Stephen Port

05/04/2024

Foi em 2015, com a descoberta do cadáver de um jovem, que um historial começou a ser revelado. O criminoso era Stephen Port e a sua história começava 40 anos antes.

Anthony Walgate, Gabriel Cavari, Jack Taylor, Daniel Whitworth
Anthony Walgate, Gabriel Cavari, Jack Taylor, Daniel Whitworth


Stephen Port nasceu em Southen-on-Sea, no dia 22 de Fevereiro de 1975. Um ano após o seu nascimento, os seus Pais mudaram-se para Dagenham, em Essex. Tratava-se de uma Família humilde mas trabalhadora, pertencente à classe média baixa da cidade.

O pequeno Stephen era conhecido por ser um solitário, extremamente introvertido e com poucas capacidades sociais. Na escola chegaram a pensar que se tratava de um menino surdo pois nunca o tinham visto a proferir uma palavra. Após terminar o secundário, ingressou para uma escola de arte, contudo, rapidamente teve que desistir do curso, pois a sua Família não conseguia suportar as propinas. Viu-se obrigado a escolher outro percurso profissional, tendo então decidido pela escola de culinária a fim de se tornar um chef.

Contudo, Stephen era um jovem frustrado. Sabia ter talento para as artes mas, devido às finanças da Família, não tinha conseguido explorar os seus dons ou fazer deles um modo de vida.

Em 2005, com 30 anos, saiu da casa dos seus Pais e mudou-se para um apartamento na Rua Cooke, em Barking.

Ryan Edwards também tinha acabado de se mudar para aquela rua, ficando vizinho de Port. Não conhecendo ninguém na cidade e também ele um homem gay, rapidamente se apresentou a Port. Reparou que se tratava de um homem introvertido, de poucas palavras e que não conseguia encarar as pessoas quando falava com elas. Não as olhava nos olhos, sempre falando com a cabeça baixa. Apercebeu-se também que Stephen Port fazia-se rodear de brinquedos, frequentemente brincando com carrinhos como se de um menino de 5 anos se tratasse. Edwards sabia que o seu vizinho era esquisito mas considerou-o inofensivo.

A sua falta de capacidade de se socializar fez com que Stephen se virasse para o mundo virtual. Era-lhe muito mais fácil tentar conhecer homens online do que propriamente em bares em que era notória a sua personalidade incomum.
Criou várias personagens em várias aplicações de encontros e redes sociais. Num perfil era militar, noutro era um recém graduado da Universidade de Oxford, noutro um Professor de Crianças com necessidades especiais e por aí fora. As fotos que utilizava eram do próprio, no entanto, datavam de muitos anos antes.

Port aguçou o seu gosto por homens mais novos, de preferência, entre os 18 e os 24 anos e teve inúmeros encontros com vários pretendentes.



Ryan Edwards privou com alguns dos jovens que mantiveram uma relação com Stephen. Nunca ouviu uma palavra agradável acerca do seu vizinho. Os rapazes queixavam-se que Port era demasiado argumentativo, manipulador, controlador e, muitas vezes, emocionalmente abusivo. As suas relações, pouco duravam.

Edwards, contudo, não conhecia essa faceta de Port. Tinha-o como um homem infantil, introvertido, esquisito e inofensivo.

Mas Stephen Port evoluiu. A sua personalidade começou a ficar cada vez mais volátil, mergulhando num hábito de festas, de sexo fácil e de abuso de drogas. Ryan Edwards apercebeu-se na mudança de hábitos do seu vizinho. Numa visita a casa de Stephen, reparou na quantidade de drogas na mesa da sala. Vários sacos de cocaína e heroína e dezenas de frascos de ecstasy. Decidiu dar um passo atrás e afastar-se daquela realidade que não queria conhecer melhor. Foi uma das últimas vezes que privou com Stephen.

À medida que uma relação amorosa acabava e outra começava, a violência e abusos de Stephen eram cada vez maiores. Quanto mais consumia drogas, maior o seu apetite por rapazes mais novos e mais desesperado ficava para colocar em prática os seus fetiches sexuais. A evolução do seu comportamento estava cada vez mais fora de controlo e, eventualmente, ia ter resultados fatais.

No dia 15 de Junho de 2014, Stephen iniciou contacto com Anthony Walgate, de 23 anos. Anthony era um estudante de moda e foi contactado por Port através de um site de acompanhantes masculinos. Port prometeu pagar-lhe quase 900 euros (800 libras) para passarem a noite juntos. Concordaram em encontrar-se dois dias depois, no dia 17 de Junho.
Por precaução, Anthony enviou mensagens de texto a alguns amigos a informar do seu encontro. Porém, os amigos nada podiam ter feito para o salvar.

No dia 19 de Junho, a linha de emergência recebeu uma chamada. Tratava-se de Stephen Port a reportar que tinha encontrado um jovem, caído, perto do seu apartamento. O rapaz estava a ter convulsões e parecia embriagado.
Os paramédicos chegaram ao local encontrando Anthony Walgate inanimado, junto a uma parede. Ao seu lado encontrava-se um saco e, no seu interior, as equipas encontraram um frasco de GHD.
Lamentavelmente, já nada havia a fazer por Walgate. O rapaz tinha padecido, muito provavelmente, devido a uma overdose acidental com GHD.

A Mãe de Anthony tinha viajado por uns dias, regressando a casa e ligando o seu telemóvel, apenas no dia 22 de Junho. Tinha centenas de mensagens e chamadas perdidas. Só nesse dia, 3 dias após a morte de Anthony, é que Sarah Sak soube do sucedido.

Apesar do sofrimento e da espécie de névoa que viveu durante aqueles dias, Sarah insistiu com as autoridades. Anthony jamais ia tomar aquela droga. Principalmente, tratando-se de uma fármaco utilizando para violações. Para além disso, o seu Filho tinha avisado os amigos acerca do encontro que tinha marcado através de um site. O compromisso tinha sido marcado para dia 17 de Junho, 2 dias antes da descoberta de Walgate no meio da rua. Não podia ser apenas uma coincidência.

As autoridades depressa concluíram que o encontro era com Stephen Port, o homem que fez a chamada para salvar o jovem e que aguardou no local pelas equipas de emergência.




No dia 26 de Junho de 2014, Stephen Port foi detido por suspeitas no envolvimento da morte de Anthony Walgate, de apenas 23 anos.


Stephen contou ter-se encontrado com o rapaz no seu apartamento e, após terem tomado algumas drogas e terem tido sexo, ambos adormeceram. No dia seguinte, saiu para trabalhar e, ao chegar a casa, deparou-se com o rapaz morto no seu apartamento. Em pânico, sem saber o que fazer ou como explicar o cenário, arrastou o cadáver de Walgate para a porta do prédio e fez a chamada para as urgências. A Polícia acreditou na sua versão e libertou Stephen Port sob a acusação de perturbação da justiça. O julgamento ficou agendado para Março de 2015.

Surpreendentemente, e apesar das autoridades terem recolhido o portátil de Port, a Polícia não aprofundou os seus conteúdos, nomeadamente, as suas pesquisas na internet.

Apenas 2 meses após a morte de Anthony, Stephen Port voltou a estar activo nas aplicações de encontros. Foi através da Gridr, uma app de encontros entre homens, que Port iniciou o contacto com Gabriel Kovari. 

Gabriel era um jovem eslovaco de apenas 22 anos que se tinha mudado para Londres recentemente. A relação entre ambos evoluiu de tal maneira que Gabriel Kovari, no dia 22 de Agosto de 2014, mudou-se para o apartamento de Stephen.

Numa ocasião em que o casal visitou a casa de Ryan Edwards e, durante uma escassa ausência de Port, Gabriel fez-lhe algumas confidencias. Disse-lhe que Port não era quem parecia ser. Era um homem assustador, um homem verdadeiramente mau. O vizinho não soube o que lhe responder, aconselhando-o apenas a sair da relação, caso não estivesse feliz. Mas, apesar do conselho, Gabriel foi ficando.
Ryan considerou que este jovem era diferente dos outros amantes do vizinho. Tratava-se de
um jovem forte, com ideias próprias e pouco influenciável. Mantiveram contacto frequente mas durante poucos dias. As mensagens por parte de Gabriel cessaram repentinamente.

Ryan confrontou Stephen acerca do silêncio de Gabriel e obteve várias respostas. Primeiro, Stephen informou-o que Gabriel tinha desaparecido e que também ele estava muito preocupado. Depois, contou que Gabriel tinha conhecido um militar e tinha saído do país com o novo amante. Posteriormente, disse-lhe que Gabriel tinha regressado à Eslováquia, tinha apanhado uma doença esquisita e tinha falecido.

No dia 28 de Agosto de 2014, apenas 5 dias após mudar-se para o apartamento de Stephen, Gabriel Kovari foi encontrado morto junto a um muro do cemitério de St. Margaret, em Barking, no leste de Londres.

Gabriel Kovari tinha ido para Inglaterra para vencer, para construir um futuro para si próprio, no entanto, no caminho, cruzou-se com um homem mau, doente, perverso que traçou o seu destino sem piedade.

À primeira vista, tratava-se de mais um caso de overdose mas a realidade estava longe dessa perspectiva.


No espaço de 2 meses, Stephen Port cometeu dois assassinatos e saiu impune com os seus actos. Não havia por que razão parar. E não tardou para que mais uma vida fosse ceifada. Menos de um mês após a morte de Kovari, foi feita a descoberta de mais um cadáver.

Daniel Whitworth, de 21 anos, também era utilizador de sites de encontros. Foi no dia 18 de Setembro de 2014 que concordou em encontrar-se com Port. Dois depois, o seu cadáver foi descoberto junto ao cemitério da igreja, exactamente no mesmo local onde Kovari foi abandonado. Extraordinariamente, a mulher que, enquanto passeava o seu cão tinha descoberto Kovari, também descobriu Whitworth. Exactamente no mesmo sítio e exactamente na mesma posição.

Daniel Whitworth foi considerado mais uma vítima da droga de GHB. Contudo, tinha uma carta de suicídio ao lado do seu corpo. Ali confessava ter matado Gabriel, apenas 3 semanas antes.

Foi no dia 20, dois dias após a sua morte, que a Polícia bateu à porta da casa de Daniel. Foi a sua madrasta, Mandy Pearson e o Pai do rapaz, Adam, que receberam a notícia. Eventualmente leram a carta de suicídio e, para além de não ser a letra de Daniel, o seu conteúdo não fazia qualquer sentido. Não referia nomes e era completamente evasiva.

A notícia das mortes dos 3 rapazes chegou à comunidade LGBT. Foi John Pape, um amigo de Kovari, que contactou a Organização de Direitos Humanos e que fez o alarido suficiente para chamar a devida atenção ao assunto. Interpelaram várias vezes a Polícia mas, as suas tentativas de chamar a atenção de que algo de muito sinistro se passava na cidade, foram ignoradas.

No dia 23 de Março de 2015, Stephen Port deu-se como culpado por perturbar o curso da justiça durante a investigação na morte de Anthony Walgate. Foi condenado a 8 meses de prisão, porém, cumpriu apenas 2. Foi libertado no dia 4 de Junho de 2015. ficando novamente livre para matar.

Apenas 3 meses após ser libertado, o assassino voltou a atacar. No dia 13 de Setembro de 2015, Jack Taylor de 25 anos, foi ao encontro de Stephen com quem trocava mensagens há já algum tempo através de uma aplicação de encontros. Nunca mais foi visto com vida.

Dois dias após a sua Família ter reportado o desaparecimento do jovem, receberam a notícia que receavam. Jack tinha sido encontrado sem vida, junto a um muro do cemitério de St. Margaret, em Barking, no leste de Londres. O jovem tinha morrido devido a uma overdose e ao lado do seu cadáver estava uma parafernália de drogas, incluindo um frasco de GHB. A Família de Jack não se conformou com a explicação até porque Jack era antidrogas.

Pressionados pela Família e pela repetição dos acontecimentos, os Agentes da Polícia investigaram os último passos de Jack. Através das câmaras de vigilância, conseguiram ver o jovem que se fazia acompanhar de outro homem. Era um homem alto e loiro mas não conseguiam fazer uma correspondência à identidade do suspeito. 

Reveladas as imagens ao público, não tardaram a identificar o homem misterioso. Tratava-se de Stephen Port, um chef local.


Imagens das Câmaras de Vigilância
Imagens das Câmaras de Vigilância


No dia 15 de Outubro de 2015, Stephen Port foi detido por suspeitas dos homicídios dos 4 jovens. Tratavam-se de Anthony Walgate, Gabriel Kovari, Daniel Whitworth e Jack Taylor.

O portátil do suspeito foi uma vez mais apreendido juntamente com o seu telemóvel. Desta vez, investigaram o seu histórico que incluía "rapaz, droga, violar". Para além disso, o pc continha vídeos de Stephen a violar rapazes inconscientes.

Sob interrogatório, admitiu ter conhecido Daniel Whitworth numa festa de sexo mas nada sabia acerca da sua morte. 

Stephen Port era um homem composto por várias camadas. Infantil e tímido, esquisito e socialmente bizarro, perverso e vil. A sua personalidade adaptava-se às circunstâncias e, naquele momento, apresentava apenas a sua fachada de infantil e tímido.

Apesar de não assumir os crimes, três dias após a sua detenção, Stephen Port foi acusado pelos homicídios dos 4 jovens.

Segundo Mandy Pearson, a madrasta de Daniel, por um lado, foi um alívio saber que o seu enteado não tinha tirado a sua própria vida. Era sinal de que Daniel não vivia num sítio escuro ao ponto de querer suicidar-se. Daniel era o que transparecia, um jovem feliz. Por outro lado, a revolta por saber que alguém se sentiu no direito de lhe ceifar a vida, não era justo.

Sarah Sak, a Mãe de Anthony Walgate, segundo o seu testemunho, não sentiu qualquer tipo de alívio. A sua dor era tão grande que não conseguiu sentir nada de positivo, mesmo sabendo o motivo da morte do seu Filho.

Já para as Irmãs de Jack Taylor, Jen e Donna, foi o comprovar do que sempre souberam. Jack jamais se drogaria, muito menos, ao ponto de tirar a sua própria vida com excesso de drogas. Jamais.

Após a detenção de Stephen, os jornais encheram-se de manchetes com os acontecimentos.

Ryan Edwards, o vizinho de Port, ficou com o sangue gelado ao ler as notícias, principalmente, quando leu o nome de Gabriel Kovari entre as vítimas. 

Nas semanas seguintes, vários homens deram a cara e os seus testemunhos, alegando terem sido drogados e violados no apartamento de Port, após terem marcado encontro através das aplicações para o efeito.

Calculou-se que, os jovens que conseguia atrair para junto de si, o rejeitavam de imediato. Stephen usava fotografias suas bem anteriores aos acontecimentos. Nas fotos parecia mais jovem, mais esbelto, mais em forma. Na verdade, os anos tinham danificado o seu físico.


Em Julho de 2016, a adicionar às acusações anteriores, Stephen Port foi acusado de violar 8 homens entre 2012 e Outubro de 2015, mês em que foi, finalmente, capturado.

No primeiro dia do seu julgamento, a 5 de Outubro de 2016, Port ouviu as acusações contra si. Passavam por homicídio, violação, agressão sexual, administração de drogas intencional, entre outros. Declarou-se inocente.


Ryan Edwards, o vizinho do assassino, aceitou testemunhar contra Port.


No dia 25 de Novembro de 2016, Stephen Port foi considerado culpado por 22 crimes. Incluía 4 violações, 4 homicídios, 4 agressões sexuais e 10 crimes de administrações de drogas com intenção. Foi condenado a prisão perpétua e foi imediatamente enclausurado na Prisão de Belmarsh. Nunca será libertado.

A Polícia Inglesa, após a detenção de Port, reabriu 58 casos de mortes relacionadas com a droga GHD.

Stephen Port
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