estes assassinatos, fumou um cigarro calmamente. Depois, atirou a beata para o chão, apagou-a com o pé e só depois abandonou o local.
Sem mais suspeitos, a Polícia não tardou a deter William Watt. O homem encontrava-se a mais de 300 km de distância mas as autoridades consideraram possível que tivesse viajado durante a noite, cometido os homicídios e regressado ao Hotel Cairnbaan, onde se encontrava hospedado. Era um homem de sucesso que cuidava bem da sua Família mas também estava claro de que se tratava de um mulherengo. Talvez quisesse desfazer-se das suas responsabilidades familiares. Após a detenção foi enviado para a Prisão de Barlinnie.
Paralelamente, Peter Manuel foi também preso por mais uma invasão a uma residência. Foi apanhado e sentenciado a cumprir a sua pena na mesma prisão que William.
Peter Manuel não deixou que outro ficasse com os louros dos assassinatos de Marion, Vivianne e Margaret. Escreveu várias cartas ao Advogado de William a contar pormenores dos acontecimentos. Pormenores que apenas a Polícia e o Assassino tinham conhecimento.
Após 2 meses da sua detenção, William Watt acabou por ser libertado, sendo que não existiam provas suficientes para uma eventual condenação. Eventualmente, Peter e William agendaram um encontro através do advogado deste último. Alegadamente, nesse encontro, Peter confessou os assassinatos mas, mesmo com o testemunho de William contra Peter, não existiam provas suficientes para deslindar o caso.
Existe ainda quem considere que William Watt encomendou as mortes da sua Família a Peter Manuel, ainda que nada tenha ficado provado. Um dos exemplos é o Livro The Long Drop, de Denise Mina.
Isabelle Cooke, de 17 anos, tinha encontro marcado na noite de 28 de Dezembro de 1957. Ficou de encontrar-se com o seu namorado, Douglas Bryden, para irem ao baile da Escola Uddingston. Saiu da sua casa em Mount Vernon, na orla da cidade de Glasgow para se encontrar com Douglas na paragem de autocarros. Não chegou ao encontro e nunca mais foi vista com vida.
Na manhã seguinte, ainda não tendo regressado a casa, os seus Pais reportaram o seu desaparecimento. A Polícia encontrou a sua roupa interior largada numa parte do seu percurso mas não existiam vestígios de Isabelle.
No dia 31 de Dezembro de 1957, Peter encontrou-se com o Pai e Irmão num bar em Glasgow. Beberam uns copos durante algum tempo e depois dirigiram-se para casa para comemorarem a passagem do ano. Pelas 4 ou 5 da manhã, quando já todos se encontravam a dormir, Peter levantou-se e foi ao encontro do seu último e horrífico crime.
Fez um percurso de menos de 10 minutos a pé e invadiu a casa da Família Smart.
Peter e Doris foram alvejados fatalmente enquanto dormiam na sua casa. Michael, de apenas 11 anos, teve o mesmo fim que os seus Pais, sendo morto a tiro, ainda deitado na cama.
Após os assassinatos, Peter entrou e saiu da casa dos Smart, várias vezes, durante quase uma semana. Comeu o que estava na mesa ainda posta devido às celebrações da época, deitou-se no sofá a ver televisão e foi alimentando o gato da Família. Quando saía levava o carro de Peter Smart e, numa ocasião, chegou a dar boleia a um Polícia que investigava a desaparecimento de Isabelle Cooke. Ainda chegou a dizer-lhe que, provavelmente, estavam à procura do cadáver da jovem nos locais errados.
Foi um vizinho dos Smart que, no dia 6 de Janeiro, lhes bateu à porta. Queria brincar com Michael. Sabia que os Smart tinham viajado para a passagem do ano mas já era suposto estarem de regresso. Quando ninguém lhe abriu a porta, a criança regressou a casa e fez referência à sua Mãe. Foi esta mulher que, ao espreitar para dentro da residência, fez a terrível descoberta.
Os Smart, realmente, deviam ter viajado para a passagem do ano mas, à última da hora, mudaram de ideias. Decidiram ficar no conforto e segurança da sua casa, local onde foram fatalmente agredidos de forma gratuita.
Peter Smart, uns dias antes do seu assassinato, foi ao Banco levantar dinheiro. Foram-lhe dadas notas novas com os números seguidos. Foi essa a pista que as Autoridades seguiram.
As notas começaram a aparecer nos pubs de Glasgow e os barmen interrogados apontavam sempre para Peter Manuel.
No dia 12 de Janeiro de 1958, a residência dos Manuel ficou sob vigilância policial e, dois dias depois, a casa foi revistada. Peter Manuel foi detido sob as acusações de roubo, sendo que encontraram vários objectos roubados no interior da residência. O Pai de Peter, Samuel, alegou ter sido ele a executar os assaltos numa tentativa de salvar o seu Filho. Neste seguimento, também ele foi levado para a prisão.
Após 24 horas fechado numa cela sozinho, Peter Manuel concordou em falar caso o deixassem ver os seus Pais e
soltassem Samuel que estava inocente. Aliás, concordou em confessar tudo
mas a sua Família tinha que ser ilibada de quaisquer crimes. Assim foi. Após ver os seus Pais, Peter Manuel confessou, por escrito, alguns dos seus crimes.
Admitiu ter assassinado Anne Kneilands, Isabelle Cooke, a Família Watt e a Família Smart. Indicou ainda onde podiam encontrar o cadáver de Isabelle. A jovem foi enterrada entre a sua casa e a paragem de autocarros.
O seu julgamento teve início no dia 12 de Maio de 1958. Poucos dias depois, Peter dispensou o seu Advogado e, uma vez mais, representou-se a si próprio. Já tinha tido sucesso uma vez e, talvez, conseguisse novamente a mesma proeza. Apesar das suas confissões e de ter indicado a localização do corpo de Isabelle, Peter declarou-se inocente. Escolheu sentar-se no bando das testemunhas nos dias 25 e 26 de Maio. Ali falou e argumentou acerca da sua inocência.
No dia 29 de Junho de 1958, após pouco mais de 2 horas de deliberações, Peter Manuel foi considerado culpado por todas as acusações, com excepção do assassinato de Anne Kneilands, por falta de provas.
A sua execução por enforcamento teve lugar no dia 11 de Julho de 1958, às 8h01, na Prisão de Barlinnie em Glasgow.
Existiu ainda a morte de Sydney Dunn, um taxista de 36 anos.
No dia 8 de Dezembro de 1957, o homem aguardava por clientes à porta da estação de Newcastle. Foi visto a arrancar com um passageiro no interior da viatura. O seu táxi foi encontrado abandonado no dia seguinte. O cadáver de Dunn estava a poucos metros do carro. Tinha a garganta cortada e um tiro na cabeça. Como a bala foi encontrada apenas durante a autópsia, na altura da descoberta de Dunn, considerou-se que o homem tinha cometido suicídio.
À data, Peter Manuel estava na cidade para um entrevista de emprego, no entanto, nunca admitiu o crime. Só após a sua sentença cumprida é que a morte de Dunn foi considerada homicídio pelas mãos do serial killer.
